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Com refinaria servindo de base logística, gasolina no Amazonas sobe 52,6% acima da média nacional

Entre dezembro de 2022 e agosto de 2025, o preço médio da gasolina no Amazonas subiu 52,6%, enquanto a média nacional foi de 25,2%.

Os dados foram compilados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base em informações da Agência Nacional do Petróleo (ANP), e revelam um descolamento expressivo da região em relação ao restante do país. O Amazonas encerrou agosto com o litro da gasolina comum vendido, em média, a R$ 7,02 — ante R$ 6,17 na média nacional.

A disparidade também aparece em variações recentes: só em agosto, o preço da gasolina subiu 4,35% no Amazonas, mais do que o dobro do aumento nacional, de 2,07%, segundo dados do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep).

O boletim mais recente do Ineep mostra que a região Norte tem os maiores preços médios do país em todos os combustíveis: gasolina, diesel, gás de cozinha e etanol.

Privatização da refinaria concentrou o mercado

Um dos fatores centrais apontados por especialistas é a privatização da Refinaria Isaac Sabbá (Ream), a única da região Norte, vendida à distribuidora Atem por R$ 994,1 milhões — valor equivalente a 70% da avaliação feita pela Petrobras.

“A refinaria foi privatizada e virou um monopólio privado, sujeito à obtenção de lucro a qualquer custo”, afirma Paulo Neves, diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e do Sindipetro-AM.

O estudo O caso REAM: da privatização ao fim do refino, publicado pelo Ineep, mostra que o Grupo Atem passou a atuar de forma verticalizada, controlando as etapas de refino, distribuição e revenda. Segundo o levantamento, a empresa já lidera o mercado de distribuição em estados do Norte e concentra boa parte dos postos da região.

Desde a privatização, a Ream passou a operar com capacidade cada vez menor. Em 2022, quando ainda era estatal, a refinaria utilizava 67% de sua capacidade. Em 2024, esse número caiu para pouco mais de 20%, segundo dados do Ineep. Mesmo assim, o Grupo Atem se manteve como principal ofertante de gasolina e diesel no Amazonas.

Antes da venda, a refinaria processava mais de 900 mil barris de petróleo por mês. Em 2025, no entanto, operou apenas nos meses de março (296 mil barris) e abril (114 mil barris), volumes considerados irrisórios. Hoje, sob controle do grupo Atem, a unidade funciona basicamente como terminal de armazenamento, deixando de refinar o petróleo produzido em Urucu (AM).

Em vez de processar petróleo nacional, o grupo passou a importar derivados de outros países, mesmo com matéria-prima disponível em Urucu e com a planta de refino localizada em Manaus.

“As refinarias da Petrobras usam petróleo brasileiro e não estão sujeitas ao preço de paridade de importação, o PPI. Isso permite preços mais baixos e mais estáveis”, diz Paulo Neves.

A Agência Nacional do Petróleo já emitiu uma advertência à Ream por não manter sua atividade principal, o refino, conforme obrigação prevista na Resolução nº 852/2021. A operação de uma refinaria é considerada serviço de interesse público.

De acordo com o órgão, a refinaria processou petróleo por apenas alguns dias após o fim das manutenções e, nos meses seguintes, interrompeu novamente as operações. A paralisação sistemática da planta pode configurar infração contratual e ferir os termos do acordo firmado pela Petrobras com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), quando privatizou três refinarias durante o governo Bolsonaro.

“O acordo previa que a empresa deveria manter a atividade de refino. Eles não podem simplesmente comprar e parar a produção”, diz Ticiana. Segundo o estudo do Ineep, há elementos que justificariam uma denúncia formal ao Cade por prática de monopólio, além da possibilidade de questionamento judicial por meio de ação popular.

O que diz o Grupo Atem

O Grupo Atem informa que é absolutamente falsa a informação de que “reestruturações internas tenham rebaixado a refinaria ao papel de gerência de terminal terrestre”.

Como já divulgado reiteradas vezes, a redução temporária da produção em 2024 na Refinaria da Amazônia (Ream) decorreu de manutenção programada das unidades de refino, construídas na década de 1950. Cabe destacar que o processo foi devidamente comunicado e acompanhado por todos os órgãos reguladores competentes. Durante esse período, a refinaria manteve regularmente o abastecimento do mercado, sem qualquer interrupção, mesmo tendo enfrentado as maiores estiagens já registradas em sua área de atuação.

Dessa forma, além de repudiar a alegação de que a Ream tenha sido convertida em “gerência de terminal terrestre”, o Grupo Atem ressalta que, desde que assumiu a unidade em dezembro de 2022, vem realizando importantes investimentos na revitalização dos ativos da refinaria. A Ream esclarece e reforça, ainda, que sempre atendeu e continua atendendo a todos os pedidos efetuados por seus clientes e que todas as operações seguem rigorosamente a legislação vigente, plenamente alinhadas às normas dos órgãos reguladores, com os quais mantém diálogo institucional permanente.

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