Em primeira ligação após prisão em Atibaia, ex-assessor e ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro disse a uma das filhas que estava ‘na casa’. Preso tem direito a avisar advogado, mas Queiroz preferiu falar com a família.
A primeira ligação telefônica feita por Fabrício Queiroz, ex-assessor e ex-motorista do parlamentar de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), após ser preso em operação da Polícia Civil e do Ministério Público em Atibaia, no litoral paulista, na quinta-feira (18), foi para uma das filhas, para avisar que havia acabado de ser preso.
No telefonema, que pôde ser ouvido em parte pelos investigadores que acompanharam a ação, Queiroz disse à filha que estava “na casa” e pediu para avisar “à mãe (a esposa)” e “ao pessoal” que havia acabado de ser preso.
Queiroz é investigado e teve a prisão decretada por participação em um esquema de “rachadinha” de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Segundo o MP fluminense, há indícios de que ele continuava a manipular provas e testemunhas para ocultar o esquema e dificultar as investigações.
O telefonema logo após a prisão é um direito assegurado ao preso, que pode contatar o advogado para informar o ocorrido. Queiroz preferiu avisar a família e não a um advogado da prisão, antes de ser levado para o Rio de Janeiro, onde a prisão foi decretada.
No diálogo, Queiroz pediu para avisar à família.
Veja como foi a conversa:
Queiroz: “Eu acabei de ser preso”
Filha: “Não acredito, disse ela. “Como assim?”.
Queiroz: “É, preso”.
Filha: “Onde você está pai?”
Queiroz: “Tô na casa”.
Filha: “E agora?”
Queiroz: “Avisa a mãe, avisa o pessoal”.
Segundo o Ministério Público, Queiroz levava uma vida confortável em Atibaia, e fazia até churrasco. O promotor José Carlos Baglio, que participou da operação, confirmou que ele pediu para ligar para uma das filhas no momento da prisão.
Prisão
Um vídeo feito na cidade de Atibaia, no interior de São Paulo, registrou o momento em que Fabrício Queiroz foi encontrado e preso no imóvel pertencente a Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro.
Após ser preso, Queiroz passou por exames no IML e foi levado ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e, de lá, levado de helicóptero para o Rio de Janeiro.
Dentro do imóvel
Segundo a polícia, no interior da residência, foi encontrado um cartaz com menção ao AI-5, uma das principais medidas da repressão adotadas pela ditadura militar no país (1964-1985). Além do cartaz, bonecos de personagens do filme Scarface também faziam parte da decoração.
Há um ano no local
Segundo o delegado Nico Gonçalves, responsável pela operação em São Paulo, um dos caseiros que estava na casa informou à polícia que Queiroz morava no local havia cerca de um ano. “O caseiro informou que ele estava por volta de um ano aqui. Tinham dois funcionários no fundo da casa, em uma edícula”, revelou o delegado.
Em setembro de 2019, o advogado Frederick Wassef disse ao programa Em Foco não saber onde estava o ex-assessor, e afirmou não ser o advogado dele.
Ainda de acordo com o delegado, dois celulares foram apreendidos pela equipe do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo), além de documentos e uma quantia em dinheiro ainda não especificada. “Dois celulares foram apreendidos, alguns documentos que o Gaeco apreendeu que pode ser interessante para eles, e um pequeno valor que foi apreendido com ele, que eu não sei exatamente a quantia”, disse Nico Gonçalves.
O delegado também informou que Queiroz estava dormindo no momento da prisão, ficou surpreso, mas não ofereceu resistência. Teria dito apenas que estava doente. “Ele estava dormindo, tranquilo, se mostrou surpreso, e só falou que está com a saúde muito abalada”, afirmou o delegado.
Nico explicou que foi necessário arrombar a porta e cortar uma corrente para conseguir entrar no imóvel. “Nós tocamos a campainha, talvez pelo adiantado da hora, eles não escutaram. Tinha uma corrente, nós precisamos cortar a corrente, e abrir a porta meio forçada para poder chegar até ele.”
Investigação
Policial Militar aposentado, Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão em sua conta de maneira considerada “atípica”, segundo relatório do antigo Conselho de Atividades Financeiras (Coaf). Ele trabalhou para o filho do presidente Jair Bolsonaro antes de Flávio tomar posse como senador, no período em que ele era deputado estadual no Rio.
No Rio, a Polícia Civil também fez buscas no início da manhã em um imóvel que consta na relação de bens do presidente Bolsonaro, em Bento Ribeiro, Zona Norte da capital fluminense. De acordo com a investigação em São Paulo, o imóvel onde Fabrício Queiroz estava, em Atibaia, começou a ser monitorado há 10 dias, a pedido de promotores do Rio. Informações de um celular apreendido indicava que ele estaria vivendo lá, escondido. O imóvel é uma casa ampla, usada como escritório pelo Fred Wassef. Toda a operação foi conduzida em sigilo.
Justiça do Rio determinou prisão
Os mandados de busca e apreensão e de prisão contra Queiroz foram expedidos pela justiça do Rio de Janeiro, num desdobramento da investigação que apura esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). A prisão foi feita numa operação da Polícia Civil e do Ministério Público de São Paulo.
Segundo um delegado que participou da operação, foi preciso arrombar o portão e a porta da casa onde Queiroz estava. Ele não resistiu e só disse que estava muito doente.
O advogado de Flávio Bolsonaro dono do imóvel de Atibaia onde Queiroz estava ao ser preso, Frederick Wasseff, participou nesta quarta-feira (17) da cerimônia em que o presidente Jair Bolsonaro deu posse ao novo ministro das Comunicações, Fábio Faria.
Em setembro de 2019, quando não se sabia o paradeiro de Fabrício, Wasseff disse ao programa Em Foco não saber o paradeiro do ex-assessor, e afirmou que não é advogado dele.
Movimentação de R$ 1,2 milhão em 2016 e 2017
Queiroz foi assessor e motorista de Flávio Bolsonaro até outubro de 2018, quando foi exonerado. O procedimento investigatório criminal do Ministério Público Estadual do RJ que apura as irregularidades envolvendo Queiroz na Alerj chegou a ser suspenso por decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, após pedidos de Flávio Bolsonaro em 2019.
As investigações envolvem um relatório do Coaf, que apontou operações bancárias suspeitas de 74 servidores e ex-servidores da Alerj. Recursos usados para pagar funcionários na Alerj voltavam para os próprios deputados estaduais. A movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz ocorreu, segundo as investigações, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, incluindo depósitos e saques.