
O Amazonas conta hoje com pouco mais de 6,5 mil médicos ativos, segundo dados recentes do Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremam).
O número representa avanço em relação a anos anteriores — há 14 anos, eram cerca de 3,7 mil profissionais registrados —, mas o crescimento não se traduz em melhora efetiva do acesso à saúde para a maior parte da população.
Os dados do próprio Cremam revelam um cenário desigual: 6.124 médicos atuam em Manaus, enquanto apenas 379 estão distribuídos pelo interior, que abriga mais de 20% dos habitantes do estado.
Em algumas regiões, a proporção é inferior a um médico para cada 10 mil habitantes, índice muito abaixo da média nacional e distante das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que estabelece um médico para cada mil habitantes como referência mínima.
A disparidade reflete a concentração de infraestrutura, hospitais e centros universitários na capital, além das condições precárias de trabalho e de vida nos municípios do interior. Falta estrutura hospitalar, transporte, moradia e incentivos adequados para fixação de profissionais.
Em cidades isoladas, o atendimento ainda depende de deslocamentos por via fluvial ou aérea, e, em muitos casos, o único médico disponível é recém-formado, contratado em caráter emergencial e com vínculo temporário.
O Cremam também aponta que apenas 3.047 médicos possuem RQE (Registro de Qualificação de Especialista) — menos da metade dos ativos.
Isso significa que grande parte dos profissionais atua sem especialização formal reconhecida, o que reforça a carência de especialistas em áreas como pediatria, ginecologia, ortopedia e cardiologia no estado.
Mesmo com a ampliação de vagas em cursos de medicina e programas de residência, a evasão para outras regiões continua alta.
A maioria dos formandos busca oportunidades no Sudeste, onde há melhores salários, estabilidade e infraestrutura. Assim, o estado mantém um paradoxo: mais médicos formados, mas pouca cobertura onde a demanda é mais urgente.
A promessa de políticas de interiorização, lançadas por sucessivos governos, ainda não se concretizou plenamente. Programas federais como o Mais Médicos ajudaram a reduzir o vazio assistencial em parte dos municípios, mas o impacto foi temporário.
Sem carreira de Estado, incentivos permanentes e logística adequada, o interior do Amazonas continua sendo uma zona de escassez médica crônica.
O desafio, portanto, não é apenas numérico. O Amazonas precisa repensar sua política de distribuição, fixação e valorização dos profissionais de saúde, com estratégias específicas para áreas remotas.
De nada adianta o número de registros crescer se o cidadão do interior continuar dependendo de longas viagens e improvisos para ter acesso a um simples diagnóstico.


