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Antes de Cristo: descobertas de geoglifos revelam civilizações no Amazonas

O Instituto Geoglifos da Amazônia apresenta registros nunca antes vistos de estruturas milenares localizados no município de Boca do Acre, no Amazonas.

Uma civilização indígena que habitou o município de Boca do Acre (a 1.561 quilômetros de Manaus) mil anos antes de Cristo tinha conhecimento avançado para a época de geometria e deixou desenhos e monumentos no solo daquela região. Pesquisadores chamam de geoglifos.

A descoberta é do paleontólogo Alceu Ranzi, que coordena o projeto “Desvelando o passado profundo”. Ele sobrevoou o Sul do Amazonas com uma equipe de fotógrafos entre os dias 4 e 9 deste mês para registar os desenhos.

Segundo Ranzi, os geoglifos são estruturas escavadas no solo e formadas por pequenas valas e muretas que criam figuras geométricas de diferentes formatos e dimensões. Um dos desenho tem vala de quatro metros de largura, três de profundidade e 200 metros cada lado do quadrado, mas existe uma variedade de desenhos de diferentes tamanhos na região pesquisada.

“Aqui na Amazônia viveu gente capaz que nos deixou uma mensagem semelhante à que os egípcios deixaram nas pirâmides. E essas pessoas que viveram aqui, nossos ancestrais amazônicos, dominavam a geometria, ao mesmo tempo que os gregos manejavam as figuras geométricas. Então, temos aqui mensagens de um passado distante que precisamos conhecer e desvelar”, diz Ranzi.

Os estudos estão no início, mas o pesquisador afirma que os “ancestrais amazônicos” viveram na região durante dois mil anos e a hipótese mais aceita é que os geoglifos estão relacionados com cerimônias.

“Os desenhos e monumentos que encontramos são de rituais religiosos, semelhantes a desenhos que existem, por exemplo, no Peru, as linhas de Nazca, e a datação nos conduz a um período de mil anos antes de Cristo até mil anos depois de Cristo”, diz o paleontólogo.

Durante as pesquisas, a civilização indígena pré-europeia foi “batizada” pelo pesquisador, de “Civilização Aquiry”, que faz referência ao Rio Acre, que passa pelo município de Boca do Acre e onde habita o povo Apurinã.

“A gente achou que esse nome seria válido para denominar essa civilização que aí viveu. Em 1865, um pesquisador chamou o rio de Aquiri, que, posteriormente, foi mudando o nome e hoje chamamos de Rio Acre. Além disso, Boca do Acre é a terra do povo indígena apurinãs. Ainda não podemos afirmar com certeza, os antropólogos irão dizer, mas, talvez, os apurinãs sejam um contínuo dessa civilização pré-europeia. Os apurinãs são milenares naquela região”, diz Ranzi.

Quebra de paradigma

Durante a apresentação da descoberta no Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), no Centro Histórico de Manaus, na manhã de quinta-feira (22), o paleontólogo disse que o achado pode representar uma “quebra de paradigma” nos estudos de História do Amazonas.

“Acredito que vamos contribuir para uma mudança nos livros de História e que os nossos alunos se sintam mais motivados a estudar nossa realidade, a realidade dos povos que nos antecederam. Não significa que os estudantes vão deixar de estudar a história geral, mas vamos contribuir para que coloquem nos livros de História e Geografia as imagens dos geoglifos amazônicos. Temos que valorizar o que é nosso. E os geoglifos são nossos, são do Amazonas”, diz Ranzi.

Segundo o pesquisador, a descoberta não é só importante para a comunidade científica e acadêmica, mas também tem relevância para as autoridades públicas da região.

“É o começo de algo maior. Sabe lá se isso é um universo de milhões de quilômetros quadrados. É uma nova visão, uma nova maneira de olhar. As civilizações indígenas que habitavam as terras amazônicas eram extremamente inteligentes. Primeiro, eles tiveram que dominar o ambiente para sobreviver. Obviamente, que caçar e pescar era o alimento. Mas eles tinham solucionado todos esses problemas”, diz Ranzi.

“Eles eram inteligentes, dominavam a geometria, dominavam a monumentalidade, certamente tinham seus rituais e deixaram essas marcas para dizer que eles estiveram aqui, olha o que nós somos capazes de desenhar. Tudo isso é uma mensagem que ainda deve ser desvendada”, complementa o pesquisador.

Ainda segundo o estudioso, os geoglifos amazônicos encontrados são “obras de arte” de uma época em que uma civilização não estabeleceu fronteiras. “As fronteiras foram colocadas depois. As fronteiras são nossas. Não havia Amazonas, Rondônia, Acre, não havia Amazônia. Era um território imenso, habitado por civilizações antes da chegada do homem europeu”, diz Ranzi.

Os próximos passos da pesquisa são colocar as coordenadas geográficas do achado no GPS (Global Positioning System) e fazer um mapa de cada geoglifo encontrado, diz Ranzi.

“A ideia é divulgar o estudo em uma revista científica. E o próximo projeto, talvez o mais próximo, será fazer uma grande exposição de fotos aqui em Manaus e levarmos essa exposição também ao município de Boca do Acre”, afirma.

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