Operação financeira entrou na mira da Polícia Federal (PF), que apura indícios de fraudes em transações realizadas pela instituição financeira

Filiado ao União Brasil e contador de campanhas do partido, um gestor da Fundação de Previdência do Estado do Amazonas (Amazonprev), entidade responsável por administrar aposentadorias de servidores, foi um dos responsáveis por autorizar um investimento de R$ 50 milhões em títulos sem garantias do Banco Master, liquidado pelo Banco Central após enfrentar uma crise financeira. O negócio entrou na mira da Polícia Federal (PF), que apura indícios de fraudes em transações realizadas pela instituição financeira enquanto tentava ganhar uma sobrevida no mercado.
Documentos da Amazonprev, que o jornal do Rio de Janeiro O Globo teve acesso, revelam indícios de que a operação envolvendo o Master ocorreu sem autorização colegiada do fundo de previdência e sem análise de risco formal, o que contraria regras da fundação criada em 2021 para gerir a previdência dos servidores do Estado do Amazonas.
De acordo com a reportagem do jornal, um relatório de investimentos do instituto aponta ainda a ausência de registros formais da reunião ou deliberação da diretoria sobre a aquisição dos papéis do Master. Essa operação levou o Comitê de Investimentos da Amazonprev a abrir um “processo interno para apurar a responsabilização por eventuais descumprimentos” de normas internas do instituto.
Entre os gestores responsáveis pela aplicação financeira, ocorrida em junho de 2024, está Ary Renato Vasconcelos de Souza, que na época era gerente de Administração e Finanças da Amazonprev. Quase um mês depois da transação com o Banco Master, ele foi nomeado diretor-presidente da fundação, cargo no qual ficou por dez meses até ser exonerado em maio deste ano.
Souza já foi secretário-executivo extraordinário de Projetos da Casa Civil do governo Wilson Lima (União) e atuou como contador da campanha à reeleição do governador, em 2022. Em dezembro daquele ano, ele se filiou ao União Brasil e foi nomeado para o cargo de gerente na Amazonprev em janeiro de 2023. Depois, assumiu a presidência da entidade, em julho de 2024, sendo substituído dez meses depois por Francisco Evilazio Pereira, que era o secretário de Justiça do governo Lima.
Na prestação de contas das eleições de 2022, Souza aparece como prestador do serviço de assessoria financeira à campanha de Lima, recebendo R$ 15 mil, além de também ter sido contratado por outros candidatos do União no Amazonas. A empresa de contabilidade da qual o contador é dono com outros dois sócios também presta serviços de contabilidade para o diretório estadual do União.
Em nota, o governo do Amazonas afirmou que o aporte no Banco Master corresponde a “menos de 0,5% do total de aplicações da instituição” e que o fundo previdenciário obteve um lucro de mais de R$ 1,1 bilhão. “Esse montante não precisa de aprovação colegiada, e não oferece quaisquer riscos ao pagamento de aposentados e pensionistas do estado do Amazonas”, pontua a gestão de Lima, que também destacou a “capacidade técnica” do ex-diretor-presidente responsável pela aplicação.
“A Fundação Amazonprev informa que o ex diretor-presidente da instituição Ary Renato Vasconcelos de Souza possui capacidade técnica e estava habilitado para exercer o cargo. Entre junho de 2024 e maio de 2025, período em que esteve à frente do Fundo Previdenciário, a política de investimentos resultou em um retorno de R$ 864 milhões, respeitando as regras do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS)”, diz o texto do governo estadual.
Na sexta-feira passada (28), a Amazonprev já havia afirmado, em nota, que a operação financeira realizada com o Banco Master não oferecia qualquer risco ou interferia no pagamento de aposentados. “A Fundação reforça que a Amazonprev possui receita que garante o cumprimento integral de todas as obrigações junto aos seus beneficiários”, diz o texto.
O primeiro relato envolvendo aplicações sem decisão colegiada na Amazonprev consta em uma representação protocolada no Ministério Público do Amazonas pelo coordenador-geral do sindicato dos Trabalhadores de Justiça do Amazonas (Sintjam), Roberto Dávila, em outubro deste ano. Na ocasião, a presidência do Tribunal de Justiça do Amazonas chegou a criar um grupo de trabalho para, segundo a corte, proteger a administração orçamentária do fundo. Dávila afirmou que levará a denúncia à Polícia Federal nesta semana.


