Carlos Ghosn tinha dois passaportes franceses. O ex-presidente da aliança Renault-Nissan fugiu do Japão onde cumpria pena de prisão domiciliar por acusações de crimes financeiros. Outros três passaportes do empresário estavam retidos.

Ghosn está no Líbano, onde tem cidadania
Foto: Reprodução
A polícia libanesa recebeu nesta quinta-feira (2) uma ordem da Interpol para prender o ex-presidente da Renault-Nissan Carlos Ghosn, que se encontra em Beirute, após fugir do Japão.
O ministro da Justiça do Líbano, Albert Serhan, confirmou que o nome de Ghosn foi incluído na difusão vermelha da Interpol e encaminhado a Promotoria Pública do país, segundo a Agência Nacional de Notícias.
A ordem de prisão internacional ainda não foi encaminhada ao judiciário. A agência de notícias Reuters acrescenta que em casos semelhantes, de alerta vermelho de cidadãos libaneses residentes no país, os indivíduos não foram presos, apenas foi estipulada fiança e confisco dos passaportes.
Carlos Ghosn, que estava sob fiança no Japão, fugiu no último fim de semana, utilizando jatinhos particulares, em uma viagem ainda cercada de mistérios.
Não se sabe, por exemplo, como ele conseguiu driblar a vigilância policial na casa onde vivia em Tóquio. Na terça-feira (31), uma emissora de TV libanesa informou que Ghosn escapou escondido em uma caixa de um instrumento musical, usado por uma falsa banda que se apresentaria na casa dele.
No Japão, Carlos Ghosn é alvo de processos criminais que incluem má conduta financeira — em um deles, é acusado de usar dinheiro da Nissan para fins pessoais.
Após a confirmação da fuga, a promotoria japonesa revogou o acordo de fiança e ele se tornou foragido. Nesta quinta-feira, promotores fizeram buscas na casa dele em Tóquio, em uma tentativa de entender como o ex-titã da indústria automotiva conseguiu escapar.
O ex-presidente da aliança Renault-Nissan tinha dois passaportes franceses, incluindo um que sempre levava em uma mala trancada. Nascido no Brasil, ele também tem cidadania libanesa e francesa.
Alvo de quatro acusações de crimes financeiros e em prisão domiciliar sob fiança desde abril de 2019, Ghosn vivia com certa liberdade de movimento no Japão, mas sob condições estritas. O empresário teria conseguido escapar do país em um jatinho privado com a ajuda de uma empresa privada de segurança, segundo a Reuters.

Sete pessoas são presas na Turquia suspeitas de ajudar na fuga do brasileiro Carlos Ghosn
Após uma escala em Istambul, na Turquia, ele seguiu para Beirute, onde entrou com um passaporte francês e um documento de identidade libanês, de acordo com a presidência libanesa. A Turquia lançou uma investigação sobre a fuga do empresário e sete pessoas foram presas, incluindo quatro pilotos, de acordo com a agência de notícias DHA.
Nesta quinta, as autoridades japonesas fizeram buscas na casa do empresário em Tóquio. Investigadores buscam imagens de vídeo de residências vizinhas que tenham registrado a saída de Ghosn.
Fonte judicial não identificada afirmou à Reuters que as forças de segurança do Líbano receberam um mandado de prisão da Interpol para Ghosn, mas a ordem ainda não foi encaminhada para o departamento de Justiça.
Passaportes
Os advogados do executivo mantinham sob seu controle três passaportes (um francês, um libanês e um brasileiro) – condição imposta pela justiça japonesa desde que ele foi colocado em prisão domiciliar. Porém, Ghosn tinha dois passaportes franceses.
Em maio, uma autorização excepcional do tribunal permitiu que o empresário ficasse com um dos dois documentos franceses trancado em uma mala. A chave dessa mala, no entanto, ficava com seus advogados.
O documento servia como visto de curta duração no arquipélago e ele precisava utilizá-lo em seus deslocamentos internos.
No Japão, estrangeiros devem se deslocar com seu passaporte ou um documento de identidade fornecido por um governo. Então, em caso de um controle, o empresário deveria entrar em contato com um de seus advogados para que ele fosse encontrá-lo (e levar a chave). A imprensa francesa ressalta que essa não era uma condição exclusiva de Ghosn, mas a todas as pessoas que estão em algum regime de liberdade condicional.
As autoridades japonesas não têm registro de que ele tenha, porém, apresentado sua real identidade aos controles de fronteira.
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Procuradores entram na casa do ex-chefe da Nissan Carlos Ghosn, em Tóquio, nesta quinta-feira (2) — Foto: Kyodo/ Reuters
Prisão de Ghosn
Carlos Ghosn foi preso no Japão no dia 19 de novembro de 2018 e, desde então, deixou a presidência do conselho das três montadoras que comandava: da Nissan, da Mitsubishi e da Renault.
Ele foi solto sob pagamento de fiança em março de 2019, após mais de 100 dias detido, mas acabou preso novamente em abril, por novas acusações das autoridades. No mesmo mês, foi solto após pagamento de fiança de US$ 4,5 milhões, valor equivalente a R$ 17,8 milhões. E agora aguardava o julgamento, previsto para 2020.
As circunstâncias da fuga ainda não estão claras. Ele teria usado um jato particular que decolou do aeroporto de Kansai, no oeste do Japão. Segundo a imprensa japonesa, uma aeronave deste modelo teria deixado o país no dia 29 de dezembro, às 23h, em direção a Istambul. A aterrissagem teria acontecido no aeroporto de Atatürk, fechado para voos comerciais.
Na mídia libanesa levantou-se a hipótese que Ghosn teria escapado escondido em uma caixa de instrumento depois de um concerto privado na sua residência. “É ficção pura”, disse a mulher Carole, em conversa com a Reuters.
Pessoas próximas a Ghosn disseram ele foi recebido pelo presidente do Líbano, Michel Aoun.
Já em Beirute, Ghosn divulgou um comunicado em que afirmou que não será “mais ser refém de um sistema judicial japonês fraudulento em que se presume culpa, onde direitos humanos básicos são negados. Não fugi da justiça. Escapei da injustiça e da perseguição política. Agora posso finalmente me comunicar livremente com a mídia e estou ansioso para começar na próxima semana”.
Nesta quinta-feira (2), a secretária de Estado francês para a Economia, Agnès Pannier-Runacher, declarou que o empresário não será extraditado se vier para a França. “A França nunca extradita seus cidadãos, então aplicaremos a Ghosn as mesmas regras que aplicamos para todos. Não é por isso que achamos que ele não deva ser julgado pela Justiça japonesa”, declarou, em entrevista ao canal BFMTV.
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Com G1