
O governo dos Estados Unidos – por meio do subsecretário de terrorismo e inteligência financeira do Tesouro dos EUA, Brian Nelson – disse na quinta-feira (18), que investiga a ligação da maior quadrilha de narcotráfico no Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e garimpeiros que atuam na Amazônia.
O anúncio foi feito após reuniões com autoridades de segurança brasileiras e representantes da sociedade civil em São Paulo, em que o subsecretário teria tido acesso a informações que trazem a conexão com o ouro retirado ilegalmente da região Amazônia com integrantes do PCC.
Em dezembro do ano passado, o presidente dos EUA, Joe Biden, impôs sanções financeiras ao PCC, que nasceu em uma prisão brasileira no início dos anos 90. Os EUA e os países da União Europeia juntos são os maiores consumidores de entorpecentes do mundo, segundo o Escritório das Nações Unidos Sobre Crime Global desde 2016.
Na Europa o PCC tem atuação ativa com o tráfico internacioal de cocaína. “Estamos focados na mineração ilegal de ouro porque ela pode tanto gerar recursos para outras atividades ilícitas, considerando o valor do ouro, quanto oferecer um meio para lavar os recursos ilícitos do narcotráfico”, disse o funcionário do governo americano a imprensa.
Ações realizadas neste ano, pela Polícia Federal, o Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado – Gaeco e pela Secretaria de Segurança Pública do Amazonas revelam que o desmatamento é a principal porta de entrada para as drogas e que o crime organizado está infiltrado ou já comandando dos garimpos da maior floresta do mundo – duplicando os lucros ao contrabandiar também o ouro local.
“Novo México” e PCC
Em outubro de 2020, em entrevista à Agência Pública, o delegado Elvis Secco, chefe da coordenadoria de repressão às drogas, armas e facções criminosas da PF em Brasília, declarou que a economia clandestina, baseada no comércio ilegal de drogas, representava uma ameaça real às instituições do país.

“Se não destruir financeiramente esses caras, isso aqui vira um México”, declarou Elvis, aludindo a ação dos cartéis das drogas que no México, como na Colômbia, corromperam políticos para facilitar seus negócios inescrupulosos.
Conforme Elvis Secco, organizações como o PCC se especializaram na lavagem de dinheiro da droga, interferindo na economia formal e invadindo o sistema político brasileiro.
O PCC é um dos grupos do crime organizado que atua fortemente na chamada Tríplice Fronteira, formada por Brasil, Colômbia e Peru, na área área dos rios Solimões e Javari.
A prisão do prefeito de Jutaí, Pedro Macario, “o Pedrinho”, pela Polícia Federal em julho deste ano, segue a linha traçada pelo delegado- ao apontar o envolvimento de políticos do Amazonas com o crime organizado, especialmente o narcotráfico, que associou sua rede de negócios na região do Rio Solimões com a extração ilegal de ouro e de outros ilícitos.
Segundo a PF, “Pedrinho” é acusado de cobrar propina de R$ 80 mil para permitir a mineração ilegal em Jutaí, e recebia o dinheiro em espécie ou em ouro. Em novembro de 2021, a PF havia flagrado “Pedrinho” com 257 gramas de ouro ilegal em Tefé.
Na ocasião, ele disse a PF que as gramas eram pertinentes a “pagamento de dívidas” de várias pessoas a ele.
Segundo as investigações, o total de dinheiro movimentado às margens da lei chegou a R$ 16 bilhões em dois anos. uma investigação comprovou que o ouro era de um garimpo ilegal, fincado no meio de uma unidade de conservação em Itaituba, no Pará. E tocado por uma organização criminosa.
A polícia chegou até eles, em investigações paralelas, que pareciam não ter conexão. Um braço é da PF em São Paulo, que investigava, em Jundiaí, a 55 quilômetros da capital, uma pista de pouso que servia ao tráfico de drogas. No aeroporto, a polícia descobriu que, além das drogas, os aviões também traziam ouro.
Amparo dos narcotraficantes
Em novembro do ano passado, garimpeiros no Rio Madeira, em Autazes, na Região Metropolitana de Manaus, ameaçaram revidar a ação de policiais caso tentassem retira-los do local.
As mensagens foram trocadas em um grupo de garimpeiros, logo após o vice-presidente, Hamilton Mourão, afirmar que a Marinha e a Polícia Federal iriam retirar as centenas de balsas instaladas na região.
“Temos tido vários informes de que, para proteger suas rotas, o narcotráfico, essas quadrilhas que agem no Centro-Sul do país, subiram para lá. O ouro extraído ilegalmente é um ativo que eles podem trocar por drogas”, afirmou o vice-presidente na época após informar que uma grande operação com a Marinha e a Polícia Federal está em andamento para retirar os garimpeiros do rio.
Piratas, delegados, militares e o ouro da Amazônia
Também no mês passado, um grupo de policiais militares do Amazonas em lanchas da Secretaria Executiva Adjunta de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-AM), foram presos por colegas de farda, no município de Maraã, a 640 km de Manaus.
Eles são suspeitos de assaltar e extorquir garimpeiros em vários municípios da região. Na época os policiais foram presos fardados e utilizando duas lanchas com o símbolo da SSP-AM, usando uma ordem de serviço falsa procurando justificar a presença na região.
“ A população avistou as lanchas da SSP com eles todos fardados e denunciaram. São eles que assaltavam os garimpos, tomavam ouro. Eles são assaltantes esses PMs”, disse um policial militar que participou da operação no dia.

Investigações apontaram que os policiais estão envolvidos com grupos de piratas de rio – traficantes de drogas.
A Justiça do Amazonas mantém preso o ex- chefe do setor de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), delegado Samir Freire por desvio de ouro.
A ação batizada de ‘Garimpo Urbano’ foi realizada pelo pelo Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP. no Amazonas e no Pará.
Além do delegado, mais três três policiais civis: Adriano José Frizo, Jarday Bello Vieira e André Silva da Costa, foram presos, por ameaças a empresários, na liberação de ouro ilegal da Amazonia.
Eles pediam dinheiro para liberar transportadores de cargas de ouro ilegal com flagrantes forjados. Pelo menos 60 quilos de ouro foram desviados.
A prisão dos envolvidos é mantida para preservar o processo de investigação que está em andamento, principalmente diante de fatos como a possível interferência dos presos no depoimento de testemunhas.