HIV-AIDS no Amazonas registrou, em 2024, um total de 2.776 novos casos da doença.
O painel epidemiológico de HIV-AIDS no Amazonas registrou, em 2024, um total de 2.776 novos casos da doença, representando um aumento de 29 casos em relação a 2023, quando foram notificados 2.747 casos.
Esse número corresponde ao terceiro maior da série histórica elaborada pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas Doutora Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), ficando atrás apenas dos registros de 2022 (2.991 casos) e 2021 (2.816 casos).
Os dados indicam que, como em todos os anos anteriores, a maioria dos novos casos em 2024 foi detectada em homens na faixa etária de 20 a 39 anos, totalizando 1.334 casos – 48,1% do total. Outro dado preocupante é o número de óbitos, que alcançou 298 pessoas.
Em 2023, o Amazonas figurava como o segundo Estado com a maior taxa de detecção de novos casos de HIV-AIDS no Brasil. Segundo esse indicador, o Amazonas registrou 32,5 novos casos para cada grupo de 100 mil habitantes, ficando atrás apenas de Roraima, que registrou 41,5.
Em comparação, a média nacional é de 17,8 casos por 100 mil habitantes, enquanto Minas Gerais, que ocupa a melhor posição nesse ranking, apresenta apenas 11,5 casos por 100 mil habitantes – quase três vezes menos que o Amazonas.
Esses números já vêm causando alarme entre cientistas e pesquisadores da região, que acompanham atentamente a evolução da epidemia.
Em setembro do ano passado, um artigo intitulado “Mortalidade de AIDS no Amazonas: Descrição analítica retrospectiva de cinco anos”, publicado na revista Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, destacou que, de 2019 a 2023, foram notificados 190.060 casos de infecção pelo HIV em todo o Brasil.
Deste total, 24.667 ocorreram na região Norte, sendo 7.533 somente no Amazonas, com 606 internações por manifestação da AIDS, acompanhadas de um crescimento anual de 8,0%.
O estudo apontou, ainda, que Manaus apresentou, no período investigado, um coeficiente médio de mortes de 6,9%, com um crescimento anual de 7,8%, sendo a maioria dos casos na faixa etária de 20 a 39 anos.
Sob condições de anonimato, um médico especialista em HIV-AIDS afirmou que a predominância dos casos na faixa etária dos 20 aos 39 anos – o auge da vida sexual adulta e da boêmia noturna – indica que os indivíduos afetados não presenciaram os efeitos devastadores da doença que marcaram os primeiros anos da epidemia, como a agonia vivida pelo cantor Cazuza.
“Essas pessoas que estão se contaminando não viram, por exemplo, a agonia do Cazuza, e por isso se comportam sem qualquer tipo de preocupação. Já na faixa etária acima de 60 anos, o nível de contaminação é muito baixo”, afirmou o especialista.
Ele concluiu que essa retomada na curva ascendente da epidemia deve-se, em parte, ao sucesso dos tratamentos, que hoje permitem ao paciente viver com qualidade de vida quase plena, diminuindo o temor de uma morte lenta e debilitante.
No entanto, o médico alerta que é urgente o retorno de campanhas publicitárias massivas para alertar a população, especialmente os jovens, sobre os perigos do HIV-AIDS.
Ele enfatiza que, sem uma política de prevenção consistente e contínua, o descontrole da epidemia poderá acarretar ainda mais tragédias e sobrecarregar o sistema de saúde da região.
Medicação gratuita
Pessoas de 15 a 45 anos que fazem uso do medicamento para a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP), pelo Sistema Único de Saúde (SUS) podem receber a vacina contra o HPV – papilomavírus humano. A informação consta na nota informativa nº38/2024, da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas- Dra. Rosemary Costa Pinto e disponível no site www.fvs.am.gov.br.
Segundo a farmacêutica da FMT-HVD, Alrilene Sant, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza diversos tipos de medicamentos e todos os tratamentos, disse ela, seguem o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde.
De acordo com ela, a terapia antirretroviral (Tarv), tratamento que combina medicamentos para impedir a multiplicação do vírus HIV no organismo, oferece benefícios significativos, como o aumento da expectativa de vida, redução da progressão da doença, prevenção de comorbidades (como cardiovasculares e renais), além de melhorar a qualidade de vida e agir na redução da transmissão do vírus.
A farmacêutica explica que a Tarv deve ser iniciada no mesmo dia ou em até sete dias após o diagnóstico da infecção pelo HIV.
A continuidade do tratamento, frisa a médica, é muito importante. “A equipe multidisciplinar da FMT-HVD faz o acolhimento e cuidado aos pacientes, estabelecendo uma abordagem individualizada, até que a pessoa esteja adaptada e familiarizada com o tratamento”, destaca.
“Para o início do tratamento, utilizamos dois tipos de medicamentos: o Dolutegravir e a combinação Tenofovir + Lamivudina, conhecidos como 2 em 1, já que são duas substâncias em um único comprimido. Esses são os medicamentos mais utilizados, mas também há outras classes de antirretrovirais disponíveis”, explica a profissional.
Alrilene Sant também chama atenção para a existência de uma nova medicação, composta por Dolutegravir e Lamivudina, comercializada sob o nome de “Dovato”. Esse medicamento permite que a pessoa viva com HIV usando apenas um comprimido ao dia.
Todos os medicamentos para a Tarv estão disponíveis gratuitamente no SUS, assim como o tratamento, que é recomendado para todas as pessoas que testarem positivo para HIV.
Além do tratamento com medicamentos, é necessária a realização de exames complementares para acompanhar a condição clínica da pessoa vivendo com HIV/Aids. A frequência desses exames é orientada pelos profissionais de saúde, considerando a condição clínica do paciente e o uso da Tarv.
Outros serviços
Equipes da FMT- HVD ofertam para os pacientes da unidade com HIV/Aids serviços de psicoterapia, com atendimento psicológico disponível após o diagnóstico. Outro serviço ofertado é o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), que realiza exames, oferece aconselhamento e acompanha os pacientes em todo o processo médico.
A Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado está localizada na avenida Pedro Teixeira, bairro Dom Pedro, zona centro-oeste de Manaus.
Quem pode se vacinar contra o HPV
O Ministério da Saúde desde maio adotou o esquema de dose única para crianças e adolescentes imunocompetentes como medida para intensificar a proteção contra o câncer de colo do útero e outras complicações causadas pelo HPV.
. Crianças e adolescentes de 9 a 14 anos;
. Pessoas de 9 a 45 anos que vivem com HIV e AIDS, pacientes oncológicos, pessoas com papilomatose respiratória recorrente (PRR) e transplantados, que necessitam de três doses.
. Pessoas imunocompetentes de 15 a 45 anos que foram vítimas de violência sexual, também com esquema de três doses; e
. Pessoas que fazem uso do medicamento para a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP), de 15 a 45 anos, desde que apresente receita de PrEP com data dos últimos 4 meses. A receita de PrEP poderá ser prescrita por enfermeiros, farmacêuticos ou médicos.