Um terço da Amazônia Legal está tomado por facções criminosas, diz levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, publicado nesta quarta-feira (11), revela que no último ano, 260 dos 772 municípios que compõem os nove estados da Amazônia Legal tem pelo menos um grupo criminoso. O número é 46% superior às 178 cidades mapeadas em 2022.
O estudo mostra que 176 municípios têm a presença de uma facção vinculada ao narcotráfico. Outras 84 são disputadas por dois ou mais grupos. Ao todo, 19 facções estavam espalhadas pela região em 2023, diante de 22 em 2022.
Pouco mais de um terço da Amazônia Legal já tem a presença de facções criminosas ligadas ao narcotráfico — algumas delas locais, outras com origem no Sudeste do Brasil, como o Comando Vermelho (CV) do Rio e a paulista Primeiro Comando da Capital (PCC).
De acordo com o presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, boa parte do dinheiro que circula na região hoje é do crime e é possível dizer que o crime organizado é o principal empregador na Amazônia.
Segundo ele, assim como o PCC, o CV passou a ter características parecidas com uma organização mafiosa, e atualmente controla toda a cadeia de produção. Ele ressalta que faixas importantes do território do Peru estão sob o comando do CV para a produção da folha de coca, matéria-prima da cocaína.
“Hoje, no mercado da droga, o CV e o PCC são produtores, distribuidores e varejistas. E isso muda completamente o patamar das duas organizações”, explica em reportagem do jornal O Globo.
O levantamento aponta uma tendência de estabilização em alguns dos conflitos entre facções. Dos 260 municípios com presença de facções, 130 são controlados pelo CV, 28 pelo PCC e os demais por grupos menores. O CV tem uma forte presença nos estados da Amazônia Legal desde 2017, quando perdeu suas rotas de escoamento da droga na fronteira com o Paraguai, e se consolidou na região Norte.
“O Comando Vermelho foi engolindo as facções locais, como a própria Família do Norte (FDN). Seu modelo de negócios menos hierárquico, que privilegia a parceria, fez com que ele se aproximasse das facções locais e fosse se fortalecendo em função disso”, afirmou Lima.
Ainda de acordo com o levantamento do Fórum, o uso do solo é o principal indutor da violência nos estados da Amazônia Legal. A ação de facções ocupa um lugar central não apenas em função da dinâmica do narcotráfico, mas também em conexão com o avanço do desmatamento, de outros crimes ambientais e com disputas fundiárias.
Assim como as milícias cariocas que exploram internet, distribuição de gás, transporte de vans, as organizações criminosas passaram a explorar todo e qualquer produto que gere retornos muito altos, que tenham como fundamento a questão do controle do território.
Para ter essa força, elas precisam ter controle do território, seja na comunidade do Rio de Janeiro, seja na quebrada de São Paulo, seja na selva. No caso da Amazônia, é preciso ter o controle da rota toda da droga. Com esse controle da rota, começam a explorar o uso da terra, a abrir pasto para atividades de loteamentos clandestinos, trazer gado, explorar o ouro.