Em menos de um ano, o estado do Amazonas enfrenta novamente enchentes dos rios acima dos níveis considerados normais por especialistas em hidrologia. A chamada cheia extrema, que provoca inundações, transbordamentos, danos econômicos e humanitários às populações ribeirinhas e das zonas urbanas, já elevou para mais de 29 metros as águas do rio Negro, um dos formadores do Amazonas junto com o rio Solimões, na altura de Manaus. A expectativa é que a cheia ultrapasse os mais de 30 metros registrados em junho de 2021.
No dia 1º de junho de 2021, o rio Negro atingiu a marca de 29,98m, ultrapassando a marca histórica anterior, de 2012. No dia 15 de junho subiu mais ainda, chegando a 30,02m.
Atualmente, dos 62 municípios do estado, 59 estão sofrendo danos por causa das cheias dos rios, principalmente a falta de alimentos porque as lavouras estão inundadas. Um total de 320.222 pessoas estão diretamente afetadas, segundo levantamento da Defesa Civil do Estado.
Para 2022, as previsões são semelhantes as do ano passado, indicando uma recorrência de cheia elevada para o manancial. De acordo com o monitoramento de hidrologia do Serviço Geológico do Brasil (sigla CPRM), a média prevista para este ano será de 29,80m, mas podendo chegar até 30,30m.
As enchentes extremas, segundo os especialistas, são provocadas pelo fenômeno La Niña (esfriamento do Oceano Pacífico), que ocorre desde meados de 2020. Nos últimos anos, o fenômeno tem se tornado mais frequente, com menos intervalos entre si.
Na quarta-feira (18), o rio Negro atingiu a marca de 29,29m, ultrapassando a cota de inundação severa, conforme diz o CPRM, empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia. A cota de inundação severa é quando o rio chega a 29 metros e começa a inundar a rua dos Barés, no centro de Manaus. Com a subida das águas, as galerias que ficam abaixo das ruas transbordam e inundam esta via e ruas adjacentes. A Defesa Civil iniciou a construção de 250 metros de passarela para o tráfego de pedestres na rua
Nos municípios de Manacapuru e Itacoatiara, os rios Solimões e Amazonas também atingiram a cota de inundação severa ao chegarem a 19,62m e 14,72m, respectivamente. Também deverá ocorrer uma cheia expressiva nos municípios de Manacapuru, Itacoatiara e Parintins.
Cheias históricas
Em dez anos, Manaus registrou seis das maiores cheias do Negro. E em nove anos foram três registros históricos: 2009, 2012 e 2021. Segundo a pesquisadora Luna Gripp, do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), apesar de ser grande a probabilidade de uma grande inundação mais uma vez, isso não significa que a cheia será tão grande quanto a de 2021. No momento, os impactos das inundações, que já começaram, são sentidos em cidades do interior do Amazonas e também em Manaus.
O mais município do interior mais atingido é Manacapuru, com 38.690 pessoas afetadas e 9.673 famílias atingidas. Os demais municípios são: Guajará, Envira, Eirunepé, Ipixuna, Boca do Acre, Itamarati, Juruá, Careiro da Várzea, Canutama, Benjamin Constant, Lábrea, Tabatinga, Borba, Itacoatiara, Atalaia do Norte, Carauari, Rio Preto da Eva, Japurá, Santo Antônio do Içá, Manaquiri, Caapiranga, Nova Olinda do Norte, Tefé, Anamã, Boa Vista do Ramos, Maués e Careiro Castanho.
Em Manaus, a estimativa da Prefeitura é de que 14 comunidades rurais sejam afetadas, principalmente as que estão localizadas à margem esquerda do rio Negro.
O secretário executivo da Defesa Civil Municipal, coronel Fernando Júnior, disse que em breve deve ser decretada situação de emergência e que o trabalho executado este ano segue o mesmo parâmetro da cheia de 2021.
“O trabalho da Defesa Civil é muito parecido por conta da severidade que se apresenta esse ano. Já foram feitas mais de três mil pontes e passarelas na capital. Os principais bairros atingidos já estão sendo assistidos por essas pontes e passarelas”, disse.