A pandemia de covid-19 impactou a realização de transplantes em todo o País. No Amazonas, entre 2020 e junho de 2022, 380 pessoas entraram na fila para realizar o procedimento, segundo a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM). De acordo com o urologista Flávio Antunes, por conta da diminuição na doação do órgão, muitos amazonenses continuam aguardando para realizar a cirurgia.
“É importante incentivar a doação de rim e esclarecer os procedimentos. Algumas pessoas têm receio que os órgãos do seu familiar sejam doados, eventualmente, por uma dúvida se aquela pessoa faleceu mesmo, pensando se ainda teria uma chance de sobreviver ainda, mas hoje existem critérios muito rigorosos para se definir a morte cerebral, avaliação que é feita por uma equipe qualificada, e só a partir daí que é feita a doação dos órgãos”.
Em 2021, o índice de transplante renal de 22,4 pmp (número de transplantes por milhão de pessoas) ficou 26% abaixo da taxa anterior à pandemia. Em contrapartida, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), 15.640 pacientes ingressaram na lista de espera por um rim em 2021, dos quais 3.009 faleceram.
“Com a pandemia, os critérios para a doação mudaram e ficaram mais complexos. A diminuição no número de doações de órgão foi um dos principais fatores para essa taxa de mortalidade”, destaca Flávio Antunes, que ressalta que a Região Norte foi uma das mais impactadas com essa redução.
Segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), na região foram realizados apenas 1,7 transplante renal pmp, 17 vezes menos que as regiões Sudeste (31,2 pmp) e Sul (29,7 pmp). Em 2021, no Norte foram apenas 24 transplantes de rim entre doadores falecidos e 7 entre doadores vivos.
Indicações
O transplante renal pode ser indicado em muitos casos e acontece em decorrência de diabetes, pressão alta, inflamação nos vasos que filtram o sangue, doença renal policística, doença autoimune e obstrução do trato urinário.
No Amazonas, o transplante de rim está suspenso desde 2018, após o hospital privado, conveniado com o Sistema Único de Saúde (SUS), não demonstrar interesse pela renovação do serviço. Os pacientes que precisam do transplante são assistidos pelo programa de Tratamento Fora de Domicílio (TFD). Enquanto aguardam na fila, os amazonenses fazem apenas a hemodiálise – procedimento realizada de duas a sete vezes por semana.
O pensionista Aurélio Souto Arraz descobriu uma insuficiência renal em 2018 e entrou na fila do transplante no Amazonas. Enquanto aguardava, ele passou três anos fazendo sessões de hemodiálise.
“Fiz o transplante em dezembro do ano passado e agora eu tenho que voltar a São Paulo para dar continuidade ao tratamento. A doação de órgãos é importante. Apesar de a família perder o ente querido, ela tem a gentileza para doar os órgãos sabendo que aquela pessoa vai viver no corpo de outra pessoa. Este é um ato de amor. Se todo mundo fizesse isso, a fila de transplante seria bem menor”, destacou.