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Ah, Manaus… nova e velha Manaus

*Augusto Bernardo Cecílio

   Impossível não se apaixonar por Manaus. Irremediavelmente, à medida que se conhece esta cidade, mais se encanta por ela. Mas, proporcionalmente ao gostar, à paixão, à admiração pelos seus encantos, temos que reconhecer seus graves problemas sociais, urbanísticos, econômicos e políticos.

   Sim, muitos haverão de admitir que todas as capitais brasileiras, sem exceções, têm suas mazelas, seus defeitos e pecados, mas há problemas que já estão inseridos no contexto da cidade desde suas primeiras edificações. Para ilustrar um desses crônicos entraves podemos citar o transporte coletivo, desde o tempo das empresas de ônibus com carroceria de madeira a população padece para se locomover pela cidade. Apesar do significativo aumento da malha viária e da quantidade de veículos, os problemas também se agigantaram.

   A questão habitacional, apesar de todos os esforços dispendidos, nos últimos 30 anos, ainda está aquém de atender às necessidades de uma metrópole. Nesse item, Manaus parou no tempo. “Sem a devida preparação para fazer face à competência urbana e não encontrando condições mínimas de participação e promoção social e econômica, essas populações tendem rapidamente a marginalizar-se nos grandes centros urbanos. O aparecimento das estâncias, cortiços, favelas e mocambos constituem expressões dessa luta pela conquista, a qualquer custo, do teto e do emprego”. Escreveu o professor Samuel Benchimol, no prefácio do livro Aspectos Econômicos e Sociais da Cidade Flutuante, de autoria de Celso Luiz Rocha Serra e Wilson Rodrigues da Cruz, editado em 1964. Mais de meio século depois o enunciado do professor Benchimol está atualizadíssimo.

   Esta pujante cidade, cravada na maior floresta do planeta, batizada com o mais típico e original topônimo, que experimentou o apogeu e o declínio da borracha, onde os números das elevadas temperaturas se confundem com os índices pluviométricos. Esta terra inóspita por natureza acabou por produzir uma legião de nativos que, somados aos imigrantes acolhidos de outros estados e de outros países, fazem Manaus dar certo, pois essa terra não é para os fracos.

   O calor de Manaus produz gente acolhedora, que inventa e reinventa o meio de trabalho. Gente daqui, gente de lá, gente de todas as épocas, de todos os credos, construíram e constroem, a cada dia esta metrópole. O que já foi “París dos Trópicos“ ainda respira um status imponente marcado pelos monumentos e espaços públicos que a história se encarregará de perpetuar. O “Porto de Lenha“ do século XXI abriga indústria 4.0 e contribui satisfatoriamente com a economia nacional. Para cada R$ 1,00 de renúncia fiscal do Governo Federal, a Zona Franca de Manaus dá um retorno de R$ 1,30.

   Dos Manaós a Manaus, lá se vão 350 anos de história, de memórias, de crescimento e de saudades. A “Árvore da Fortuna” sucumbiu, os bondes elétricos já não existem mais, a cidade flutuante desapareceu. Nasceu e cresceu uma nova cidade que, com toda dificuldade, ainda tenta preservar o glamour da Belle Époque e, de quando em vez, celebra a memória do que viveu. O passado, de certo, não volta, mas ajuda-nos a pesquisar, descobrir e se apaixonar por esta cidade, pelos que antes de nós, antes de nossos avós viveram o início de tudo, o berço de Manaós ou Manau que, na língua indígena, significa “mãe dos deuses”. Sendo assim, Manaus é mãe de todos nós.

*Parintinense e Cidadão de Manaus.

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