Vídeos mostram integrantes do FDN marcando território e provocando os rivais CV e PCC – transformando a capital amazonense em uma verdadeira zona de guerra

A cidade de Manaus está vivendo um campo de guerra entre facções criminosas. Uma grande disputa por pontos de tráfico de drogas deixa a população em perigo e com medo, em todas as zonas da cidade.
Nas últimas semanas houve diversos tiroteios em vários pontos da capital.
Na madrugada desta quarta-feira, (17), vídeos começaram a circular onde mostram integrantes da FDN comemorando a “marcação de território”, nas ruas do Igarapé do 40, zona Sul de Manaus.
Nas imagens o grupo aparece fortemente armado e um deles picha um muro com a sigla da FDN, além de fazer provocações a facção rival.
Na noite de terça-feira (16), policiais militares estiveram no bairro Crespo, zona Sul de Manaus, após informações de confronto entre facções naquela região.
Entenda
Uma trama marcada por supostas traições e se tornou uma ameaça ao futuro da maior facção criminosa da região Norte, a FDN (Família do Norte). A guerra dentro do grupo foi responsável pelas 55 mortes dentro do sistema prisional do estado no fim de maio.
A facção, que já havia protagonizado outra barbárie em 2017, não briga só entre si, mas também está em disputa contra os dois maiores grupos organizados do país: o PCC (Primeiro Comando da Capital) e a CV (Comando Vermelho). Agora, as rivais devem ganhar força com a disputa interna da FDN.
No ano passado, a FDN rompeu com o CV, o que fez a facção perder força –já que o motivo da briga foi a traição de um dos então líderes da FDN. Agora, além de externa, a disputa envolve seus dois maiores principais líderes –embora existam versões ainda conflitantes da confusão.
O novo cenário trouxe preocupação do governo do Amazonas, que pediu antecipadamente a renovação da permanência da Força Nacional de Segurança por mais um ano, além de lançar a operação “fecha quartel”, para pôr mais PMs nas ruas.
Histórico recente de brigas

A FDN tem um histórico de brigas internas e traições. No passado, CV e FDN brigaram após a descoberta de um suposto plano de traição de outro então líder da facção amazonense, Gelson Carnaúba, também conhecido como Mago G. Junto com Zé Roberto e João Branco, eles foram os fundadores da FDN, em 2004, no bairro Compensa, em Manaus.
Expulso da facção, Gelson passou a ser um dos líderes da CV no Estado, e desde então teria atuado para minar a FDN.
Além das duas facções, o PCC também está presente no estado há anos, mas sempre teve problemas por ser um grupo paulista. Os criminosos do Amazonas questionavam as ordens vindas do comando da facção e a remessa de dinheiro arrecadado no estado para São Paulo. Com base nisso, a FDN se apoiou no caráter regionalista para, com apoio do CV, iniciar a guerra.
Um dos centros da disputa seria as conexões internacionais do tráfico de drogas, já que o estado tem a conhecida rota Solimões, por onde chega boa parte da droga vinda de países como a Colômbia e Bolívia. Essa rota tinha domínio praticamente absoluto de CV e FDN, mas com o fim da união das facções.
A FDN é resultado da união de dois traficantes, Gelson Lima Carnaúba, o Gê, e José Roberto Barbosa, o Zé Roberto da Compensa. Segundo a PF, após passarem uma temporada cumprindo pena em presídios federais, eles voltaram a Manaus, em 2006, determinados a se estruturarem como uma facção criminosa.
Em 2015, uma operação da PF, a La Muralla, flagrou o grupo movimentando milhões por mês com o domínio da “rota Solimões” – usada para escoar a cocaína produzida na Bolívia e no Peru por meio dos rios da região amazônica. A FDN era, segundo investigações, aliada do Comando Vermelho (CV).