
Por unanimidade, os diretores da Agência Nacional de Transportes Aquaviários ( Antaq ) autorizaram a empresa Super Terminais a operar um píer flutuante voltado para o transbordo de grãos em Itacoatiara (município a 175 quilômetros de Manaus). A companhia terá que formalizar contrato com o Ministério de Portos e Aeroporto para iniciar a operação.
O relator do processo, Wilson Pereira de Lima Filho, concluiu que o terminal é juridicamente adequado, tecnicamente viável, não gera conflitos concorrenciais nem operacionais e cumpre as exigências legais e ambientais. O voto dele foi acompanhado pelos diretores Caio César Farias Leôncio, Alber Furtado de Vasconcelos Neto e Flavia Morais Lopes Takafashi.
Wilson enquadrou a estrutura proposta pela Super Terminais como TUP (Terminal de Uso Privado), e não como ETC (Estação de Transbordo de Carga), por reconhecer que ela servirá para o escoamento de escoamento de cargas por via marítima, inclusive com previsão de atendimento a navios graneleiros do tipo Panamax.
Atualmente, segundo dados do governo federal, em Itacoatiara há outras dois empreendimentos deste porte: o TUP Graneleiro Hermasa e o TUP Terminais Fluviais do Brasil. Existe, ainda, uma ETC, da Equador Log.
Em abril, a Antaq abriu prazo, por meio de Anúncio Público, para que outras empresas manifestassem interesse em empreendimento semelhante. No entanto, nenhuma companhia apresentou proposta. “A requerente foi a única habilitada, (…) não tendo havido manifestação de outros interessados”, afirmou o relator.
O modelo de terminal portuário proposto pela Super Terminais é similar ao utilizado para operações emergenciais de contêineres na seca de 2024: um píer flutuante de 240 metros de extensão e três guindastes. O píer será fixado no meio do rio, no mesmo local do porto provisório.
O “Super Terminais Itacoatiara” ou “Porto Verde” será usado especificamente para “operações de transbordo de granéis sólidos” entre navios graneleiros e barcaças, sem a necessidade de armazenagem das cargas. A Super Terminais estima movimentar 2,5 toneladas por hora de grãos.
Com investimentos de R$ 126 milhões, a empresa quer ampliar as suas atividades e proporcionar novas alternativas de escoamento de cargas no país, principalmente grãos. Atualmente, a outras empresas realizam o embarque e desembarque de produtos.
“A nova instalação portuária planejada pela Requerente [Super Terminais] tem como principal objetivo impulsionar as exportações de granéis do arco norte, revolucionando as operações tradicionais e aumentando a eficiência”, disse empresa, no pedido enviado à Antaq.
Seca
O modelo de porto flutuante foi considerado estratégico para o transporte de insumos do PIM (Polo Industrial de Manaus) na estiagem no ano passado. O Rio Amazonas atingiu níveis críticos e os navios cargueiros procedentes do Oceano Atlântico não puderam navegar até Manaus.
Em Itacoatiara, as cargas eram transferidas para barcaças (e vice-versa), que seguiam até o destino, sem interromper as atividades industriais do estado, concentradas na capital. Os desafios obrigaram o setor logístico no Amazonas a se adaptar.
Com o crescimento do uso barcaças, as empresas do setor naval aumentaram a produção de embarcações de menor calado, que são capazes de operar mesmo com níveis reduzidos dos rios. Em janeiro deste ano, as companhias tiveram aumento de 405% no faturamento.
Rota da exportação
Ao propor a construção de novo porto, a Super Terminais afirmou que pretende “proporcionar novas alternativas de escoamento de cargas no país”. O transporte hidroviário na região amazônica tem se tornado cada vez mais forte por ser mais barato que o rodoviário.
Além da questão econômica, Itacoatiara está no arco norte, uma rota de exportação de grãos do centro-oeste brasileiro. O município já tem portos capazes de receber cargas de navios de grande porte, que chegam ao Oceano Atlântico através do Rio Amazonas.
Há muitos anos, a empresa Amaggi (Grupo André Maggi), que é proprietária do Porto da Hermasa, realiza o embarque e desembarque de produtos, especialmente grãos, que são transportados de Mato Grosso a Itacoatiara pelo Rio Madeira.
A empresa Terminais Fluviais do Brasil também opera em Itacoatiara e movimentou cerca de 3 milhões de toneladas de cargas, incluindo grãos, em 2023. Apesar da queda na movimentação devido a seca extrema, o terminal continua sendo uma importante infraestrutura logística na região.