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Datafolha: 23,5 milhões de brasileiros vivem em áreas dominadas por facções e milícias

Uma pesquisa divulgada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em parceria com a Folha de S. Paulo e realizada pelo Instituto Datafolha, revela um retrato alarmante da presença do crime organizado no Brasil.

Segundo o levantamento, ao menos 23,5 milhões de brasileiros com mais de 16 anos vivem em áreas com atuação de facções criminosas ou milícias. O estudo, intitulado Pesquisa de Vitimização e Percepção sobre Violência e Segurança Pública, ouviu 2.045 pessoas em 145 municípios entre os dias 11 e 17 de junho de 2024 – só divulgado agora.

Os dados mostram ainda que 14 milhões de pessoas reconhecem a existência de cemitérios clandestinos em suas cidades e que 10 milhões tiveram um parente ou conhecido desaparecido nos últimos 12 meses.

De acordo com o diretor-presidente do FBSP, Renato Sérgio de Lima, os números evidenciam o impacto do crime organizado na vida cotidiana dos brasileiros, sobretudo nos grandes centros urbanos.

“O Estado brasileiro está diante de um imenso desafio, que passa pela retomada do controle sobre territórios e pelo rastreamento do dinheiro e dos produtos do crime”, destacou Lima.

O levantamento também aponta que 18% da população — cerca de 30 milhões de pessoas — vivem em bairros com vigilância privada prestada por policiais de folga. Essa prática é mais comum entre os que ganham mais de dez salários mínimos e, segundo o estudo, aumenta em 45% as chances de o morador presenciar ou ser vítima de violência policial.

“A ilegalidade do ‘bico’ policial inibe o direito trabalhista e cria uma zona cinzenta na segurança pública”, explica Cléber Lopes, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Governança da Segurança (LEGS).

Outro dado preocupante é o avanço das “Cracolândias” — áreas de uso aberto de drogas — no cotidiano das cidades: 16,5% da população, ou cerca de 28 milhões de brasileiros, afirmam conviver com esses espaços em seus trajetos diários.

Violência contra as mulheres

Segundo o levantamento, 26,8% dos entrevistados conhecem alguma mulher que foi agredida por parceiro íntimo entre junho de 2023 e junho de 2024 — o equivalente a mais de 24 milhões de vítimas, ou 6.790 casos de agressão física por dia. O número supera as estatísticas oficiais do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que registrou 258.941 casos de lesão corporal dolosa em 2023.

“Esses dados demonstram a insuficiência das estatísticas oficiais e reforçam a necessidade de aprimorar políticas de proteção às mulheres”, afirma Isabella Matosinhos, pesquisadora do FBSP.

Além disso, o levantamento identificou que os crimes digitais já superam os crimes físicos no país. O prejuízo com golpes virtuais e roubos de celulares ultrapassou R$ 186 bilhões nos últimos 12 meses. Estima-se que 15 milhões de brasileiros tiveram o celular roubado e que 8 milhões foram vítimas de clonagem ou fraude bancária.

O estudo ainda mostra que 85% da população possui smartphone, equivalente a 142 milhões de pessoas, e que o uso de aplicativos bancários é quase universal entre as classes médias e altas. Entretanto, metade dos usuários afirma evitar circular com o celular em certas áreas por medo de assaltos.

Os dados reforçam a percepção de que o crime organizado, a violência urbana e os delitos cibernéticos formam hoje uma mesma teia de insegurança. Para o Fórum, o desafio é recuperar o controle dos territórios e garantir proteção efetiva à população — especialmente às mulheres e aos mais vulneráveis.

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