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Lava Jato chega à Receita Federal e mira em extorsão contra delatores

Três pessoas foram presas entre eles
o auditor da Receita suspeito de chefiar esquema de extorsão
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Agentes da PF e do MPF cumprem 14 mandados de prisão contra auditores e analistas da Receita Federal. Na foto, PF entrando no onde funciona um escritório da Receita Federal, na Barra da Tijuca
Foto: Fabiano Rocha / Fabiano Rocha


A Polícia Federal no Rio de Janeiro deflagrou nesta quarta-feira, 2, a Operação Armadeira contra organização criminosa com atuação na Receita Federal. Ao todo, são cumpridos 39 mandados de busca e apreensão, cinco de prisão temporária e nove de prisão preventiva – todos expedidos pela 7ª Vara Federal Criminal do Rio, do juiz Marcelo Bretas.


Grupo cobrava propina das vítimas em troca do cancelamento de multas milionárias por sonegação fiscal; supervisor apontado como chefe da quadrilha já está preso

De acordo com a PF, a investigação começou após um colaborador da Lava Jato ser instado a pagar uma quantia para não ser autuado em procedimento fiscal. A apuração dos policiais constatou a existência de uso estruturado de informações privilegiadas para cobrança para benefício de terceiros e dissimulação de patrimônio.

Os investigadores apontam o auditor fiscal Marco Aurélio Canal, supervisor de programação da Receita Federal na Lava Jato, como líder da organização criminosa que assediava delatores e investigados ao cobrar propina em troca da anulação e cancelamento de multas por sonegação fiscal.

Os alvos eram selecionados a partir de inquéritos e processos que tramitavam pela Receita referentes a acúmulo de patrimônio ou movimentação financeira suspeita – a quadrilha selecionava quem poderia render propinas maiores.


Na casa de um dos suspeitos, a PF apreendeu R$ 120 mil em espécie.


Dinheiro apreendido na casa de um dos alvos da Operação Armadeira
Foto: Reprodução

Agentes da Lava Jato no RJ prenderam o auditor fiscal Marco Aurélio da Silva Canal é supervisor nacional da Equipe Especial de Programação da Lava Jato, suspeito de chefiar um esquema de extorsão contra investigados da própria força-tarefa. Outros dois foram presos.

Marco Aurelio Canal, era um dos procurados da Operação Armadeira. A Polícia Federal, com apoio da Receita, tenta prender outras 11 pessoas. A Lava Jato contou com escutas autorizadas pela Justiça e ações controladas – como adiar o cumprimento de mandados de prisão – para localizar os suspeitos.

Segundo as investigações, o esquema na Receita prosperou à medida que a Lava Jato avançava. A suspeita é que Canal, que tinha acesso a detalhes dos investigados, usava os dados para lhes extorquir dinheiro – em troca de redução ou cancelamento de multas.


SUPERVISOR PRESO PELA LAVA JATO FOI PIVÔ DE POLÊMICA DE GILMAR COM RECEITA FEDERAL


Marco Aurélio Canal é supervisor nacional da Equipe Especial de Programação da Lava-Jato na Receita
Foto: Divulgação Internet

Marco Aurélio da Silva é apontado pelos procuradores como chefe do esquema. O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), já citou nominalmente Cabral durante uma entrevista, apontando-o como a pessoa que  “coordenou a operação” em que seus dados e de sua mulher, Guiomar Feitosa, foram acessados. Em fevereiro deste ano, a Receita Federal negou que o ministro e Guiomar estivessem sendo investigados pelo órgão.

“Eu sei que houve abuso por parte da Receita, e a Receita sabe que houve abuso nesse caso. Mas, tenho curiosidade de saber quem mandou a Receita fazer (a investigação). O que se sabe é que quem coordenou essa operação é um sujeito de nome Marco Aurélio da Silva Canal, que é chefe de programação da Lava-Jato do Rio de Janeiro. Portanto, isso explica um pouco esse tipo de operação e o baixo nível. Às vezes, querem atingir fazendo esse tipo de coisa. Estão incomodados com o quê? Com algum habeas corpus que eu tenha concedido na Lava-Jato?”, afirmou o ministro em entrevista no mês de junho à GloboNews em que cita Canal.

O auditor fiscal já era investigado pelos procuradores quando Gilmar deu as declarações citando vínculo entre Canal e a força-tarefa da Lava-Jato no Rio. A força-tarefa da Lava-Jato do Rio e a  equipe do auditor não mantinham relacionamento direto. Isso porque a parceria nas fases de investigação são com o setor de Inteligência. A equipe do supervisor preso só atuava depois das operações ostensivas, sem contato com os procuradores.

Pedidos de prisão preventiva

  1. Daniel Monteiro Gentil;
  2. Elizeu da Silva Marinho, preso;
  3. José Carlos Lavouras;
  4. Marcial Pereira de Souza;
  5. Marco Aurelio da Silva Canal, preso;
  6. Monica da Costa Monteiro Souza;
  7. Narciso Gonçalves;
  8. Rildo Alves da Silva;
  9. Sueli Monteiro Gentil.

Pedidos de prisão temporária

  1. Alexandre Ferrari Araujo;
  2. Fabio dos Santos Cury;
  3. Fernando Barbosa;
  4. João Batista da Silva;
  5. Leonidas Pereira Quaresma, preso.

Os 14 mandados de prisão e 39 de busca e apreensão foram expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal.

Nova delação e dossiê

A operação desta quarta é baseada em novas delações de Lélis Teixeira, ex-presidente da Fetranspor – a federação das empresas de transporte do estado – e de Ricardo Siqueira. Ambos são réus em fases da Lava Jato. Lélis afirma que Elizeu Marinho foi o intermediário do pagamento de R$ 4 milhões em propina para Canal. O objetivo era anular uma autuação contra a Fetranspor. Pela negociação, Elizeu receberia R$ 520 mil.

Canal já tinha sido citado no inquérito sobre ofensas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que tramita na própria corte, como um dos responsáveis por uma apuração feita pela Receita sobre 133 contribuintes, entre os quais o ministro Gilmar Mendes e a mulher dele.

Segundo as investigações, Canal distribuiu esse dossiê a outras pessoas. No mês passado, o ministro Alexandre de Moraes determinou a suspensão do procedimento de investigação.

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