O preço da carne pode ficar nas alturas por anos, estimam especialistas. Em supermercados e açougues do Rio houve aumento de mais de 30% em um mês em alguns cortes, como picanha e alcatra , bem acima da média de 6,78% de alta da carne vermelha no ano pelo IPCA-15 e da inflação, abaixo de 3%. Segundo a Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj), alguns produtos sofreram alta de até 50% .
A alta da carne se deve a uma combinação de fatores. O principal é o aumento das exportações brasileiras para a China, cujos rebanhos de porcos foram reduzidos à metade pela febre suína africana. Com menos proteína suína, os chineses passaram a importar mais esse tipo de carne e também outras, como a bovina e de aves.
Como os chineses pagam mais e o dólar em alta aumenta os ganhos, os produtores brasileiros preferiram aumentar a exportação para o país asiático, o que reduziu a oferta interna e elevou os preços por aqui. O modelo econômico de crescimento da China vem mudando desde 2010, com aumento constante do consumo doméstico.
Exportação sobe 44%
De janeiro a outubro de 2019, o Brasil exportou para a China 3,86 milhões de toneladas de carne suína, bovina e de frango, um aumento de 44% em relação ao mesmo período de 2018. Segundo Roberto Dumas, professor de Economia Internacional do Ibmec-SP, a demanda chinesa deve se manter em alta por anos:
– O aumento do consumo dos chineses, com alta da renda dos trabalhadores, é estrutural. E se a China não produz para a demanda interna, acaba importando do agronegócio brasileiro. Isso veio para ficar. O que a China abateu de suínos deve ser recuperado só daqui a cinco ou seis anos.
A demora também se refere ao longo ciclo do boi. Enquanto o frango demora de 45 a 60 dias para ser abatido — o que facilita o ajuste da oferta de acordo com a demanda—, e o porco leva de 100 a 120 dias para ser engordado, o boi, em geral, leva de quatro a seis anos no pasto.
Com tecnologia, esse período pode ser abreviado para três anos, mas a expansão da oferta ainda é lenta.