‘Ele só está preso porque o fato foi na casa do enteado do prefeito’, alega o advogado Josemar Berçot Júnior. Mayc cumpre prisão temporária pelo envolvimento na morte o engenheiro Flávio Rodrigues
A defesa de Mayc Vinícius Parede, 37, vai entrar com pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM) nesta terça-feira (12), na tentativa de revogar a prisão temporária do ex-militar que confessou ter matado o engenheiro Flávio Rodrigues em legítima defesa.
A informação foi confirmada pelo advogado Josemar Berçot Júnior, que alega que seu cliente está sendo vítima de uma ‘prisão política’, devido ao filho da primeira-dama de Manaus, Alejandro Valeiko, ter envolvimento no caso.
Mayc é um dos seis investigados pela Delegacia Especializada em Sequestros e Homicídios (DEHS) pela morte de Flávio Rodrigues, encontrado morto no Tarumã, no dia 30 de setembro, após uma festa na casa de Alejandro, enteado do prefeito de Manaus, Arthur Neto. Ele e outros quatro, incluindo Mayc, cumprem prisão temporária decretada pela Justiça do Amazonas.
“É bem simples. Se por acaso essa situação fosse na casa do João, funcionário da C&A, por exemplo, o meu cliente não estaria preso. Ele só está preso porque o fato foi na casa do enteado do prefeito”, argumenta. “A prisão do meu cliente é política”, acrescenta.
No pedido de habeas corpus que será protocolado ainda nesta tarde no TJ-AM, a defesa de Mayc Parede alega que a prisão temporária deveria ser instituída apenas em casos excepcionais. De acordo com a defesa, “Mayc sempre colaborou com as investigações e não causou problemas no inquérito” que apura a morte do engenheiro.
Mayc, que em depoimento prestado na (DEHS) confessou ter desferido golpes de faca contra Flávio Rodrigues, está preso em uma sala individual no Centro de Detenção Provisória 2 (CDPM 2) desde o dia 18 de outubro, após determinação da juíza Ana Paula Braga da 2ª Vara Criminal do TJ-AM. Preso, o ex-lutador de MMA montou um grupo evangélico de orações no CDPM 2. De acordo com a defesa, Mayc afirma que considera como “irmãos” seus companheiros, pois também “oram” e “louvam” juntos.
“A prisão temporária é prisão excepcional, para que haja a prorrogação é só em casos de extrema necessidade, e no caso presente não faz diferença mantê-lo preso para fins de investigação, uma vez que desde o início se apresentou voluntariamente”, diz o advogado.
Confissão questionável
A confissão de Mayc foi contestada pelo delegado titular da Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS), Paulo Martins, que encontrou contradições nos depoimentos dos seis investigados no crime – o cozinheiro Vittorio Del Gato não teve a prisão prorrogada no dia 1° de novembro, por isso, no dia seguinte, foi liberado. Ele recebe tratamento médico decorrente de um câncer de próstata.
Entre as contradições apontadas pela equipe que investiga o caso está a declaração de Mayc sobre a faca que teria usado para atingir Flávio. Para a delegada Marília Campello, adjunta da DEHS, em depoimento no dia 8 de outubro, Mayc afirmou que conseguiu o objeto cortante após desarmar Elielton Magno quando foi na casa de Alejandro, juntamente com Elizeu da Paz.
Posteriormente, em um novo depoimento datado do dia 10 de outubro, a equipe de investigação reuniu Mayc e Magno para confrontar as informações repassadas. O ex-militar sustentou durante o auto de acareação que pegou o instrumento das mãos de Magno.
Por sua vez, Magno afirma que não estava com faca alguma no momento que correu para fora do imóvel após a invasão de Mayc e Da Paz. Inclusive, segundo ele, deixou para trás até mesmo o aparelho celular. Na confusão, Magno ainda chegou a ser agredido por Mayc com golpes nas costas do que acredita ter sido uma faca.
Familiares de Mayc acreditam que ele pode ter sido forçado a confessar que desferiu os golpes contra Flávio. Em entrevista ao Portal A Crítica no dia 25 de outubro, o irmão mais velho do ex-militar, o vigilante Carlos Alan Parede, afirmou que está tentando entender o que levou o irmão a confessar à polícia ser o autor da morte de Flávio Rodrigues.
“Para mim ele foi obrigado a fazer isso para preservar a família, ou alguém. Quem conhece o meu irmão sabe que ele é incapaz de fazer o mal para alguém”, disse o vigilante.
Estão presos suspeitos de envolvimento no caso Alejandro, que é locatário da casa onde o crime ocorreu; Elielton Magno de Menezes Gomes Júnior e José Edvandro Martins de Souza Júnior, que estavam na residência como convidados de Alejandro; além do sargento Elizeu da Paz e Mayc Vinícius Parede que levaram Flávio Rodrigues da casa de Alejandro. Não se sabe se o engenheiro estava vivo ou morto. No entanto, o corpo dele foi encontrado posteriormente em um terreno no Tarumã.
No último domingo (10) familiares do engenheiro morto realizaram uma manifestação na Ponta Negra exigindo ‘justiça’ e pedindo avanço nas investigações.