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Torres de 35m no meio da Amazônia vão medir estragos da crise climática

Saber como a Amazônia vai responder futuramente às mudanças climáticas provocadas pelo aumento de dióxido de carbono (CO2 ou gás carbônico) é uma das maiores questões que estudiosos do tema buscam resolver nas últimas décadas.

Recentemente, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) deram um importante passo para a execução de um experimento que pretende preencher essa lacuna científica.

Em 26 de agosto, um primeiro modelo da principal estrutura do experimento foi apresentado aos responsáveis pelo estudo.

Trata-se de uma torre de alumínio de 35 metros, projetada para a pesquisa e que ficará encarregada de liberar o CO2 em áreas específicas da floresta, próximo à cidade de Manaus.

As primeiras unidades dessas torres – serão mais de 90 ao todo – devem ser instaladas na Amazônia nos próximos meses.

O experimento se chama AmazonFACE, um programa de pesquisa inédito que vai submeter essas áreas de floresta Amazônica a uma concentração atmosférica elevada de dióxido de carbono pelos próximos 10 anos.

A ideia é projetar uma situação climática semelhante a que deverá ser encontrada entre 2050 e 2070, quando, em teoria, haverá mais CO2 liberado na atmosfera e a Terra estará, por conta disso, mais quente.

As projeções são do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O gás carbônico é um dos principais responsáveis pelo efeito estufa e pelo aumento da temperatura na Terra desde a Revolução Industrial, no século 19.

Ao mesmo tempo, é também a principal matéria-prima para as plantas realizarem a fotossíntese. Daí a hipótese levantada de que a floresta pode reagir positivamente a essas emissões.

O processo de fertilizar a floresta por meio de dióxido de carbono se chama Free-Air CO2 Enrichment (Enriquecimento por CO2 ao Ar Livre), que dá origem à sigla “FACE”, presente no nome do programa.

Países como Estados Unidos e Inglaterra já aplicaram o método em campo para estudar a reação de outras florestas, mas é a primeira vez que o experimento será aplicado na maior tropical do mundo.

Para conseguir ser colocado em prática, o projeto conta com uma equipe multidisciplinar de mais de 150 pesquisadores e com um investimento robusto.

O programa tem o apoio financeiro dos governos brasileiro e britânico. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações vai injetar R$ 32 milhões nos próximos meses, e o governo da Grã-Bretanha, por meio do MetOffice, o Serviço Nacional de Meteorologia do Reino Unido, já repassou 2,25 milhões de libras (cerca de R$ 12,93 milhões) para viabilizar o experimento.

Como funcionará

O gás carbônico vai ser borrifado por orifícios presentes em tubos de polipropileno acoplados às torres, que estarão ligadas a um tanque de CO2 líquido.

Na conexão entre tanque e torre, válvulas controlarão a quantidade de gás emitida por meio de um software.

Esse sistema computacional vai garantir que o dióxido de carbono seja emitido na quantidade almejada pelo experimento – se o vento dispersar CO2 levado, por exemplo, o programa pedirá que mais gás seja liberado.

Serão instaladas, ao todo, 96 torres. As estruturas vão ser posicionadas em circunferências (anéis) de 30 metros de diâmetro, e cada uma delas será formada por 16, formando uma espécie de laboratório a céu aberto, que vai abraçar cerca de 49 espécies diferentes de vegetação em um raio de 15 metros.

Dos seis anéis, três vão injetar o CO2 elevado, enquanto os demais vão ser o grupo controle e liberar ar ambiente, sem dióxido de carbono extra.

Ao longo de um ano, cada anel emitirá 1,4 mil toneladas de gás carbônico (3,8 toneladas por dia), valor que corresponde a um voo de ida e volta de São Paulo a Nova York.

As torres, porém, não serão instaladas todas de uma vez. O estudo vai ser feito por etapas. A primeira delas consiste em começar com dois anéis, sendo cada um deles composto por 16 estruturas.

A previsão é de que elas comecem a ser instaladas na Amazônia ainda este ano e que os primeiros testes comecem no início de 2023. A ideia é incluir as torres restantes até o final do ano que vem, até completar todos os seis anéis.

Esses objetos são feitos de alumínio, possuem 35 metros de altura e pesam cerca de 1,6 tonelada. Sua função é servir para que o topo ultrapasse as copas das árvores mais altas da região, que medem de 27 a 28 metros de altura, em média.

Por uma questão de logística, o projeto será realizado em uma reserva do próprio Inpa, a 70 quilômetros de Manaus, capital do Estado do Amazonas.

De acordo com Quesada, o experimento também prevê medidas de compensação por todas as emissões de carbono borrifado ao longo da pesquisa.

Isso engloba desde a construção do experimento (confecção das torres, transporte da estrutura até Amazônia), até a rodagem do AmazonFACE.

Além disso, os pesquisadores garantem que as torres foram construídas pensando no menor impacto ambiental possível.

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