
Apesar da exuberância florestal e da vasta cobertura vegetal, o solo do Amazonas não está imune à erosão. Um estudo da Embrapa Solos revelou que 30% do território do estado possui solos com alta ou muito alta erodibilidade, ou seja, um potencial natural elevado para sofrer erosão, especialmente em condições de desmatamento ou manejo inadequado.
Cerca de 25% dos solos do Estado foram enquadrados nas classes muito baixa e baixa, enquanto que aproximadamente 45% estão na classe média. Os restantes, 30%, enquadram-se nas classes alta e muito alta.
A pesquisa, conduzida pelos cientistas Maurício Rizzato Coelho e Gustavo de Mattos Vasques, analisou os atributos intrínsecos dos solos como textura, teor de matéria orgânica, presença de silte e camadas impermeáveis, e classificou sua vulnerabilidade à erosão hídrica provocada pelo impacto das chuvas.
Entre os municípios mais suscetíveis estão:
- São Gabriel da Cachoeira, no extremo noroeste, onde predominam solos arenosos como os Espodossolos,
- Boca do Acre,
- Eirunepé,
- Envira,
- Ipixuna
- Pauini, no sudoeste, marcados por altos teores de silte, característica que facilita o desprendimento de partículas do solo e seu transporte pela água da chuva.
A erosão no Amazonas não se limita apenas às áreas agrícolas. Nas margens dos rios, o fenômeno conhecido como “terras caídas” é uma forma grave de erosão fluvial que causa o desmoronamento de barrancos.
Em 2024, um episódio em Manacapuru chamou a atenção nacional para o problema. O deslizamento de terras no Porto da Terra Preta, naquele município, foi causado pelo fenômeno “terras caídas”, agravado pela seca e aterros inadequados, segundo o SGB (Serviço Geológico do Brasil). O acidente, que ocorreu em outubro, resultou em duas mortes, além de causar danos significativos à infraestrutura do porto.
“Os fatores que levaram à ruptura do terreno foram: localização do porto na margem erosiva, onde o Rio Solimões faz a curva, bem em frente à área de deslizamento; presença de minas d’água na base do talude, saturando o solo; aterro lançado sobre os solos instáveis da margem do Rio Solimões, cuja sobrecarga pode ter contribuído para sua desestabilização, somado à descida rápida (e acima da média) do nível d’água, para o período de vazante recorde”, identificou o SGB após vistoria entre os dias 8 e 10 de outubro.
Esse tipo de erosão, além de representar risco à vida, impacta diretamente comunidades ribeirinhas que dependem do rio para subsistência, transporte e abastecimento.

Processos erosivos
Segundo os especialistas, mesmo sob floresta nativa a erosão pode ocorrer especialmente em áreas de relevo acidentado ou em eventos climáticos extremos. “A presença de vegetação reduz, mas não elimina a possibilidade de processos erosivos, sobretudo em solos com características frágeis”, afirmam os autores do estudo.
Além das perdas de solo fértil, que afetam a produção agrícola, a erosão também representa riscos para a biodiversidade, a qualidade da água, a infraestrutura urbana e a saúde humana.
Sedimentos carregados para os rios podem provocar assoreamento, poluição e mortalidade de espécies aquáticas. Em áreas urbanas, a erosão contribui para o entupimento de bueiros e aumento de alagamentos.
A Embrapa alerta que, mesmo em solos com baixa erodibilidade, o uso inadequado pode acelerar a degradação. Para evitar danos irreversíveis, os especialistas recomendam a adoção de práticas conservacionistas, como plantio direto, terraceamento, manutenção da cobertura vegetal e uso racional do solo conforme seu potencial produtivo.
“Ressalta-se aqui que os locais indicados de elevada erodibilidade não significam que
seus solos estão ou serão erodidos. Indicam sim que têm maior possibilidade de
serem erodidos se desmatados ou se utilizados e manejados inadequadamente.
Portanto, os dados e informações de erodibilidade apresentados no estudo
demonstram o potencial natural dos solos à erosão hídrica”, afirmam os pesquisadores.
A erosão hídrica, que é a forma de erosão tratada no estudo em questão, é o processo de desagregação dos agregados ou torrões do solo pelo impacto das gotas de chuva, liberando partículas de solo mais fino e leve, passível de ser transportado, sobretudo através das enxurradas (escorrimento superficial e subsuperficial da água de chuva no sentido do declive), com posterior deposição nas porções mais baixas da paisagem, incluindo os rios, riachos, igarapés e lagos, por exemplo.
“Caso tais características dos solos ocorram em áreas de relevo acidentado ou sem cobertura vegetal, os processos erosivos serão bem mais acentuados em relação a áreas planas e com cobertura vegetal. Assim, o desmatamento e a utilização de práticas inadequadas de cultivo, quando expõe o solo sem cobertura vegetal aos processos erosivos no período chuvoso, são agentes promotores e aceleradores da degradação das terras por erosão”, dizem os especialistas.