
“Curitiba gerou Bolsonaro. Curitiba tem o germe do fascismo. Inclusive todas as praticas que desenvolvem. Investigações a sorrelfa e atípicas. Não precisa dizer mais nada. Não é por acaso que os procuradores dizem, por uma falta de cultura, que aplicaram o Código Processual Russo”. Essa fala de Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF) no Programa Roda Viva desta semana na Tv Cultura, pode levá-lo a perder o título de Cidadão da cidade.
Crítico da Operação Lava Jato que recuperou milhões dos cofres público e que colocou na cadeia dezenas de empresários e políticos condenados por corrupção, Mendes virou persona non grata na capital paranaense, que ficou conhecida mundialmente como República de Curitiba por sediar o combate ao crime organizado.
Nesta segunda-feira (15), na Câmara de Curitiba, começa a tramitar um projeto de lei para revogar o Título de Cidadão Honorário de Mendes.
A homenagem foi feita pela Casa em 2002, quando Mendes foi indicado para o integrar o Supremo e era Advogado Geral da União. O projeto de lei que deu origem ao título era de autoria de Ney Leprevost, então no PP.
A iniciativa de revogar a homenagem é do vereador Professor Euler (MDB), que atribui a proposta a fala do magistrado no Programa Roda Vida sobre Curitiba ter “o germe do fascismo”. Na ocasião o ministro se referia a Operação Lava Jato e ao que chamou de deturpação do código penal.
Euler também informa que “após mais de 20 anos neste honroso cargo, o referido ministro colecionou inúmeras polêmicas e ofensas com pares da Suprema Corte e também diversas autoridades dos 3 poderes, independentemente de suas matizes ideológicas”. Entre elas ele lista comentários dirigidos a Lula, a Rodrigo Janot e o Exército Brasileiro.
“Manter como Cidadão Honorário de Curitiba alguém que vem demonstrando ao longo dos anos um temperamento belicoso, rude, ofensivo e grosseiro não faz qualquer sentido”, afirma na justificativa.
Além de Euler, outros parlamentares reagiram a declaração de Mendes com proposições. Um quer torná-lo “persona non grata” na cidade e um grupo de vereadores pediu uma moção de repúdio contra o ministro e de desagravo à cidade.
Mendes que chegou a classificar a Operação Lava Jato como uma quadrilha formada por promotores do Ministério Públicos e juízes. Também chegou a chorar diante do advogado de Lula, Cristiano Zanin, durante a defesa do ex-presidente condenado, que foi beneficiado pela mudança do seu voto na prisão em segunda instância.
Mendes disse no Roda Viva que as acusações na força-tarefa contra o atual presidente Lula eram combinadas entre a acusação, no caso os procuradores do Ministério Público Federal (MPF) e o, então juiz e agora senador do Paraná , Sergio Moro, o que ele considera muito grave.
Reação a fala
Numa rede social, Moro reagiu. “Não tenho a mesma obsessão por Gilmar Mendes que ele tem por mim. Combati a corrupção e prendi criminosos que saquearam o país. Não são muitos que podem dizer o mesmo neste país”, escreveu o ex-juiz da Lava Jato.
Também numa rede social, o deputado federal e ex-chefe da Lava Jato no MPF, Deltan Dallagnol, subiu o tom e respondeu a Mendes.
“Gilmar Mendes nunca respeitou a liturgia do cargo, vedações da lei da magistratura, regras de suspeição, distanciamento dos réus nem compreendeu o papel do combate à corrupção para a preservação da democracia.Enquanto procura falhas na Lava Jato, o ministro tenta coar agulhas, mas engole camelos, votando sistematicamente em favor da absolvição e anulação de sentenças de corruptos, contra os votos técnicos de ministros como Edson Fachin”, diz.
“Finalizo com uma homenagem a Curitiba, capital do meu coração, onde casei com minha esposa e nasceram meus filhos. Nossa cidade é e continuará sendo luz para o país e o mundo. A aversão que alguns tem à bela República de Curitiba é porque o povo paranaense não tem sangue (ou sobrenome) de barata”, completou Deltan.