Relatório da equipe de transição do futuro governo relata que encontrou o país um caos e próximo do colapso, mas números atuais mostram outra realidade

Como fez em 2003, quando recebeu o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Lula repetiu hoje que recebe de Jair Bolsonaro um país ‘desconstruído’, ‘quebrado’, com ‘desmonte do Estado” e com uma “herança perversa”, um termo requentado para substituir o batido “herança maldita”, que ele costuma usar quando se refere as gestões anteriores a dele.
Na manhã desta quinta-feira (22), no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, onde anunciou 16 ministros, das 37 pastas prevista para a sua gestão, Lula reforçou a estratégia da “herança perversa” e disse que vai distribuir o relatório feito pela sua equipe de transição para mostrar a situação caótica e em vias de colapso na qual se encontra o país.
Mas os números mostram uma realidade bem diferente. Como no governo de FHC, que dominou a Inflação, teve crescimento na economia, privatizou empresas públicas deficitárias e criou a Lei de Responsabilidade Fiscal limitando os gastos com pessoal, Lula voltou a falar em reconstruir o que “estaria” destruído.
Os dados econômicos atuais desmentem a situação de “caos” descrita pelo relatório da equipe de transição de Lula.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que o Brasil crescerá quase 3%, mesmo porcentual projetado para a economia mundial, a inflação brasileira está na casa dos 6,5%, inferior à norte-americana e a taxa de desemprego é de cerca 8%, índice que chegou a mais de 14% durante a pandemia de Covid-19.
Relatório
O relatório final dos trabalhos da equipe de transição tem 100 páginas, das quais 30 só com o nome dos participantes. Ele diz que as conclusões dos 32 grupos setoriais que trabalharam na transição serão entregues aos futuros ministros e apresenta críticas genéricas ao atual governo, como:
“A desconstrução institucional, o desmonte do Estado e a desorganização das políticas públicas são fenômenos profundos e generalizados, com impactos em áreas essenciais para a vida das pessoas e os rumos do País”.
A equipe de transição diz que o governo de Bolsonaro chega ao fim “em meio a uma ameaça real de colapso dos serviços públicos”.
Os supostos problemas são relatados em todas as áreas, incluindo educação, saúde, combate à fome, política ambiental e econômica e defesa civil.
Para resolver esse “apagão” dos serviços públicos, a equipe “apresenta uma nova estrutura ministerial, mais adequada à agenda do novo governo eleito e ao seu compromisso com a reconstrução e transformação do país”.
O texto também sugere alteração ou revogação de decretos e leis aprovadas no governo Bolsonaro, “a exemplo das legislações que flexibilizam o controle e compra de armas, o garimpo em terras indígenas e a lei de acesso à informação”.
Herança maldita
O espólio do último governo do PT, recebido pelo presidente tampão, Michel Temer (MDB), após o impeachment de Dilma Roussef, em 2016, tinha taxa anual de inflação estava em 9% no Brasil e 1% nos Estados Unidos. Em 2016, o PIB brasileiro encolheu 4%, além disso Dilma deixou o governo com uma taxa de desemprego próximo de 12%.