
O prefeito de Manaus, David Almeida, entregou, nesta terça-feira (19), no Dia do Índio, o primeiro cemitério indígena urbano do Brasil em Manaus “Yane Ambiratá Rendáwa Bara Upé”, localizado no Tarumã, na Zona Oeste da cidade.
O local possui 216 gavetas com cinco módulos, totalizando 1.080 vagas. Na ocasião, Almeida destacou que 353 anos depois da fundação da cidade, os indígenas de Manaus passam a ter um novo espaço sagrado.
“353 anos de indiferença e esquecimento, e hoje estamos entregando esse cemitério indígena, que é o primeiro do Brasil, para que essa memória ancestral possa ser celebrada e cultuada. Nós queremos tratar a questão indígena de forma clara, de forma digna, e reconhecendo os donos dessa terra. Aqui está o meu reconhecimento, pelo trabalho, pela ancestralidade, pela importância de cada um. Manaus tem suas origens, nós somos herança dessa ancestralidade”, ressaltou o prefeito.
A construção do cemitério foi coordenados pela Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp), ainda na gestão do antigo secretário Sabá Reis, assim como o projeto técnico-arquitetônico, com o conjunto dos cinco módulos de sepulturas verticais em gavetas e o portal de entrada exclusivo.
A preparação das ocas, o jardim e a pintura do grafismo estão sendo realizados pela Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime).

Para a coordenadora da Copime, Marcivana Saterê-Maué, o cemitério indígena tem um significado importante. Ela ressaltou que os antepassados deixaram vestígios para a cidade.
“Manaus é território indígena e eu gostaria de agradecer ao prefeito David e toda a prefeitura pelo carinho, pelo apoio e principalmente pelo cuidado com a memória da cidade de Manaus. Agora nós temos a possibilidade, por meio do cemitério, de trazermos essa memória, uma memória presente, o cemitério estará presente para nós e ficará para as gerações futuras”, afirmou.
Reconhecimento
O diretor-presidente da Manauscult, Alonso Oliveira, destacou que esta é uma reparação histórica como forma de reconhecer os primeiros habitantes de nossa cidade.
“Estamos entregando mais um importante projeto para os povos indígenas de nossa cidade, fruto de um trabalho integrado de diversas secretarias com o aval do prefeito David Almeida”, disse.
O presidente do Concultura, Tenório Telles, relembrou que as movimentações em torno do cemitério indígena de Manaus surgiram no início da gestão do prefeito David Almeida, ocasião em que ele foi procurado por um grupo de indígenas que apresentaram suas pautas e reivindicações.
“Entre elas estava o anseio por um reconhecimento e acolhimento da memória das populações indígenas que vivem na cidade de Manaus”.
Memorial Indígena
Os indígenas de Manaus conseguiram resgatar em 2021 o território sagrado com a criação do memorial Indígena de Manaus, inaugurado pelo prefeito com o histórico pedido de perdão pela indiferença e invisibilidade a que foram submetidos os povos indígenas desde os primórdios da cidade de Manaus.
A praça Dom Pedro II, no Centro Histórico da capital amazonense, teve reconhecida no ano passado sua necrópole dos povos ancestrais no Dia do Índio, 19 de abril, com a inauguração do Memorial Aldeia da Memória Indígena de Manaus.
O projeto do município era uma reivindicação antiga das populações indígenas em honra dos povos tradicionais que ali habitavam há mais de 800 anos, muito antes da presença de europeus em 1542, data do primeiro massacre da expedição espanhola comandada por Francisco Orellana.
Sítio arqueológico
O Memorial Aldeia da Memória Indígena de Manaus foi um marco para o resgate do verdadeiro início do processo cultural da cidade de Manaus, com os vestígios desse cemitério indígena, onde hoje está uma placa marcando e informando o local para a visitação pública e realização de cerimônias religiosas das muitas etnias que habitam o Amazonas.
Informações do Centro de Arqueologia de Manaus (CAM) mostram que o material arqueológico mais antigo presente no sítio Manaus é pertencente às fases Manacapuru (século V ao IX d.C.) e Paredão (VII ao século XII d.C.)