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Evo Morales é reeleito na Bolívia em primeiro turno


Resultado estava indefinido até o final porque presidente precisava de diferença de dez pontos sobre segundo colocado, Carlos Mesa. Organização dos Estados Americanos (OEA) e a União Europeia pedem que seja realizado um segundo turno.


Evo Morales discursa para apoiadores após se declarar vencedor das eleições presidenciais, em Cochabamba, na Bolívia, mesmo antes da divulgação dos resultados finais, na quinta-feira (24)
Foto: STR/AFP

Em meio a uma série de denúncias de fraude e violentos protestos pelo país, o Tribunal Supremo Eleitoral da Bolívia confirmou nesta quinta-feira a reeleição do presidente Evo Morales . Com quase 100% das urnas apuradas, o presidente tem 47,07% dos votos, contra 36,51% do oposicionista e ex-presidente Carlos Mesa, diferença de 10,56 pontos percentuais. Pelas regras eleitorais bolivianas, a votação se decide no primeiro turno se um candidato obtiver 50% dos votos mais um ou se obtiver mais de 40% e a diferença em relação ao segundo colocado for de mais de 10 pontos percentuais.

Mais cedo, Evo Morales, que está no poder desde 2006 , havia anunciado a vitória , mesmo antes das autoridades eleitorais, quando a apuração estava em 95%. Diante de jornalistas, ele chamou seu rival, Carlos Mesa , de “criminoso”, e afirmou que havia uma “tentativa de golpe” em curso. Morales se referia às acusações de fraude feitas por opositores e aos pedidos dentro e fora da Bolívia para que fosse realizado um segundo turno.

A iniciativa veio primeiro da Organização dos Estados Americanos (OEA), na quarta-feira, “devido ao contexto e aos problemas evidenciados no processo eleitoral”. A União Europeia defendeu a ideia nesta quinta, “para restabelecer a confiança e assegurar o respeito pleno à escolha democrática do povo boliviano”, sendo acompanhada por Brasil , Argentina , Colômbia e EUA .

— A OEA [Organização dos Estados Americanos], como observadora do processo eleitoral, e a comunidade internacional devem respeitar a Constituição boliviana. Não quero pensar que a missão da OEA já esteja participando de um golpe de Estado. Existe um golpe de Estado (orquestrado) interna e externamente. A OEA como um todo deveria avaliar a si mesma, e também a missão que enviou — afirmou Morales.

Os pedidos para um segundo turno também são ouvidos dentro da Bolívia. Em Santa Cruz, cidade mais rica do país, uma greve geral está em vigor desde a quarta-feira. Ruas estão bloqueadas e o comércio está fechado. A região é considerada um bastião dos oposicionistas: nela Mesa obteve 46,85% dos votos válidos, contra 34,76% de Evo.

 O resultado oficial:

  • Evo Morales: 47,07% dos votos
  • Carlos Mesa: 36,51%
  • Chi Hyun Chung: 8,78%
  • Os demais candidatos não atingiram 5%

Pelas normas eleitorais bolivianas, um candidato vence a eleição no primeiro turno caso atinja a maioria absoluta ou caso consiga mais de 40% dos votos e, ao mesmo tempo, obtenha vantagem mínima de 10 pontos percentuais ao segundo colocado – foi o que ocorreu nesta eleição.

Teria havido segundo turno se fossem considerados apenas os votos dos eleitores que estão na Bolívia – no país, Morales obteve 46,64% e Mesa, 36,83%. Porém, o eleitorado residente em outros países definiu a eleição: quase 60% dos bolivianos no estrangeiro deram vitória ao atual presidente.

No Brasil, por exemplo, Evo Morales conseguiu 70% dos votos da comunidade boliviana. Carlos Mesa ficou em terceiro, com 9,6% – atrás de Chi Hyun Chung, candidato conservador que obteve 16,8%.


Eleição polêmica

A eleição ocorreu no domingo (20). O processo teve uma polêmica, já que havia dois métodos de apuração: um deles, o preliminar, era mais rápido, enquanto o outro, voto a voto, transcorria mais lentamente.

Os resultados dessas duas formas de contar começaram a divergir já no domingo. Enquanto a preliminar indicava a reeleição do presidente Evo Morales, a voto a voto apontava a disputa de um segundo turno de Morales contra Carlos Mesa.

Na Bolívia, um candidato pode ser declarado vencedor no primeiro turno se tiver 50% dos votos mais um, ou se tiver 40%, com dez pontos de vantagem sobre o segundo colocado.

A oposição se manifestou – houve acusações de fraude e protestos nas ruas. A Organização dos Estados Americanos publicou um documento em que qualificava a mudança de tendência inexplicável.

A divulgação da apuração preliminar foi suspensa e apenas a voto a voto continuou a ser divulgada.

Na segunda-feira, o ministro das Comunicações, Manuel Canelas, admitiu que o órgão eleitoral errou ao não deixar claro que havia duas contagens paralelas e explicou que a contagem preliminar tinha sido paralisada quando foi notado que havia uma confusão.

Na terça-feira, o vice-presidente do Tribunal Supremo Eleitoral, Antonio Costas, pediu demissão e afirmou que não tinha participado da decisão de interromper o serviço de apuração preliminar.

Ainda com um impasse nos resultados, os protestos cresceram, e Mesa convocou seus apoiadores a manterem uma mobilização constante até que se declare o segundo turno oficialmente.

Ao mesmo tempo, Evo dizia que venceu no primeiro turno e, nesta quinta, mesmo antes do encerramento da apuração, repetia ter ganhado “graças ao voto rural”. Na véspera, ele havia falado que a Bolívia “está em processo um golpe de estado”, em aparente referência aos protestos e à greve indefinida anunciados no país. Ele também afirmou que o país estava em estado de emergência e “em mobilização pacífica, constitucional e permanente”.


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