
Um levantamento com base nos dados do IBGE revela que a fecundidade caiu em ritmo acelerado em grande parte dos municípios do Amazonas entre 2010 e 2022.
No período analisado, a variação percentual no número de nascidos vivos chegou a superar -40% em áreas do interior, configurando um dos recuos mais expressivos do país.
A tendência, também observada em outros estados da Região Norte, confirma o amadurecimento da transição demográfica brasileira, iniciada ainda na segunda metade do século XX.
No mapa nacional, amplas faixas do território amazonense aparecem em tons de laranja escuro e vermelho, indicando os percentuais mais baixos de crescimento populacional por nascimentos.
Redução generalizada no Norte
Embora a Região Norte historicamente tenha apresentado taxas de fecundidade mais altas que o restante do país, o novo recorte evidencia que o ritmo de declínio se intensificou nas últimas décadas.
Municípios do Alto Solimões, do Baixo Amazonas e da calha do Madeira estão entre os que mais perderam dinamismo reprodutivo.
O fenômeno é atribuído a múltiplos vetores estruturais: elevação dos níveis de escolaridade, especialmente entre mulheres, ampliação do acesso a métodos contraceptivos, inserção feminina no mercado de trabalho formal e adiamento da maternidade. Somam-se a isso transformações familiares, urbanização crescente e novas formas de organização conjugal.
Taxa abaixo do nível de reposição
Em 2022, a Taxa de Fecundidade Total (TFT) no Brasil caiu para 1,55 filho por mulher, valor significativamente abaixo do nível de reposição populacional (2,1).
Essa média nacional reflete o avanço de um modelo de planejamento reprodutivo mais racionalizado, e também mais seletivo, condicionado por desigualdades regionais, raciais e de acesso a serviços públicos.
No Amazonas, mesmo municípios com composições etárias jovens passaram a registrar queda no número absoluto de nascidos vivos.
Em algumas exceções, há aumento pontual impulsionado por dinâmicas migratórias específicas ou taxas residuais de fecundidade mais altas em áreas indígenas ou isoladas, mas insuficientes para reverter a tendência estadual de declínio.
Envelhecimento populacional à frente
A continuidade dessa trajetória projeta, para os próximos anos, um cenário marcado pela redução da população em idade ativa e pelo crescimento proporcional dos idosos, com implicações diretas sobre previdência, políticas públicas de cuidado e planejamento urbano.
O declínio nos nascimentos entre 2010 e 2022, portanto, não apenas confirma um processo demográfico consolidado, como materializa no território o impacto das transformações socioeconômicas contemporâneas, em especial na Região Norte, onde o ritmo da mudança se acentuou mesmo sobre uma base populacional jovem.
Confira o mapa que mostra a variação percentual no número de nascidos vivos entre 2010 e 2022, elaborado pelo perfil Espacialidade, com base em dados do IBGE (Sinasc).
