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GSI alertou 48 órgãos federais sobre ‘atos violentos’, na véspera

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Um relatório sigiloso enviado pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) ao Congresso aponta que o governo foi informado sobre eventuais ataques violentos em Brasília no dia 8 de janeiro. O alerta foi produzido pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), subordinada ao GSI, e compartilhado com 48 órgãos federais dois dias antes da invasão às sedes dos Três Poderes.

No relatório, a Abin informava que havia identificado a convocação de caravanas em diversos estados do país para que se deslocassem à capital.

O texto revela que elas trariam “manifestantes com acesso a armas e com a intenção manifesta de invadir o Congresso Nacional”. Acrescentava ainda que “outros edifícios na Esplanada dos Ministérios poderiam ser alvo de ações violentas”.

O documento, enviado no dia 20 de janeiro à Comissão Mista de Controle de Atividades de Inteligência (CCAI), é assinado pelo ministro responsável pelo GSI, o general da reserva Gonçalves Dias, um dos personagens que saíram fustigados dos atos do dia 8 por não terem conseguido impedi-los.

Outros alertas

Além do relatório que agora está em posse do Congresso, na véspera dos ataques, a Abin encaminhou ao Sistema Brasileiro de Inteligência, que congrega diferentes órgãos de inteligência da máquina federal, um comunicado para alertar que o cenário do acampamento instalado em frente ao QG do Exército em Brasília estava “recrudescendo” e que isso era motivo de preocupação. No mesmo dia, sábado à tarde, véspera dos atentados, a agência enviou outros dois boletins.

Um deles informava que 105 ônibus com 3.900 passageiros haviam desembarcado na capital federal. O outro relatava expressamente que “permaneciam a convocação e incitação para deslocamento até a Esplanada dos Ministérios para depredar prédios públicos”.

Na manhã de domingo, conforme o jornal carioca O Globo revelou, a Abin emitiu mais um alerta, reforçando que os manifestantes planejavam depredar o patrimônio público e “promover atos violentos” nas sedes dos Três Poderes.

Não foi só a Abin que alertou sobre o risco de atos violentos dos manifestantes. A Polícia Federal produziu um relatório em que apontou que os manifestantes planejavam provocar “ações hostis e danos” ao “Congresso Nacional, o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal”, além de “confrontar as Forças de Segurança”.

Essas informações foram registradas em um ofício enviado ao ministro da Justiça, Flávio Dino.

O documento, assinado pelo diretor-geral da PF, Andrei Passos, ressalta ainda que os investigadores identificaram indivíduos dispostos a “tomar o poder” e que haveria homens “armados fazendo a segurança dos manifestantes”.

Cerca de 20 horas após esse relatório, as primeiras pedras foram atiradas no Congresso, o primeiro alvo do grupo, numa ação que desencadeou com a invasão dos Três Poderes.

Lula diz que não sabia

A revelação de que o relatório foi entregue a diversos órgãos do governo expõe o presidente Lula. Dez dias após os ataques, o petista criticou as autoridades responsáveis pelas forças de segurança e inteligência, inclusive o GSI, de Gonçalves Dias.

— Nós temos inteligência do GSI, da Abin, do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, ou seja, a verdade é que nenhuma dessas inteligências serviu para avisar ao presidente da República que poderia ter acontecido isso. Se eu soubesse na sexta-feira que viriam 8 mil pessoas aqui, eu não teria saído de Brasília. Eu saí porque estava tudo tranquilo — disse ele em entrevista à Globonews.

O alerta da Abin foi enviado a um sistema integrado por 48 órgãos, entre eles ministérios como o da Defesa, Casa Civil e Justiça. Algumas pastas, porém, alegam que não receberam a informação sobre os atos golpistas de 8 de janeiro.

O mesmo relatório também foi enviado a um grupo de WhatsApp formado por representantes de diferentes áreas do governo, conforme mostrou a revista “Piauí”. Contudo, uma parte da lista de contatos estava desatualizada, segundo a revista.

Procurada, a Abin disse que “é de responsabilidade dos integrantes do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) manter pontos focais atualizados para contato institucional”.

O Ministério da Justiça disse que não sabia da existência desse canal de troca de informações. Procurado, o GSI afirmou que “somente se pronunciará após a conclusão dos trabalhos investigatórios” relacionados ao dia 8.

CPI

A informação de que o relatório da Abin está no Congresso tem sido usada pelos entusiastas de uma CPI para implementar a investigação. A estratégia desse grupo é implicar ministros do governo nas suspeitas de omissão por parte das autoridades durante os ataques do dia 8.

O senador Espiridião Amin (PP-SC) diz que a chegada do documento ao Legislativo reforça a necessidade da uma investigação parlamentar.

— Pouco importa a frente. Devem haver investigações sobre omissões do governo federal nesse caso. O sistema de inteligência é brasileiro. O apagão registrado na inteligência federal é inegável. O Brasil precisa investigar a totalidade do que ocorreu no dia 8, em relação aos manifestantes e ao governo —argumenta.

Inicialmente, integrantes de partidos da base governista se mostraram favoráveis à CPI, mas recuaram após Lula dizer que era contra a instauração do colegiado.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, se disse favorável à CPI, mas que, antes de iniciar os trabalhos, iria tratar do tema com lideranças da Casa, que definiriam o “momento” e a “conveniência” para instalar a comissão.

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