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Chile tem 7 mortes no maior caso de violência pós-democracia


Vítimas estavam em mercados ou lojas de Santiago que foram saqueadas e incendiadas; autoridades decretaram toque de recolher pelo segundo dia


Foto: Edgard Garrido / Reuters

Confrontos violentos entre a polícia do Chile e manifestantes voltaram a ocorrer neste domingo, 20, em vários pontos de Santiago, mesmo após o presidente Sebastián Piñera suspender no sábado o aumento do preço das passagens do metrô, questão que havia desencadeado os protestos.

Autoridades decretaram toque de recolher pelo segundo dia, em meio ao “estado de emergência”. Até o momento, 7 pessoas morreram, segundo o Ministério do Interior, e 1.462 foram detidas nas manifestações, as mais violentas desde o retorno da democracia após o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Um novo “panelaço” de manifestantes realizado no domingo se transformou novamente em confrontos com as forças especiais da polícia e militares, que repeliram os ataques com bombas de gás lacrimogêneo e jatos d’água. “Nós estamos preocupados com a situação. Eu e minha mulher estamos como turistas aqui em Santiago e vimos as imagens na TV. Ficamos apreensivos com a segurança. Estamos tendo problema com alimentação”, disse o brasileiro José Ailson Baltazar, de 59 anos.

O país amanheceu com praticamente todo o comércio fechado, vários voos cancelados no aeroporto e ruas vazias, após os protestos iniciados na sexta-feira em razão do aumento do preço das passagens do metrô. O centro de Santiago virou um cenário de destruição: semáforos no chão, ônibus queimados, lojas saqueadas e destroços nas ruas.

A Associação de Bancos Chilenos informou que 130 agências foram danificadas em todo o país e 30 estão fora de serviço. A rede de supermercados Walmart informou que vai manter todas as lojas em Santiago fechadas, pois 125 unidades foram saqueadas. A população tem tentado se abastecer como pode, já que somente os mercados menores estão funcionando durante parte do dia.

Segurança

Em alguns bairros de Santiago, os moradores se organizam para proteger suas casas dos saques, que já não ocorrem mais somente em supermercados, farmácias e lojas. A brasileira Fernanda Camargo, de 39 anos, mora na capital e classifica a situação como inédita.

“Moro no Chile há 16 anos, nunca tinha visto uma manifestação durar tanto tempo e ter tanta violência. Estamos com medo de sair na rua. No meu condomínio, os vizinhos estão unidos resguardando a entrada. Há muita delinquência tirando proveito da situação, saqueando lojas e entrando nas casas para roubar”, disse Fernanda. “Acredito que são legítimas as manifestações, não apoio a violência, porém o povo está cansado de tanta desigualdade, salários baixos. O custo de viver aqui no Chile é alto. Para ter saúde e educação de qualidade, tem de pagar. Está tudo privatizado.”

Apesar do toque de recolher e da mobilização de quase 10 mil militares nas ruas, os distúrbios prosseguiram durante a madrugada de domingo em Santiago e outras cidades, como Valparaíso e Concepción, que também foram afetadas pela medida que restringe a movimentação. O balanço oficial do governo informou que já são mais de 60 policiais feridos nos violentos protestos. “Acredito que em uma semana as coisas estejam resolvidas. Porém, o reflexo disso tudo ainda estará presente”, afirmou Magda Rosa de Oliveira, de 30 anos.

Mortes em incêndios

As sete vítimas morreram queimadas em supermercados ou lojas que foram saqueadas e pegaram fogo. Não se sabe se os incêndios foram propositais.

O ministro do Interior e Segurança, Andrés Chadwick, informou que durante a madrugada duas pessoas foram feridas a tiros após incidente com uma patrulha policial entre Puente Alto e La Pintana. Manifestantes também atacaram ônibus e estações do metrô. De acordo com o governo, 78 estações foram atingidas e algumas ficaram completamente destruídas.

O prejuízo ao metrô de Santiago supera US$ 300 milhões e algumas estações e linhas vão demorar meses para voltar a funcionar, afirmou o presidente da companhia estatal, Louis de Grange. Com quase 3 milhões de passageiros por dia, o metrô sofreu uma “destruição brutal”, disse.

Pressão social

Aos gritos de “basta de abusos” e com o lema que dominou as redes sociais “#ChileAcordou”, o país enfrenta críticas a um modelo econômico em que o acesso à saúde e à educação é praticamente privado, com elevada desigualdade social, valores de pensões reduzidos e alta do preço dos serviços básicos. A venezuelana Ana Villarroel, de 27 anos, teme por sua segurança, mas considera os protestos legítimos. “Nós imigrantes viemos com nossas famílias ao Chile apostando em uma boa qualidade de vida. Os protestos são legítimos, mas o vandalismo não”, disse.

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