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Falta oxigênio e fogueiras cremam corpos na tragédia de Covid-19 na Índia

Mesmo sendo um país produtor de vacinas, doentes lutam para conseguir um leito e oxigênio para tratamento em casa devido ao comércio ilegal do gás hospitalr e medicamentos

Homem carrega um cilindro vazio para reabastecê-lo fora do centro de enchimento de oxigênio na Dilshad Garden Area em 25 de abril de 2021 em Nova Delhi, Índia
Indiano leva cilindro vazio de oxigênio, que custa até dez vezes mais no mercado negro

A maioria dos hospitais em Nova Delhi, capital da Índia, e em muitas outras cidades do país está completamente sem leitos, forçando as pessoas a encontrar maneiras de obter tratamento para pacientes com covid-19 em casa.

Mas mesmo isso está se revelando uma tarefa difícil, já que os preços dos cilindros de oxigênio, concentradores e medicamentos essenciais dispararam no mercado ilegal.

Anshu Priya passou a maior parte do domingo procurando um cilindro de oxigênio, enquanto a condição do sogro continuava a piorar. Ela não conseguiu encontrar nenhuma cama de hospital em Delhi ou no subúrbio de Noida. Sua busca por um cilindro de oxigênio também foi inútil, obrigando-a a recorrer ao comércio clandestino.

Ela pagou a enorme quantia de 50 mil rúpias (R$ 3.662) para adquirir um cilindro no mercado ilegal, quase dez vezes mais do que o valor em tempos normais (6 mil rúpias).

Sua sogra também está lutando para respirar e Anshu agora está preocupada com ela. Ela diz que pode não conseguir comprar outro cilindro no mercado ilegal.

A BBC também ligou para vários fornecedores de cilindros de oxigênio e a maioria deles cobrou pelo menos 10 vezes mais do que o preço normal.

Anshu não está sozinha. Hospitais em muitas cidades, incluindo Delhi, Noida, Lucknow, Allahabad e Indore, ficaram sem leitos, fazendo com que famílias dependessem de arranjos improvisados em casa.

A situação é particularmente preocupante em Delhi, onde não há mais leitos de UTI. As famílias – aquelas que podem pagar -estão contratando enfermeiras e consultando médicos remotamente para manter seus entes queridos vivos.

Aviso público pendurado em frente ao Hospital Shanti Mukund notificando a falta de leitos UTI, em 22 de abril de 2021 em Nova Delhi, Índia
Não há mais leitos UTI em vários hospitais da Índia

A Índia tem registrado mais de 300 mil casos por dias. Na segunda-feira, o país registrou o maior número de casos diários de coronavírus pelo quinto dia consecutivo, com 352.991 novas infecções e outras 2.812 mortes em um período de 24 horas.

Esse aumento acentuado sobrecarregou o sistema de saúde de muitas cidades e não deixou escolha para as famílias a não ser providenciar o que puderem em casa para seus parentes doentes. Mas o desafio é imenso, desde a realização de exames de sangue até a obtenção de uma tomografia computadorizada ou raios-x.

Os laboratórios estão sobrecarregados e está demorando até três dias para que os resultados dos testes retornem, o que torna mais difícil para médicos avaliarem a progressão da doença e prescrever o tratamento adequado. Tomografias computadorizadas também são usadas por eles para avaliar a condição do paciente, mas leva tempo para marcar uma consulta.

Os médicos dizem que esses atrasos estão colocando muitos pacientes em risco. Os testes de RT-PCR, usados para diagnosticar a presença do coronavírus, também estão demorando dias.

A BBC soube de casos de vários pacientes doentes que encontraram um leito, mas não puderam ser internados porque não tinham um diagnóstico positivo de covid.

Anuj Tiwari foi um dos que contrataram uma enfermeira para ajudar no tratamento de seu irmão em casa, depois de não ter conseguido interná-lo.

Gráfico mostra número de casos confirmados e mortes por dia na Índia
Gráfico mostra número de casos confirmados e mortes por dia na Índia

Alguns disseram que não tinham leitos disponíveis e outros, que não estavam aceitando novos pacientes devido à contínua incerteza sobre o suprimento de oxigênio.

Vários pacientes morreram em Delhi devido à falta de suprimento de oxigênio. Os hospitais da cidade estão desesperados e alguns têm emitido alertas diários, dizendo que restam apenas algumas horas de oxigênio.

Em seguida, o governo entra em ação e os cilindros são enviados, o que geralmente é o suficiente para manter o hospital por apenas um dia.

Um médico em Delhi disse que era assim que os hospitais funcionavam e “agora há temores reais de que uma grande tragédia possa acontecer”.

Escassez de medicação

Dado o cenário nos hospitais, Tiwari pagou uma quantia elevada para adquirir um concentrador – que pode extrair oxigênio do ar – para manter seu irmão respirando.

O médico também lhe pediu para providenciar o remdesivir, medicamento antiviral, que recebeu aprovação para uso emergencial na Índia e está sendo amplamente prescrito por médicos. Os benefícios da droga – que foi originalmente desenvolvida para tratar o vírus Ebola – ainda estão sendo debatidos em todo o mundo.

Tiwari não conseguiu encontrar o medicamento em nenhuma farmácia e acabou recorrendo ao mercado ilegal. A condição de seu irmão continua crítica e o médico diz que em breve ele precisará de um hospital onde remdesvir possa ser administrado.

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