Manoel Silva da Cunha é coordenador da reserva extrativista Médio Juruá, uma área de 287 mil hectares – quase o dobro do tamanho da cidade de São Paulo – na região de Carauari (AM)

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade ( ICMBio) retirou o coordenador da reserva extrativista Médio Juruá, Manoel Silva da Cunhade garimpeiros ilegais naquela região. Uma decisão da Justiça do Amazonas a favor de um garimpeiro teria agravado a situação.
Ele foi obrigado se esconder depois de denunciar chegada de garimpeiros. Ele enfrenta ainda um processo na justiça estadual após operação que queimou balsa ilegal e apreendeu lancha.
Homens encapuzados circulam de barco pelo Rio Juruá fazendo perguntas e oferecendo dinheiro a quem der mais detalhes sobre ele.
Cunha também é líder comunitário das comunidades ribeirinhas e tem denunciado desde o ano passado a chegada de balsas de garimpo na região, uma das mais conservadas do estado do Amazonas.
“Tudo está ligado ao garimpo ilegal de ouro. Do nada, apareceu um grupo de mascarados, quatro homens num bote, procurando por mim rodando o rio. São pessoas desconhecidas e a comunidade”, informou ele ao ICMBio.
Com histórico de trabalho análogo à escravidão num passado recente, o Médio Juruá é estudado por diversos grupos de pesquisa como exemplo de organização social e gestão sustentável bem-sucedida no Amazonas.
Diversas instituições públicas, privadas, de pesquisa, de assistência técnica, movimentos sociais e organizações de base reunidas no Fórum Território Médio Juruá manifestaram preocupação e se mobilizaram para garantir a segurança de Cunha.
Garimpo no Juruá
Atualmente, cerca de 1.200 famílias vivem na região às margens do Rio Juruá, incluindo a Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Uacari e Indígena Deni.
Em meados de 2022, os habitantes da região avistaram pela primeira vez uma draga garimpeira circulando no Juruá. O alerta foi emitido pelo Fórum e, após consulta aos órgãos estaduais de meio ambiente, ficou comprovada a inexistência de autorização para draga de garimpo de ouro, atividade de lavra ou pesquisa de minério.
Em novembro de 2022, agentes da Polícia Federal, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Polícia Militar fizeram uma operação e destruíram uma balsa do tipo. Na ocasião, uma lancha usada na atividade ilegal também foi apreendida.
Segundo os documentos da operação, a embarcação foi destinada provisoriamente para a Reserva Extrativista Médio Juruá e foi Manoel Cunha, na condição de servidor do ICMBio, que assinou o termo de fiel depositário.
Dias depois, um suposto proprietário, Dilvan Lucio Simioni, entrou com uma ação na Justiça estadual acusando Cunha de ter furtado a lancha. O juiz que analisou o caso determinou então que o barco fosse devolvido ao pretenso dono.
Surpreso com o desdobramento, o Ministério Público Federal (MPF) do Amazonas interveio na esfera da Justiça Federal.
Segundo os procuradores, a ação movida contra Cunha omitiu que a apreensão foi feita durante uma operação do Ibama e da Polícia Federal por envolvimento com atividades ilícitas.
De acordo o documento apresentado pelo MPF, Simioni já foi preso anteriormente na condição de “dono de garimpo ilegal”. O nome dele também não consta como proprietário de qualquer embarcação registrada na Capitania dos Portos.