
A Federação da Agricultura e Pecuária no Amazonas (Faea) alertou nesta sexta-feira (28), que alguns alimentos considerados mais populares no Estado pode faltar ou sofrer superfaturamento por pouca quantidade no mercado.
Banana pacovã, açaí, cupuaçu, maracujá e macaxeira são os alimentos mais suscetíveis a escassez nas feiras e supermercados de Manaus entre maio e junho, quando a cheia dos rios no Amazonas está mais intensa. Tanto a cheia quanto a seca ocorrem em menor intervalo de tempo, o que impede a recuperação das plantações, anda conforme a Federação.
Além da falta dos produtos, outro efeito é o aumento de preços. “A cheia dos rios amazônicos, características cíclicas que ocorrem entre os meses de dezembro e junho, podem trazer impactos significativos para a produção de alimentos regionais afetando tanto os agricultores familiares quanto os consumidores nas cidades”, diz Muni Lourenço, presidente da Faea.
Ainda segundo o levantamento da Faea, o jerimum e a mandioca, base da alimentação amazônica e matéria-prima para a farinha e o tucupi, é uma das culturas mais afetadas pela cheia dos rios. E a escassez também afeta o preço da farinha.
“Cará e inhame também são sensíveis ao excesso de umidade, o que pode provocar perda de lavouras. Hortaliças como a alface, couve e cheiro-verde, que são cultivadas em pequenas hortas, costumam ser destruídas pela subida das águas”, diz Muni.
Segundo Paulo Menezes, engenheiro agrônomo e professor do Ifam (Instituto Federal do Amazonas), no período de cheias existem muitas plantas que não suportam o encharcamento e a inundação do solo.
“Quando uma roça é inundada, falta oxigênio nas raízes das plantas e os frutos verdes começam a cair. Então, não chega a ter o amadurecimento fisiológico da fruta, causando uma grande perda. A várzea é uma grande produtora de hortaliças e frutas, mas essas grandes enchentes e grandes secas estão comprometendo a produção e a produtividade dessas culturas”, afirma.
Ainda conforme Menezes, a recuperação dos alimentos afetados exige mais tempo e o ciclo entre uma enchente e outra é menor, o que não dá tempo suficiente para a recuperação das lavouras.
O levantamento da Faea também menciona os efeitos da cheia na pesca, que dispersam os peixes como o tambaqui e o pirarucu em áreas mais extensas e dificulta a captura por pescadores e ribeirinhos.
“O jaraqui, um dos peixes mais consumidos no Amazonas, também sente os efeitos da cheia. Com o aumento do volume dos rios, ele migra para locais de difícil acesso, diminuindo a oferta nos mercados e podendo provocar o aumento dos preços. A pesca artesanal, fundamental para muitas famílias ribeirinhas, também é prejudicada”, diz Muni Lourenço.
A coleta de produtos extrativistas, como a castanha-do-Brasil, também sofre os efeitos da enchente porque as áreas alagadas dificultam o acesso às castanheiras. “O período de colheita da castanha ocorre no primeiro semestre do ano e o alagamento prejudica o rendimento dos extrativistas. A mesma coisa acontece com os óleos vegetais, como o andiroba e a copaíba”, diz Lourenço
A enchente tem um impacto também no transporte dos produtos, porque as estradas vicinais ficam alagadas e dificultam o escoamento da produção. Para o presidente da Faea, a situação de enchente exige estratégias de adaptação como o fortalecimento da agricultura em terra firme, o incentivo ao manejo sustentável da pesca e a melhoria da infraestrutura logística.