Jorge Antonio Peixoto Donato foi condenado a sete anos de prisão pelo STM. Contra ele, existe um mandado de prisão expedido há quatro meses

O governo federal pagou ao menos oito parcelas do auxílio emergencial para um ex-coronel médico do Exército Brasileiro (EB) condenado por fraudar R$ 818.625,42 de dinheiro público.
Jorge Antonio Peixoto Donato, de 59 anos, teve a pena por estelionato aumentada para sete anos e dois meses de prisão em setembro de 2018 pelo Superior Tribunal Militar (STM).
Um mandado de prisão foi expedido contra o ex-coronel em setembro do ano passado, mas ainda não foi cumprido. De acordo com O Metrópoles a informação é baseada nos dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
O auxílio emergencial foi criado, em abril do ano passado, para atender famílias de baixa renda em meio à crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus.
O médico, que tem situação regular no Conselho Regional de Medicina de Goiás (CRM-GO), recebeu cinco parcelas de R$ 600 e outras três de R$ 300, segundo a Dataprev. A nona parcela está com a Caixa Econômica.
A legislação proíbe o pagamento do benefício a cidadãos que declararam à Receita Federal (RFB), em 2019, renda superior a R$ 28.559,70 ou patrimônio maior que R$ 300 mil.
Além de estar ainda com um mandado de prisão em aberto, Jorge Donato é ex-coronel (alta patente), médico e ainda possui em seu nome uma microempresa ativa especializada em atividade médica ambulatorial restrita a consultas, segundo dados da Receita Federal.
Entenda a fraude – Jorge Donato estaria morando em Goiânia (GO), onde era chefe do Posto Médico da Brigada de Operações Especiais do Exército Brasileiro. Segundo denúncia apresentada pelo Ministério Público Militar (MPM), o coronel emitiu inúmeras guias, entre 2004 e 2012, do Fundo de Saúde do Exército (Fusex) em nome próprio, ou no de dependentes, sem ter feito o serviço.
Para realizar o estelionato, o criminoso contava com a ajuda de empresas da área de saúde, que repassavam o montante obtido ilegalmente para a conta do militar.
Grande parte dessas guias foram emitidas, segundo a denúncia do MPM, em favor da Cooperativa Médica do Estado de Goiás (Comego) e do Hospital Santa Genoveva, especialmente nos anos de 2009 e 2010.
Administrada pela Comego, a empresa Clínica Global Vita Segurança e Medicina do Trabalho e Medicina Ambulatorial Ltda., da qual Jorge era sócio, recebeu R$ 965.531,03 do Fusex.
Parte desse montante teria sido revertido para a conta do denunciado. Esquema semelhante pode ter ocorrido com a empresa Nuvem Branca, do Hospital Santa Genoveva. As investigações incluíram quebras de sigilo do oficial.
“Assim, os conveniados recebiam os valores e posteriormente repassavam para a conta do denunciado, diretamente ou por intermédio dos sócios daquelas instituições e de empresas de participação”, relatou o MPM.
O procedimento fraudulento também envolvia a emissão de guias da Fusex para pagar procedimentos médicos que haviam sido cobertos por outros planos de saúde.
Uma guia emitida em nome da paciente Mariana Gomes Donato, filha do então coronel do Exército, foi usada, na realidade, para pagar a cirurgia de septação gástrica de Carlos Luiz dos Santos.
Jorge Donato foi demitido em 2013. Após uma condenação inicial que estabeleceu pena de cinco anos, os procuradores pediram o aumento da condenação, acatado pelo STM.
“A gravidade do crime é elevada, eis que a conduta lesou o Fundo de Saúde do Exército, órgão responsável pela saúde da família militar, que tem enfrentado dificuldades financeiras face a escassez de recursos”, explicou o MPM.
Outro lado – Jorge Donato e sua filha (também citada na denúncia do MPM), responderam a imprensa. A defesa do criminoso, representada pelo advogado Rafael Naves de Oliveira Santos, também foi procurada, mas não retornou os contatos da reportagem.
O Exército Brasileiro (EB), do mesmo modo, não se manifestou até a última atualização desta reportagem. Em todos esses casos, o espaço segue aberto para futuras manifestações.
Por sua vez, o Ministério da Cidadania, responsável pela gestão do auxílio emergencial, informou que “trabalhou diuturnamente para a evolução do maior benefício de âmbito nacional já criado para assistir à população mais vulnerável. Em oito meses de operação, o benefício alcançou cerca de 68 milhões de brasileiros, num investimento da ordem de R$ 292,9 bilhões”.
O Ministério da Cidadania também enviou, no último mês de dezembro, mensagens de SMS alertando os cidadãos para devolução dos recursos que, porventura, tenham sido contemplados de maneira indevida.
Até o momento, 205 mil pessoas que receberam o benefício, mas não se enquadravam nos critérios da lei, devolveram os recursos do auxílio emergencial. Com isso, voltaram aos cofres públicos R$ 240,4 milhões.
Fonte: O Metrópoles