Estudo brasileiro apoiado pelo governo do Amazonas aponta possível capacidade do pigmento, encontrado no Rio Negro, de bloquear a migração das células tumorais para outras partes do corpo

Uma pesquisa realizada por uma estudante de doutorado da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com participação de cientistas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), revela que uma substância natural produzida por uma bactéria originária do Rio Negro, no Amazonas, pode ser promissora no combate ao câncer ao evitar a metástase de tumor colorretal.
O estudo investiga o uso de amido extraído da mandioca aliado a fungos amazônicos encontrado no rio no tratamento do câncer.
A pesquisa pretende criar curativos para liberação controlada de medicamentos que serão aplicados na pele e terão atividades anticâncer e cicatrizante. O projeto deve ser concluído no segundo semestre de 2023.
Recentemente, a doutoranda do Instituto de Biologia da Unicamp Patrícia Fernandes de Souza identificou a capacidade do pigmento de impedir o agravamento do câncer colorretal.
O estudo detalha, principalmente, a via que permite que uma célula tumoral se torne invasiva, processo denominado transição epitélio-mesênquima. Quando ela ganha essa capacidade, consegue invadir diferentes locais e migrar para outros órgãos, ocasionando a metástase.
Orientada pela professora de bioquímica do instituto Carmen Veríssimo Ferreira-Halder, ela descobriu que a violaceína tem a habilidade de diminuir ou bloquear a ação de algumas proteínas que possibilitam o crescimento do tumor, a metástase e a resistência ao tratamento.
“De alguma forma, a violaceína acaba desligando vias ou rotas metabólicas que são importantes para manter o tumor vivo e, muitas vezes, manter o tumor agressivo”, conta a professora.
O estudo busca identificar os principais agentes do tumor que ocasionam a piora dos quadros clínicos para, futuramente, desligá-los e fornecer informações relevantes para o desenvolvimento de remédios.

“Os extratos fúngicos amazônicos já foram preparados, o amido da mandioca já foi extraído e o filme de amido preparado. A incorporação dos extratos fúngicos nos filmes já foi realizada. Neste momento, está sendo iniciada a concentração dos compostos bioativos no sistema de extração com líquidos pressurizados (PLE – pressurized liquid extraction), bem como a caracterização dos filmes de amido produzidos. A conclusão está prevista para agosto de 2023”, reforça Patrícia Melchionna.
Por anos, estudiosos dedicam esforços a entender a atuação da violaceína, produzida pela bactéria Chromobacterium violaceum, no auxílio do combate ao câncer. O laboratório da universidade já estudou a ação da violaceína em diversos tipos de câncer, como a leucemia e os de próstata, pâncreas e mama.
Próximos avanços
Os próximos avanços do estudo da doutoranda procurarão entender mais detalhadamente a forma de atuação e o porquê de a violaceína ocasionar o declínio das proteínas associadas à metástase.
O grupo também vai aprofundar os estudos na utilização das doses e realizar testes com diferentes quimioterápicos. A linha de pesquisa do laboratório da universidade consegue avaliar as vias metabólicas, identificar proteínas importantes e a forma de atuação da violaceína nelas. Entretanto, adicionalmente a essas informações, há necessidade de modelos mais completos.
Os protótipos que já foram utilizados no estudo serviram para respaldar o próximo grande passo: o teste em animais.
“Com tudo que já temos comprovado, o passo seguinte é tratar animais”, informa o professor convidado do Instituto de Biologia da Unicamp Nelson Eduardo Duran.
E acrescenta: “Em alguns casos, nós já temos dados preliminares do tratamento em animais com violaceína, que ainda estão sendo analisados, mas tudo indica que realmente funciona muito bem”.
Orientada pela professora de bioquímica do instituto Carmen Veríssimo Ferreira-Halder, ela descobriu que a violaceína tem a habilidade de diminuir ou bloquear a ação de algumas proteínas que possibilitam o crescimento do tumor, a metástase e a resistência ao tratamento.
Apoio e colaboração
Para a pesquisadora, a parceria Fapeam e Fapesp foi muito importante para a aproximação dos pesquisadores da UEA e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) com os cientistas da Unifesp. O projeto representa a integração das áreas do conhecimento de biologia, biotecnologia, química e engenharia. A integração multidisciplinar entre os pesquisadores dos dois estados possibilita a promoção do desenvolvimento científico e tecnológico de ambas as regiões.