
As buscas pelos indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips entram no sétimo dia neste domingo (12). A força-tarefa segue vasculhando áreas próximas à comunidade São Rafael, de onde a dupla partiu e o trecho que compreende o percurso que Bruno e Dom deveriam ter feito para chegar em Atalaia do Norte.
A busca agora ganha o reforço de mais uma tecnologia, o consórcio MapBiomas, formado por ONGs, universidades e empresas de tecnologia, criou um aplicativo com imagens de alta resolução do Vale do Javari, no Amazonas, para ajudar nas buscas pelos desaparecidos desde domingo (5).
A ideia é formar um mutirão para vasculhar imagens de satélites da região onde os dois desapareceram.
O mapa interativo é atualizado a todo instante, com novas imagens. Entre as que subirão nas próximas horas, está o material feito, na quinta-feira (10), pelo radar da Capella Space, que enxerga entre as nuvens. Além da Capella, a Planet e a SCCON cederam as imagens.
Qualquer pessoa pode acessar o aplicativo e, ao encontrar algo que chame a atenção, pode informar as coordenadas que aparecem no mapa pelo email contato@mapbiomas.org com o título Buscas Bruno e Dom. As informações serão organizadas e repassadas para os órgãos de investigação que operam no caso.
Os próximos passos:
- De acordo com decisão judicial, o governo federal deverá apresentar até a próxima quarta-feira (15) um relatório sigiloso ao STF com informações sobre todas as providências adotadas em relação ao caso, após determinação do ministro Barroso;
- Nesta semana também pode haver desdobramentos sobre o material orgânico “aparentemente humano” encontrado próximo ao porto de Atalaia do Norte e o sangue detectado pela perícia na lancha de Amarildo da Costa de Oliveira, preso durante as investigações. Na quinta-feira (9), o delegado Alex Perez, responsável pelas investigações, afirmou que o “laudo [sobre o sangue encontrado na embarcação] sairá em tempo hábil”. Além disso, na sexta (10), as autoridades recolheram materiais genéticos junto às famílias dos desaparecidos para serem utilizados como referências.
- Nos próximos dias, a equipe de investigação também deverá concluir o que motivou a escavação em um barranco, às margens do rio Rio Itaquaí, onde Bruno Pereira e Dom Philips foram vistos navegando, e se isso possui relação com os desaparecimentos. A cavação foi encontra por equipes que realizam buscas na região da comunidade Cachoeira.
- Ainda segundo a equipe de investigações, novas testemunhas deverão prestar depoimento às autoridades.
Cronologia das buscas:
Domingo (5)
Por volta das 6h, Bruno e Phillips visitam a comunidade São Rafael, e são vistos pela última vez. Na ocasião, eles conversaram com a esposa do líder comunitário apelidado de “Churrasco”, e partiram rumo à sede de Atalaia do Norte, uma viagem que dura aproximadamente duas horas. No entanto, os dois não chegaram ao destino.
De acordo com a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), os membros da entidade iniciaram ainda no mesmo dia, apenas com o auxílio de alguns policiais militares locais e uma equipe da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Segunda-feira (6)
No segundo dia de buscas, o governo do Amazonas anuncia uma força-tarefa para apoiar a procura pelo indigenista e o jornalista, sem detalhar o efetivo que passaria a ser empregado na ação.
Na mesma data, a Polícia Federal (PF) se limitou a dizer que estava apurando o caso, mas não divulgou o número de agentes que participaria da investigação.
No inicio da tarde, o Comando Militar da Amazônia (CMA) do Exército Brasileiro (EB) informa, por meio de nota, que “tinha condições de cumprir a missão humanitária de buscas e salvamento” dos dois desaparecidos, mas afirma que as ações só teriam início após “acionamento por parte do Escalão Superior”.
Após repercussão negativa, o CMA volta atrás e divulga um novo comunicado, desta vez para informar que militares do 8º Batalhão de Infantaria na Selva, de Tabatinga, município vizinho, já procurava pelos dois tanto em rios da região quanto em terra.
Terça-feira (7)
Passados mais de 48 horas desde o desaparecimento, o EB informa que 150 militares já estavam participando das buscas, e divulga as primeiras imagens de soldados atuando em Atalia do Norte.
No mesmo dia, a Funai anuncia a ampliação da operação com mais 15 servidores da fundação e da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), sob a coordenação do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Também na terça (7), a Marinha informa que sete militares com auxílio de uma lancha estavam atuando nas atividades de busca, com um helicóptero do 1º Esquadrão de Emprego Geral do Noroeste foi usado, além de outras duas embarcações e uma moto aquática.
No mesmo dia, entidades indígenas divulgam nota criticando a atuação do governo federal e cobrando celeridade em torno das buscas.
Quarta-feira (8)
A PF realiza, em Manaus, o primeiro balanço em torno do caso. Na ocasião, o superintendente da instituição no Amazonas, Alexandre Fontes, declara que nenhuma linha de investigação em torno do desaparecimento do indigenista e do jornalista está descartada, incluindo a hipótese de homicídio.
Ele também afirma que 250 agentes federais e do estado estão na região de Atalaia do Norte participando das buscas, mas não detalha o quantitativo de cada órgão envolvido na operação. Duas aeronaves, três drones e 20 viaturas foram deslocadas ao município para prestar apoio às investigações.
A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) informa que peritos foram enviados a Atalaia do Norte para inspecionar o material apreendido com “Pelado”.
Quinta-feira (9)
Perícia chega ao município e detecta a presença de sangue em lancha de Amarildo. Além disso, mais duas pessoas são ouvidas pela Polícia Civil e também relatam que viram o suspeito em lancha que navegava atrás de desaparecidos.
Amarildo Costa passa por audiência de custódia, e tem prisão provisória de 30 dias decretada.
Sexta-feira (10)
O Ministério da Justiça e Segurança Pública autoriza o emprego da Força Nacional de Segurança Pública por 90 dias em apoio ao governo do Amazonas para a Operação Arpão I (Médio Solimões).
Entretanto, decisão cita apenas as ações de combate ao crime organizado, ao narcotráfico e aos crimes ambientais na calha do Rio Negro e Solimões , sem mencionar o desaparecimento de Bruno e Phillips.
Sábado (11)
O Corpo de Bombeiros descarta que a escavação encontrada às margens do rio Itaquaí, onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foram vistos pela última vez no domingo (5), tenha relação com o desaparecimento dos dois, na Amazônia.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) pede ao governo brasileiro que “redobre os esforços” e “esclareça as ações” tomadas para localizar o jornalista britânico Dom Phillips e pelo indigenista Bruno Pereira, desaparecidos no Vale do Javari.