O Norte e o Nordeste são as regiões que mais sofrem com o problema alimentar no país, de acordo com a Rede Brasil

Realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), com dados coletados em novembro do ano passado até abril deste ano, ainda sob os impactos da pandemia de Covid-19, um levantamento da entidade aponta que 33,1 milhões de brasileiros passam fome.
Ainda segundo a associação, o número de domicílios com moradores em situação de fome saltou de 9% (19,1 milhões de pessoas) para 15,5% (33,1 milhões de pessoas) nesse período.
Segundo o levantamento, a fome dobrou nas famílias com crianças menores de 10 anos, passando de 9,4%, em 2020, para 18,1% em 2022.
“Na presença de três ou mais pessoas com até 18 anos de idade no grupo familiar, a fome atinge 25,7% dos lares. Já nos domicílios apenas com moradores adultos, a segurança alimentar chegou a 47,4%, número maior do que a média nacional”, diz o estudo da Rede Brasileira, que reúne associados em todo o país.
Para a associação, nem mesmo os auxilios dos governos – União, Estado e Município – serviram para diminuir a insegurança alimentar, que cresceu, inclusive nos domicílios que recebiam auxílio financeiro dos programas Bolsa Família e Auxílio Brasil.
Apesar da deflação nos últimos dois meses e a queda do desemprego de 15% para 9,2% – pouco mais de 9 milhões -, o estudo aponta que a fome é uma realidade para 32,7% das famílias que relataram o recebimento dos benefícios e para 29,4% das que não o receberam, no período de nobembro do ano passado a abril de 2022.
Os estados do Norte e Nordeste – em sua maioria governados pelo Partido dos Trabalhadores – são onde estão as famílias com maior insegurança alimentar, quatro em cada 10, onde a fome tem formas mais severas (moderada e grave). O Maranhão, governado por Flávio Dino (PCdoB), registra o pior percentual, 63,3%.
Quando o tema se volta a lares com crianças, os índices da fome aumentaram em dois anos. Nos domicílios onde há crianças abaixo de 10 anos, o índice de insegurança alimentar é de 37,8%. O Maranhão, governado por Flávio Dino (PCdoB), registra o pior percentual, 63,3%, seguido do Amapá, 60,1%, e Alagoas, 59,9%.
Ipea contesta
Um estudo assinado pelo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Erik Alencar de Figueiredo, contesta pesquisas recentes que apontam o aumento no número de brasileiros em situação de insegurança alimentar ou com fome.
O presidente do Ipea conclui que as internações decorrentes de má nutrição deveriam ter aumentado nos últimos anos.
“O aumento da fome deveria ter resultado em um choque expressivo no aumento de internações por doenças decorrentes da fome e da desnutrição, além de um número maior de nascimentos de crianças com baixo peso. O que não vem acontecendo”, segundo ele.
“De forma surpreendente, esse crescimento [de insegurança alimentar e desnutrição] não tem impactado os indicadores de saúde ligados à prevalência da fome, o que contraria frontalmente a literatura especializada”, afirma, Figueiredo em documento que contesta os levantamentos atuais sobre os números da fome no Brasil.
Prato Cheio

O Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado da Assistência Social (Seas), mantém um programa de combate à fome em todo o estado. Denominado Prato Cheio, o projeto tem 44 restaurantes populares funcionando atendendo a população em situação de vulnerabilidade social, das 11h às 13h, de segunda-feira a sábado.
Os clientes do restaurante pagam R$ 1 real pelo prato. O programa contempla ainda cozinhas populares que distribuem 1 litro de sopa para quem está em situação de insegurança alimentar.
Nas unidades dos restaurantes são servidas em média 400 refeições diárias, que somadas em toda a rede chegam a 17,4 mil pratos/dia de um cardápio de feijão, arroz, farofa, salada e proteínas.
Atualmente são 18 restaurantes em Manaus e 26 nos múnicípios do interior do estao, o último inaugurado em agosto em Tapauá, a 449 km da capital amazonense.
Os investimentos do governo estadual para ampliar o programa este ano foram da ordem de R$ 20 milhões.
