
A polêmica em torno das declarações do jornalista e apresentador Pedro Bial, sobre o ex-presidente Lula continua rendendo. Colegas de profissão do profissional e fãs do político reagiram e ontem Bial escreveu na edição impressa do jornal ‘Folha de S. Paulo’ sobre o tema, explicando porque só entrevistaria o petista com um detector de mentiras.
No artigo ‘O passado como polígrafo’, Bial esclarece porque disse o que disse no ‘Manhattan Connection’, na TV Cultura. “Tem algum convidado que não vai ao seu programa? Todo mundo quer ir ao seu programa”, comentou Lucas Mendes.
“O Lula, ele até já disse que gostaria de fazer o programa comigo, mas aí tinha que ser ao vivo. Pode até ser ao vivo, mas aí teria que ter um polígrafo acompanhando todas as falas dele”, respondeu Bial, irônico. Os jornalistas da bancada riram.
As reações vieram em seguida pelos lulistas na internet, que criticaram Bial:
“Um apresentador ou jornalista de TV não deve assumir o papel de julgador a fim de sentenciar se o entrevistado mente ou diz a verdade”, argumentou um seguidor do petista.
“A missão do âncora de um talk show jornalístico é conseguir boas declarações, sejam verdadeiras ou falsas, de quem está diante dele. O julgamento moral cabe ao público de casa”, disse outro lulista.
No artigo, o apresentador revela o episódio que explica sua desconfiança a respeito de Lula. “No fim de 2005, o então presidente me recebeu no Palácio do Planalto para uma entrevista sobre o escândalo do mensalão, que àquela altura trazia a sombra do impeachment”, relembra.
“A entrevista tocou em pontos sensíveis, como era da obrigação de entrevistador e entrevistado. Fiz perguntas incômodas, sempre de forma educada”, escreve. “Concluída a gravação, Lula nos convidou, afável, para conversar na sala de reuniões ao lado de seu gabinete. Num papo amigável, de mais de uma hora, pediu opiniões, e as ouviu como se fossem conselhos.”
A gravação foi ao ar em 1º de janeiro de 2006 no ‘Fantástico’. No dia seguinte, o ‘Jornal Nacional’ exibiu alguns trechos. Bial revela o desdobramento. “Oito anos depois, diante de uma claque de blogueiros governistas, Lula inventou uma versão daquele encontro no Planalto. “Vocês estão lembrados da agressividade do Bial quando ele foi me entrevistar no Palácio? Eu poderia ter levantado e falado: ‘Cai fora do meu gabinete!’. Não. Eu falei: ‘Vou mostrar para esse cidadão que educação a gente não aprende na escola, a gente aprende no berço’”, disse o ex-presidente.”
Explicação dada, entende-se o ceticismo do jornalista da Globo sobre o que Lula poderia dizer em eventual entrevista ao vivo em seu ‘Conversa com Bial’. Sentiu-se traído e humilhado pelo ex-presidente. Não gostou da versão contada pelo petista sobre os bastidores da entrevista. “Lula sabe muito bem que já mentiu a meu respeito. A verdade está registrada, há provas e testemunhas”, justifica.
No texto em tom de desabafo, o âncora cita quatro pessoas que assistiram à conversa amigável com as câmeras desligadas, quando o então presidente não demonstrou irritação com as perguntas e, mais do que isso, forjou intimidade com a equipe da Globo. “Seus assessores André Singer e Clara Ant são testemunhas”, afirma Pedro Bial. “Além deles, os diretores do Jornalismo da Globo, Carlos Schroder e Ali Kamel, também estavam presentes.”
Agora, mais do que nunca, seria interessante acompanhar um ‘cara a cara’ entre Bial e Lula, ao vivo ou gravado, com ou sem polígrafo.


