Nova cepa do vírus foi encontrada em quatro passageiros que desembarcaram de viagem ao Amazonas, no aeroporto de Tóquio (JP), em 2 de janeiro
Pesquisas em andamento na Fundação Oswaldo Cruz no Amazonas (Fiocruz-AM) apontam que a nova variante do novo coronavírus encontrada em pacientes japoneses, que estiveram recentemente no Amazonas, tem origem no estado. As mutações achadas no vírus, até então inéditas, criaram o que será uma provável nova linhagem brasileira.
Segundo os cientistas, ainda é cedo para ter certeza, mas as mutações (12, segundo as autoridades de saúde japonesas) achadas podem significar que essa nova linhagem tem maior poder de transmissão, visto que duas importantes mutações foram descritas simultaneamente na proteína Spike — que faz a ligação do vírus às células e está é relacionada a capacidade de transmissão do SARS-CoV-2 (como é conhecido o novo coronavírus).
Os dados apontam que a linhagem B.1.1.28, que está presente em todo o país e que é a mais frequente no Amazonas, sofreu uma série de mudanças.
“Os japoneses colocaram os dados do sequenciamento no banco de dados internacional, e as amostras colhidas agrupam com as nossas aqui. É o mesmo vírus, mas com muitas mutações,”.
Segundo o pesquisador da Fiocruz Amazônia que coordena os estudos, Felipe Naveca, o sequenciamento do vírus feito no Japão foi comparado com as amostras existentes no banco de dados do Amazonas coletadas entre abril e novembro do ano passado.
Amostras locais de dezembro ainda estão em fase final de análise no estado, e vão ajudar a entender melhor a atuação das mudanças do vírus na nova onda de casos.
” Acredito que essas mutações possam ser parte da explicação para essa explosão de casos aqui no Amazonas. Mas nós sabíamos que o número de casos iria aumentar porque as pessoas não estavam fazendo distanciamento; nos dias 26 e 27 de dezembro houve protesto porque o governador mandou fechar o comércio, houve as festas de fim de ano. E o sistema de saúde do estado já estava fragilizado, é uma situação multifatorial a meu ver”, diz Felipe Naveca, pesquisador da Fiocruz.
Entenda as mutações – Naveca conta que a linhagem B.1.1.28 é a mais presente no estado (está em 47% das amostras colhidas entre abril e novembro) e uma das que mais circulam no Brasil. Entretanto, as amostras colhidas no Japão e pelo laboratório privado mostraram mutações significativas.
O pesquisador ainda diz que as mudanças criaram uma variante diferente, mas que têm semelhanças com aquelas achadas na Inglaterra e África do Sul, conforme foi informada pelo próprio Ministério da Saúde do Japão.
“As análises mostraram que essa mutação separadamente já trazia vantagem para o vírus [se transmitir mais]. Essas mutações preocupam bastante, e precisamos de mais tempo e análises para saber realmente se ele está associado a esse maior poder de transmissão”.
Calamidade – Manaus vive uma nova calamidade por uma segunda onda de casos e hospitalizações, com números maiores e crescimento mais acelerado que na primeira fase. O prefeito David Almeida (Avante) anunciou que o sistema público está novamente em colapso.
O governador Wilson Lima (PSC) afirmou que há carência de oxigênio para pacientes internados. Diante do cenário, ontem, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, visitou Manaus e prometeu ajuda ao estado para suprir a carência da rede.