
Os índios Marubos, do Vale do Javari, no município amazonense de Atalaia do Norte – 1.300 km de Manaus, capital do Amazonas – entraram com uma ação judicial por difamação contra o jornal The New York Times (NYT), por causa de uma reportagem do veículo de comunicação que os retratou como viciados em pornografia. A matéria publicada em junho de 2024, mostra indígenas acessando a internet pelo celular. Com a chegada da Starlink, o acesso à rede mundial alterou o cotidiano dos jovens, que passaram a ter aceso ao conteúdo das redes sociais, inclusive pornografia.
Na região onde os marubos vivem, o sinal só chegou em abril do ano passado e além das coisas boas como chamar ajuda emergencial de maneira rápida, algo que antes levava dias, também veio pela rede outros conteúdos negativos da conectividade.
A reportagem mostou que o fácil acesso a conteúdo pornográfico levou alguns membros a compartilhar imagens obscenas e vídeos explícitos em chats em grupo. Os marubos falam sua própria língua e praticam rituais religiosos que incluem o consumo de ayahuasca, uma planta com propriedades alucinógenas.
A jornalista que produziu a matéria, Jack Nicas, ouviu Alfredo Marubo, um membro do grupo, que revelou ao New York Times que essa súbita exposição à pornografia desencadeou comportamentos sexuais preocupantes entre os jovens habitantes locais.
Enoque Marubo, uma das lideranças do grupo, relatou que o cotidiano mudou drasticamente, com os membros demonstrando menos interesse em trabalhar. “Mudou tanto a rotina que foi prejudicial. Na aldeia, se você não caça, pesca e planta, você não come”, disse ele na reportagem.
Outra liderança, TamaSay Marubo, observou que a chegada da internet afetou principalmente os jovens: “Quando a internet chegou, todos ficaram felizes, mas agora as coisas pioraram. Os jovens ficaram preguiçosos e estão adotando os costumes dos brancos”. Além do vício em pornografia, os marubos disseram na reportagem que muitos membros passam a maior parte do dia nas redes sociais, especialmente no Instagram.
AÇÃO JUDICIAL
A ação, que tramita em tribunal de Los Angeles, detalha que os marubos pedem indenização milionária pela reportagem que, segundo acusam, retratou-os como viciados em tecnologia e obcecados por pornografia, após a introdução da internet no território indígena.
A ação também pede a responsabilização dos portais TMZ e do Yahoo, pois as matérias desses sites teriam amplificado e sensacionalizado as informações divulgadas pelo New York Times, bem como difamado a etnia Marubo, segundo publicou o jornal inglês The Guardian.
A reportagem do NYT alvo da ação foi assinada pelo jornalista Jack Nicas e publicada em 19 de julho de 2024. A publicação também afirma que, menos de um ano depois disso, a comunidade passou a enfrentar os mesmos tipos de dificuldades decorrentes de efeitos generalizados da internet no restante do planeta e a proliferação de smartphones, que grande parte do mundo enfrenta há anos.
No entanto, os indígenas alegaram que o texto “retratava o povo Marubo como uma comunidade incapaz de lidar com a exposição básica à internet” e destacava “alegações de que a juventude deles havia sido consumida pela pornografia”.
“Essas declarações não eram apenas inflamatórias, mas transmitiam ao leitor comum que o povo Marubo havia decaído moral e socialmente, como resultado direto do acesso à internet”, diz parte da ação judicial. “Tais representações vão muito além de comentários culturais; elas atacam diretamente o caráter, a moralidade e a posição social de todo um povo, sugerindo que lhes faltam a disciplina ou os valores necessários para atuar no mundo moderno”, diz outro trecho da ação.
*Com informações do site Metrópole