Estado ficou pela primeira vez no topo do ranking de desmatamento entre os estados da Amazônia Legal, no primeiro semestre, segundo dados do governo federal
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Dados do sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do governo federal, apontam que o Amazonas está em primeiro lugar na lista de estados da Amazônia que mais desmataram no primeiro semestre deste ano. Do total de 3.988, km² desflorestados no período, em toda a região, 30,9% (1.236 km²) ocorreram no estado. O número surpreende porque o Amazonas costumava ficar em posições menores, mas o avanço da exploração ilegal sob a região mudou o cenário.
Os números obtidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que, após o Amazonas, os estados que mais desmataram de janeiro a junho são o Pará (1.105 km²), Mato Grosso (845 km²) e Roraima (573 km²). Em toda a região, o tipo de desflorestamento mais comum foi o de solo exposto, aquele em que se derruba as árvores propositalmente para fazer uso da área.
“O desmatamento no Amazonas se concentra principalmente em municípios do sul do estado, como Apuí, Boca do Acre e Humaitá. Esses são alguns exemplos daqueles que vem figurando na lista dos 20 maiores desmatadores na Amazônia. O que acontece é que a região está sofrendo de um modelo exploratório que acompanhamos em Rondônia, no Pará e em outras regiões. A economia da destruição chega e toma espaço”, explica o porta-voz da campanha Amazônia do Green Peace Brasil,
Rômulo Batista.
Para se ter ideia, em 2016, primeiro ano que o Inpe operou o novo sistema Deter, o desmatamento no Amazonas em 12 meses somou uma área de 1.056 km². Para efeito de comparação, em apenas seis meses de 2022, esse número já foi ultrapassado com a área de 1.236 km² desflorestada, um território maior que a capital Rio de Janeiro (1.200 km²).
“Os autores explicam que o Amazonas está passando por um processo de ‘Rondonização’, que é a ocupação a partir das grandes rodovias. Você abre vicinais, expulsa as populações tradicionais, os povos indígenas e dá continuidade a esse processo de desmatamento com queimadas e posteriormente a grilagem”, afirma o ambientalista.
Uma ferramenta chamada Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC), lançada nesta sexta-feira (8) coloca dois municípios do Amazonas entre os piores do país no ranking de “cidades menos sustentáveis”. São eles: Lábrea e Boca do Acre, duas regiões com alto índice de desmatamento. A reportagem tentou contato com ambas as prefeituras, mas não obtivemos retorno até o fechamento desta matéria.
Combate
Em nota para esta reportagem, o governo do Amazonas, através da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) afirmou que está trabalhando de forma prioritária para fortalecer as ações de combate ao desmatamento. A gestão destacou ainda que do total de desflorestamento no estado em junho (296,11 km²), quase o total (78,75%) ocorreu em áreas administradas pelo governo federal.
“[Do total de alertas] 10,98 km² foram em áreas Estaduais e 52,96 km² (17,88%) em vazios cartográficos. Além das ações de comando e controle, o Governo do Amazonas tem buscado integrar os eixos de bioeconomia e ordenamento territorial e ambiental como estratégias de médio e longo prazo para conter o avanço do desmatamento ilegal”, pontua a Sema.
A pasta cita ainda que o Amazonas tem investido R$ 56 milhões através do programa Amazonas Mais Verde, que busca incentivar atividades sustentáveis, a revitalização de áreas degradadas, além do aperfeiçoamento de monitoramento estadual, dentre outras ações. Além disso, investiu em 2022 o total de R$ 20 milhões para implementar o programa Guardiões da Floresta, o novo sistema de Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA), em acordo com unidades de conservações estaduais, visando a preservação ambiental e o desenvolvimento da economia.
O que diz o governo federal
Para a reportagem, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) citou dados de outro sistema do Inpe, o Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (Prodes) para afirmar que “os números consolidados de desmatamento são divulgados anualmente, sempre no segundo semestre, por meio do PRODES. Neste sentido, temos os dados de queda de 3,8% nos alertas de desmatamento registrados pelo DETER-B nos últimos 12 meses”.
Segundo a pasta, o governo federal tem sido “extremamente contundente no combate aos crimes ambientais”. O Ministério cita a Operação Guardiões do Bioma, que busca coibir os ilícitos no Amazonas, Pará, Mato Grosso, Acre e Rondônia. “A ação inédita é coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública com a participação do Ministério do Meio Ambiente”, além de órgãos de segurança e fiscalização, como a Polícia Federal, a Funai, o Ibama e o ICMBio.
Veja as notas completas:
Governo do Amazonas:
O Governo do Amazonas informa que tem trabalhado, de forma prioritária, na otimização das estratégias para fortalecer as ações de combate ao desmatamento e as queimadas ilegais, em especial, por meio da Operação Integrada Tamoiotatá 2.
A força-tarefa teve início no dia 7 de março, com foco de atuação nos municípios ao sul do estado, considerados mais vulneráveis. Estão em campo equipes do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), do Batalhão Ambiental da Polícia Militar do Amazonas (BPAmb/PMAM), do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM) e da Defesa Civil. Também integram a operação servidores da Polícia Civil do Amazonas, por meio da Delegacia Especializada em Crimes Contra o Meio Ambiente e Urbanismo (Dema); e das Secretarias Executiva-Adjunta de Planejamento e Gestão Integrada (Seagi), de Operações (Seaop) e de Inteligência (Seai), vinculadas à SSP-AM.
Destaca-se que, do total de alertas de desmatamento emitidos em junho, 296,11 km², 233,20 km2 (78,75%) foram em áreas Federais, 10,98 km² (3,70%) em áreas Estaduais e 52,96 km² (17,88%) foram em vazios cartográficos. Além das ações de comando e controle, o Governo do Amazonas tem buscado integrar os eixos de bioeconomia e ordenamento territorial e ambiental como estratégias de médio e longo prazo para conter o avanço do desmatamento ilegal.
Por meio do Programa Amazonas Mais Verde, o Estado tem investido mais de R$ 56 milhões no incentivo a atividades sustentáveis, implantação de consórcios agroflorestais, ampliação da Assistência Técnica e Extensão Rural a agricultores familiares e produtores rurais, revitalização de áreas degradadas, além do aperfeiçoamento do sistema de monitoramento estadual, com a inauguração do novo Centro de Monitoramento Ambiental e Áreas Protegidas do Amazonas.
O Estado também investiu, neste ano, R$ 20 milhões para implementação do Programa Guardiões da Floresta, o novo sistema de Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA), em acordo com Associação de Unidades de Conservação Estaduais, para fortalecer a conservação e desenvolver a economia nas áreas protegidas do Estado.
Governo Federal:
O governo do Brasil, por meio dos ministérios da Justiça e Segurança Pública e do Meio Ambiente, esclarece que os números consolidados de desmatamento são divulgados anualmente, sempre no segundo semestre, por meio do PRODES. Neste sentindo, temos os dados de queda de 3,8% nos alertas de desmatamento registrados pelo DETER-B nos últimos 12 meses. Estes dados tratam-se de alertas para fins de combate a crimes ambientais.
O governo tem sido extremamente contundente no combate aos crimes ambientais com a Operação Guardiões do Bioma, que visa coibir crimes ambientais nos estados do Amazonas, Pará, Mato Grosso, Acre e Rondônia. A ação inédita é coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública com a participação do Ministério do Meio Ambiente, e envolve Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Força Nacional de Segurança Pública, Fundação Nacional do Índio (Funai), Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) e órgãos de fiscalização como Ibama e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).