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Arqueólogos descobrem urnas feitas com argila rara em município amazonense

Peças foram encontradas sob árvore tombada em ilha artificial no Médio Amazonas e revelam práticas funerárias e alimentares de povos indígenas da região.

Urnas de cerâmica com fragmentos de ossos humanos, de peixes e quelônios foram encontradas no município de Fonte Boa (a 1.033 quilômetros de Manaus) por arqueólogos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

A descoberta, segundo os pesquisadores, ocorreu próxima Lago do Cochila e as urnas e o material serão analisados para saber como os povos originários da região do Médio Solimões viviam.

“São (as urnas) de grande volume, sem tampas de cerâmica aparente, o que pode indicar o uso de materiais orgânicos para selamento, hoje já decompostos. Elas estavam enterradas a 40 cm de profundidade, provavelmente sob antigas casas”, diz a pesquisadora Geórgea Layla Holanda.

É possível identificar visualmente argila esverdeada rara usada nas urnas, além de fragmentos com engobes (revestimento líquido, geralmente à base de argila) e faixas vermelhas que, até o momento, não apresentam associação direta com tradições cerâmicas conhecidas, segundo os arqueólogos.

O sítio arqueológico está em área alagada e na época foi elevado artificialmente com terra e fragmentos de cerâmica para sustentar moradias durante as cheias.

“Essas ilhas artificiais são estruturas arqueológicas levantadas em áreas de várzea mais altas, com material removido de outras partes e misturado com fragmentos cerâmicos, intencionalmente posicionados para dar sustentação”, diz o arqueólogo Márcio Amaral. “É uma técnica de engenharia indígena muito sofisticada, que mostra um manejo de território e uma densidade populacional expressiva no passado”, complementa.

Retirada de urna de raiz de árvore: peças raras (Foto: Márcio Amaral/Instituto Mamirauá)
Retirada de urna de raiz de árvore: peças raras (Foto: Márcio Amaral/Instituto Mamirauá)

Participação da comunidade

A descoberta arqueológica só foi possível com a participação da Comunidade São Lázaro do Arumandubinha, que encontrou potes de cerâmica entre a raiz de uma árvore que havia caído.

O manejador de pirarucu Walfredo Cerqueira comentou sobre o achado com o padre Joaquim Silva no município de Tefé (a 526 quilômetros de Manaus) e o sacerdote entrou em contato com os arqueólogos do Mamirauá, que organizaram expedição ao local. “Nunca tínhamos escavado assim, a 3,20 m do chão. Foi um trabalho totalmente colaborativo e inédito”, diz Amaral.

De acordo com o pesquisador, o transporte das urnas até a sede do Instituto Mamirauá, em Tefé, exigiu um enorme esforço logístico. A operação envolveu o uso de canoas, acampamentos temporários e métodos artesanais para garantir a proteção das peças.

O município de Fonte Boa está a 190 km de Tefé em linha reta, mas a viagem pelo rio pode levar de 10 a 12 horas, dependendo das condições do curso d’água e da embarcação utilizada. O sítio arqueológico está localizado a várias horas da comunidade mais próxima, exigindo deslocamentos por igarapés e áreas alagadas.

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