Vigilância na atenção primária poderia ter freado contágio no Brasil ou ter evitado a sobrecarga de hospitais e emergências, aponta estudo.
A pandemia de covid-19 trouxe diversos desafios à saúde pública na Amazônia legal brasileira, que reúne mais de 17% das infecções e mortes pela doença no país, sendo o Amazonas o 15º estado brasileiro com mais casos e mortes pelo vírus.
A prevenção, vigilância e atendimento de casos leves de covid-19 poderia ter evitado a sobrecarga de hospitais e emergências durante a pandemia.
A constatação é de pesquisadores da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) que apontam que a atuação das equipes de saúde de família no interior do estado do Amazonas, inclusive em regiões de difícil acesso, foi essencial para a diminuição dos números durante a pandemia.
Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), a atenção primária à saúde (APS) é geralmente o primeiro ponto de contato, oferecendo atendimento abrangente, acessível e baseado na comunidade, que pode atender de 80% a 90% das necessidades de saúde de uma pessoa ao longo de sua vida.
Na sua essência, a APS cuida das pessoas e não apenas trata doenças ou condições específicas.
O beneficiário é acompanhado por equipes multidisciplinares, compostas por médico de família, enfermeiro e outros profissionais de saúde que atuam na coordenação do cuidado.
Pesquisa
Artigo que traz relato de experiência dos alunos finalistas dos cursos de Enfermagem, Medicina e Odontologia da UEA no município de Itapiranga, interior do estado do Amazonas está publicado na “Revista Brasileira de Medicina da Família e Comunidade” nesta segunda (28).
A experiência durou 45 dias e aconteceu junto das equipes de saúde da família do município de Itapiranga, no mês de agosto e setembro de 2020, durante a pandemia de covid-19.
O município, que possui um pouco mais de nove mil habitantes e está localizado na região metropolitana de Manaus, conta com quatro UBSs ( Unidades Básicas de Saúde) da famíla, sendo uma delas UBSF (Unidade Básica Fluvial), com uma equipe de com uma equipe de ESF (Estratégia Saúde da Família).
Durante o período, os estudantes também atuaram na Unidade Básica de Saúde Fluvial, embarcações preparadas para atender à população ribeirinha e capazes de chegar a áreas de difícil acesso.
Em todas as UBS, eram realizadas consultas médicas, odontológicas e de enfermagem, e procedimentos como retiradas de pontos, curativos, nebulização e administração de medicamentos.
De acordo com o pesquisador Yury Bitencourt da Costa, um dos autores do estudo, a pesquisa procurou transmitir a realidade do pequeno município no enfrentamento da pandemia.
“Procuramos saber como as equipes de saúde lideraram os atendimentos desde o primeiro caso confirmado na cidade e acompanhamos de perto algumas medidas de contenção”, explica Costa.
Dentre as medidas, estavam barreiras que impediam o acesso à cidade, saída monitorada e testagem em massa de toda a população, inclusive da zona rural, durante o atendimento das equipes de saúde da família.
“A atenção primária à saúde foi importante, principalmente em período pandêmico, na testagem em massa e na conscientização acerca das medidas de contenção”, comenta o autor.
Em relação aos casos de covid-19, até o dia 24 de maio de 2021, o município apresentou 3.032 casos, com mais de 40 óbitos, sendo o 32º, de 62 municípios, em número de mortes no estado. Até 23 de novembro de 2022, os casos confirmados somam 3.978, com 46 óbitos, segundo resumo epidemiológico da Secretaria de Saúde do Amazonas.
“A experiência em Itapiranga foi a oportunidade de ter uma visão mais ampla da funcionalidade da atenção primária à saúde, principalmente nesse período pandêmico, onde esse nível de atenção se mostrou tão importante tanto para o diagnóstico precoce da doença quanto para a efetividade das medidas de contenção. Acredito também que nós, hoje, como profissionais de saúde, tivemos que nos reinventar e nos adaptar ao novo momento.”, conclui Costa.