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Dnit transfere administração da BR-319 para o Estado de Rondônia e amazonenses protestam

Associação dos Amigos e Defensores da rodovia programou uma grande manifestação em frente a superintendência do órgão em Manaus para cobrar explicações

Imagem registrada no último dia 18 pelos Amigos Motoqueiros, no grupo de WhatsApp da Associação dos Amigos e Defensores da BR-319

Uma grande manifestação marcada para a próxima segunda-feira (27), em frente ao Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT), na Avenida Djalma Batista, em Manaus, vai marcar o protesto dos amazonenses contra a decisão do órgão de colocar na esfera do Estado de Rondônia a administração da BR-319 (Manaus-Porto Velho), com mais de 80% da sua extensão no território do Amazonas.

O Dnit publicou nesta sexta-feira (24) uma Portaria com a decisão onde estabelece que do trecho 250 km, no Tupana, no município amazonense do Careiro Castanhom até Porto Velho, no km 720, será gerido pelo Denit de Rondônia.

“Mesmo que o referido trecho esteja localizado geograficamente dentro do Estado do Amazonas’, informa a portaria do órgão (leia abaixo).

A Superintendência do Dnit em Rondônia assumirá todas as competências antes na gestão no Amazonas, inclusive os contratos de recuperação da estrada, incluindo o lendário “Trecho do Meio”, 400 km da BR-319, alvo dos ambientalistas, e, assim como os atoleiros, continua atolado em dezenas de estudos de impactos ambientais avaliados pelo Instituto Brasileiro de Recursos Ambientais (Ibama), que já duram décadas.

Desde 1976, quando a estrada foi construída ligando o Brasil de Norte a Sul, que ela vem se deteriorando devido a manutenção precária. O abandono provocou imensos atoleiros deixando a estrada praticamente intransitável em alguns períodos do ano devido as chuvas, que aumentam o problema.

Somado a tudo isso, a estrada sofre com as investidas dos ambientalistas e ativistas, que a qualquer sinal de recuperação e repavimentação vira alvo de ataques e dezenas de estudos contrários a sua viabilidade, estratégica para a economia dos estados do Amazonas e Roraima, que seguem isolados do resto do país por via terrestre.

No pior momento da pademia de Covid-19, quando amazonenses morreram pela falta de oxigênio – a demanda passou de 18 mil metros cúbicos do produto consumido por dia para 80 mil – um comboio com sete carretas transportando oxigênio levou 5 dias para cruzar a estrada de Porto Velho até Manaus – um techo, que asfaltado, seria percorrido em até doze horas.

A falta da rodovia em boas condições também impacta o Polo Industrial de Manaus (PIM), assim como toda a cadeia produtiva da capital da Amazônia, que depende de fretes marítimos – duram em média 30 dias -, ou aéreo, infinitamente mais caro, e que faz com que produtos custem até o dobro dos comercializados em outras capitais brasileiras.

“Estamos chamando todo todo mundo, associados, a população em geral para comparecer na segunda-feira (27) na frente ao Dnit, em Manaus. Não vão transformar a estrada em uma rodovia fantasma”, avisa o presidente da Associação dos Amigos e Defensores da Br-319, André Marsílio.

A entidade reune perto de 10 mil associados que se comunicam em mais de 30 grupos de WhatsApp informando as condições de tráfego da rodovia, locais para reabastecimento dos veículos e pousandas e hotéis para os viajantes.

“É muito complicado isso. Passarem a responsabilidade da BR-319 para o Estado de Rondônia. Isso não acontece em em nenhum estado cuidar da rodovia federal de outro estado. Isso é um absurdo. Isso mostra a incompetência do órgão para a população. Agora fazer isso é colocar a estrada no abandono. Dizer que Rondônia vai cuidar da estrada é brincadeira”, desbafou Marsílio.

Atualmente a estrada está transitável com o período do verão amazônico e as empresas de ônibus Eucatur e Trans Brasil voltaram a trafegar com linhas regulares , entre as cidades de Lábrea e Manaus e Porto Velho – Manaus, apesar das péssimas condições do trecho entre o Tupana, no km 250 km, até Humaitá (km 600).

Os motoristas que se arriscam em cruzar a BR-319 sofrem com a quebra de peças e com a más condições do tempo no “trecho do meio”, de 400 km e tentam orientar pelo grupo de aplicativo da Associação quem pretende transitar na rodovia.

“Muita chuva no trecho do meio. O atoleiro grande tá complicado, carros grandes e pequenos atolados. Muita lama passando o Raimundo uns 5km até depois da toquinha uns 10km. Informações do Amigo Júnior do Grupo 18”, informava um associado ontem (24).

Em alguns trechos os veículos só passam pelos atoleiros puxados por tratores que trabalham na manutenção da rodovia e as viagens podem durar até um dia (veja o vídeo abaixo).

Saiba mais

Em dezembro do ano passado, o Diretor-geral do Dnit, general Santos Filho, e o diretor de Infraestrutura Rodoviária, Lucas Vissotto, sentiram na pele a experiência dos motoristas enfrentam as condições da BR-319.

Eles fizeram o trecho entre a capital amazonense e a cidade de Humaitá (AM) para acompanhar in loco o trabalho de manutenção ao longo da rodovia, numa visita técnica com o objetivo de melhorar a trafegabilidade da rodovia.

O Ministério dos Transportes está com um projeto para análise do Eia-Rima – estudos de impactos ambientais – no Ibama há mais de um ano. O projeto enviado pelo então ministro, Tarcísio de Freitas, contempla uma sustentabilidade da flora e da fauna no entorno da estrada e tem a pretensão de ser uma estrada modelo para atender as exigências dos ambientalistas.

O ex-ministro chegou a assinar a ordem de serviço para a manutenção do trecho do meio de 405 km, em Humaitá (AM) e prometer que a estrada seria repavimentada.

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