Profissional com perfil técnico mostra que governo americano quer evitar perfil associado à polarização política
O governo norte-americano escolheu Todd Chapman para ser seu próximo Embaixador no Brasil, cargo vago desde novembro do ano passado e ocupado interinamente pelo encarregado de negócios William Popp. Ainda existe um rito diplomático a ser cumprido antes que Chapman possa assumir a nova função em Brasília. Caberá ainda ao Governo do Brasil chancelar a escolha do nome indicado pelos EUA, assim como o Senado norte-americano.
A opção por Chapman é uma boa notícia. Diplomata de carreira, fluente em português e experiente em assuntos relacionados ao Brasil, onde já serviu outras vezes, ele representa a opção por um perfil técnico. Seu último cargo foi como Embaixador dos EUA no Equador.
É uma escolha que sinaliza a estratégia política da administração americana. E revela como os EUA pretendem dimensionar a sua relação bilateral com Brasília. Três pontos merecem destaque da perspectiva diplomática:
1) Os EUA olham mais para o futuro da relação bilateral do que para a circunstancial conjuntura atual. Por isso, escolheram um nome técnico e não um político ou ativista conservador.
2) O governo Trump demonstra que não quer que a indicação seja instrumentalizada no polarizado contexto político brasileiro.
3) A entrada de um diplomata de carreira pode consolidar canais de interlocução com todas as alas do espectro político nacional.
Ao invés de espelhar pelo lado norte-americano a escolha do Presidente brasileiro, a estratégia da Casa Branca parece ser a de construir laços políticos e econômicos para além dos “muros bolsonaristas”. A opção foi manter a tradição, inaugurada com Thomas Shannon, de nomear um profissional do quadro do serviço exterior para o Brasil, blindando as relações bilaterais da influência de doadores de campanha e de instituições ideológicas.
Em suma, a relação com o Brasil foi tomada como uma questão de Estado, dando continuidade, nesse aspecto, ao governo Obama. É bem possível que a Casa Branca tenha aventado, em algum momento, a possibilidade de lançar um nome político. No entanto, o curso da manobra foi recalculado.
A escolha de um perfil ideológico para ocupar o posto em Brasília poderia ser interpretada como um sinal de consentimento a políticas públicas adotadas pelo governo brasileiro e que não são bem vistas no Congresso, em Washington.
Ao evitar uma indicação ideológica e optar por nome técnico, o governo Trump afasta qualquer chance de seu escolhido ser reprovado no Senado americano. Trata-se de prudente pragmatismo diplomático. No período do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, os EUA mantiveram sobriedade e a devida equidistância.
Durante a gestão Temer, Washington sinalizou que o mandatário da Casa Branca encontraria com o chefe de Estado brasileiro, no entanto, sempre à margem de uma visita presidencial à capital americana. São sinais de como se calcula e refina uma estratégia de Estado e, sobretudo, como se evita cair em armadilhas com países cujo foco é estimado para o longo prazo. O que fica nítido nesse processo é que diplomacia se faz com razão e não com sinais oblíquos ou retóricas vazias.