O Amazonas, com 792, é o segundo Estado com maior quantidade de áreas de risco (29,4%), depois do Pará, com 1.113 (41,3%). No Amazonas, há riscos em 57 dos 62 municípios.

O levantamento, resultado de 13 anos de pesquisas de campo e análises entre 2012 e 2024, mostra que a capital amazonense possui entre 360 e 380 áreas classificadas como de risco alto ou muito alto, onde vivem mais de 112 mil pessoas.
O estudo revela que a ocupação desordenada, os solos frágeis e a deficiência da drenagem urbana fazem de Manaus uma das capitais mais expostas a desastres naturais do país.
Nas zonas norte e leste, moradias sobre encostas e escarpas fluviais instáveis aumentam o risco de desabamentos, enquanto voçorocas e erosões laminares avançam sobre ruas e casas periféricas.
A cheia do Rio Negro se repete anualmente. Nos bairros, passarelas de madeira e marombas — plataformas internas erguidas dentro das casas — demonstram a adaptação das famílias, mas também a ausência de políticas públicas efetivas.

Outro alerta é o fenômeno de subsidência, o afundamento gradual do solo, já identificado em diversos pontos da capital.
A combinação desses fatores, somada à impermeabilização do solo e à ausência de planejamento urbano, transforma Manaus em uma cidade de alta vulnerabilidade urbana.
Por isso, o estudo do Serviço Geológico do Brasil é, ao mesmo tempo, um alerta técnico e político. Ele reforça a necessidade de ações, com investimentos em monitoramento, educação ambiental e controle da expansão urbana.
Para 2026, a Prefeitura de Manaus estima investir R$ 7,5 milhões em ações de monitoramento, prevenção e resposta a desastres. No entanto, especialistas avaliam que o montante é insuficiente diante da gravidade e da extensão dos riscos.
Mais do que números e mapas, o atlas mostra que o risco é real, crescente e tem endereço conhecido.
Amazonas em situação crítica
O Amazonas é o segundo Estado com mais riscos geológicos e hidrológicos na Amazônia Legal. Segundo o estudo do SGB/CPRM, todas as 62 cidades do estado foram avaliadas, e 57 delas apresentam áreas classificadas como de alto ou muito alto risco.
O estado responde por 29,4% das áreas de risco da Amazônia Legal — ficando atrás apenas do Pará (41,3%). São 792 setores de risco no Estado.
O levantamento mostra que 1,47 milhão de pessoas vivem em situação de risco na região, sendo mais de 5% da população amazonense afetada por algum tipo de ameaça natural.
Enchentes e “terras caídas” desafiam o interior
As enchentes anuais continuam sendo um dos maiores desafios dos municípios do interior. O estudo aponta que as cheias do Rio Negro e do Rio Solimões, entre abril e julho, atingem com força localidades como Anamã, Coari, Envira, Iranduba, Manacapuru e Maraã.
Em 2021 e 2025, Iranduba e Envira registraram episódios graves de transbordamentos que destruíram plantações, isolaram bairros e afetaram centenas de famílias.
O atlas explica que a elevação das águas é natural, mas torna-se um desastre devido à ocupação irregular das planícies de inundação e à falta de infraestrutura adequada.
Outro fenômeno de destaque são as “terras caídas” e a erosão das margens fluviais, que atingem fortemente Maraã, Carauari, Iranduba e Boca do Acre. Em Boca do Acre, o problema levou à decretação de emergência em 2021, após o colapso de áreas urbanas próximas ao rio.
Risco social amplia os impactos
O atlas também faz um alerta social: as áreas mais afetadas por deslizamentos, erosões e inundações são justamente aquelas com maior vulnerabilidade econômica. A falta de infraestrutura, moradias improvisadas e dependência direta dos rios mantêm milhares de famílias expostas a desastres.
O SGB destaca que sem planejamento territorial integrado, as medidas emergenciais continuarão sendo paliativas. O uso de mapas de risco e suscetibilidade é essencial para orientar novas ocupações e impedir construções em zonas críticas.
Adaptação cultural não substitui gestão pública
O estudo reconhece a resiliência das populações ribeirinhas, que desenvolvem soluções próprias como palafitas, hortas flutuantes e deslocamentos temporários durante as cheias.
No entanto, alerta que essas práticas não substituem políticas estruturais e, em alguns casos, podem aumentar o risco ao concentrar famílias em áreas frágeis.
Em cidades como Manacapuru e Coari, essas soluções refletem a força da cultura amazônica, mas também a ausência de ações preventivas duradouras.
Um alerta que exige resposta imediata
Mesmo após mais de uma década de estudos, mais da metade dos municípios amazônicos ainda não possui mapeamento completo de risco. Essa lacuna mantém milhões de pessoas expostas a eventos que se repetem ano após ano e que poderiam ser evitados com planejamento adequado.
No caso do Amazonas, o desafio é proteger vidas e promover o desenvolvimento sustentável em um território onde o meio ambiente e a ocupação humana seguem em constante conflito.
Confira o estudo completo:


