
A produção de carvão vegetal a partir de resíduos de açaí, castanha da Amazônia e tucumã é opção à madeira. A vantagem, além de evitar a contaminação de rios e desmatamento como ocorre com o carvão a partir da madeira, é a geração de emprego e renda em municípios do Amazonas.
O “carvão de açaí”, “castanha” e “tucumã” foi desenvolvido pela pesquisadora Marcela Amazonas, da Coordenação de Tecnologia Social do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). Ela começou a estudar os resíduos desses frutos quando constatou que “não há madeira suficiente” para produzir carvão vegetal na Amazônia.
Os estudos com os resíduos agroflorestais comprovaram que o carvão feito com restos de açaí, castanha e tucumã é tecnologicamente “fabuloso” e pode ser usado tanto para um simples churrasco como para gerar energia na indústria.
“Já há biorefinarias que adotaram os resíduos, principalmente o de açaí. Mas aqui em Manaus só temos algumas tentativas, nada que seja significativo de ser citado, porque na Amazônia o problema é a logística. Fazer a coleta dos resíduos, onde há resíduos, e trazê-los para ser transformados, é o grande desafio”, diz Marcela.
Para que os resíduos sejam aproveitados em grande quantidade na substituição do carvão vegetal é necessário que haja uma junção de órgãos governamentais com parcerias de agências de financiamento e os setores industrial e empresarial, opina a pesquisadora.
“É uma demanda gigantesca, mas a Amazônia tem potencial para se abastecer. Produziríamos um carvão de excelente qualidade, evitaríamos desmatamentos e geraríamos emprego e renda nos municípios produtores de resíduos agroflorestais desses frutos”, diz Marcela Amazonas.
Segundo a pesquisadora, fazer carvão de madeira é um extrativismo destrutivo na região e como resultado se obtém um produto de baixa qualidade. “Na Amazônia, geralmente, o carvão é retirado de madeiras de baixa, ou média densidade ou média, o que não atende às exigências técnicas para um carvão de qualidade. Isto é, de madeiras leves e madeiras leves não geram bom carvão. Além disso, significa a degradação da floresta porque não há critérios de manejo, o uso adequado, e se usa qualquer tipo de madeira. Tirar de qualquer jeito espécies arbóreas da Amazônia para gerar um produto de baixa qualidade não tem lógica”, diz.
A pesquisa deve atender às necessidades da sociedade e comunidades dos municípios de Tefé e Anamã tiveram a oportunidade de experimentar os resultados do estudo com resíduos. “Durante as pesquisas, embora não haja ainda uma produção industrial desses resíduos, passamos por comunidades do interior que usam o ouriço da castanha, resíduos de açaí e do tucumã para gerar brasa, fogo, no beneficiamento de alimentos. Elas fazem isso”, diz.
Papel e filtro agroflorestais
Segundo Marcela Amazonas, os resíduos agroflorestais podem ser usados também na fabricação de filtros para purificadores de água e de papel. Os resíduos contêm dois elementos essenciais para esse fim: fibra e alto índice de carbono.
“Temos, no Inpa, tecnologia para desenvolver esses produtos, mas precisamos do apoio de outros órgãos. A indústria da celulose e do papel são indústrias fortíssimas no Brasil. No caso da fabricação do papel com resíduos agroflorestais, a grande questão é que o material tem que ser fibroso”, diz.
Com 20 gramas de resíduos é possível produzir uma folha de papel de tamanho A4 mais ou menos, diz Marcela. “Todos os problemas que você elimina da natureza e contribui de forma positiva ao meio ambiente, e usa técnicas e procedimentos de baixo custo é por si um ganho. Nas pesquisas, vimos que quase a totalidade dos resíduos, nos municípios do interior, não são aproveitados e são retirados de forma errada. Então, você está jogando no lixo todo um potencial para gerar carvão e papel”, diz e acrescenta que o Inpa iniciou um trâmite de parcerias com empresas para produzir filtros para purificadores de água.
O passo a passo
Os resíduos de açaí, castanha e tucumã chegam ao laboratório da Coordenação de Tecnologia Social do Inpa em sacas de 60 quilos e são colocados para secar em uma máquina. Depois de alguns dias e secos, um técnico separa os resíduos em porções de 10 ou 12 quilos dentro de outra máquina que vai carbonizar os resíduos a uma temperatura de 500 graus centígrados. Concluída a carbonização, o material é retirado para esfriar.
Uma vez frio e carbonizado, os resíduos são triturados em um moinho e depois peneirados. O pó resultante é misturado com goma de mandioca, que vai dar a liga com as partículas. Da máquina que faz a mistura, os resíduos com a goma de mandioca, são colocadas dentro de prensas que vão dar o formato das bolinhas de carvão, chamados de briquetes de carvão ou carvão ecológico.
Fonte: Amazonas Atual