Nos próximos dois meses, 580 residências de Manaus, Manacapuru e Itacoatiara receberão os pesquisadores do Ministério da Saúde.

O Ministério da Saúde iniciou a coleta de dados sobre alimentação dos brasileiros menores de 5 anos para o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani). Foram selecionados 15 mil domicílios em 123 municípios.
No Amazonas, serão visitadas 580 residências, sendo 80 em Itacoatiara, 80 em Manacapuru e 420 em Manaus nos meses de junho e julho, quando também receberão a visita dos pesquisadores os estados do Acre, Rondônia, Roraima e Tocantins.
Pais e responsáveis contribuirão com informações de alimentação sobre aleitamento materno e alimentação infantil, além de dados que vão permitir avaliar o crescimento e deficiências de nutrientes nesse público. A participação é voluntária.
O Ministério da Saúde informa que já encaminhou cartas às residências, condomínios e aos gestores dos três municípios amazonenses informando sobre a participação e o que é a pesquisa. Os dados informados são sigilosos e, em hipótese alguma, os nomes das crianças poderão ser identificados. A análise dos dados será feita em conjunto com as informações de outras famílias em todo o Brasil.
“Conhecer a situação alimentar e nutricional dessas crianças é fundamental para a elaboração, monitoramento e aperfeiçoamento das políticas públicas e estratégias de promoção da saúde”, afirma a coordenadora-geral de alimentação e nutrição do Ministério da Saúde, Michele Lessa.
Equilíbrio alimentar
Em Manaus, João Miguel, de 4 anos, não suporta doces. Pode soar espantoso, mas ele troca qualquer pedaço de chocolate por um peixe bem frito ou um prato de feijão, jerimum e farinha, do qual ele é “fã de carteirinha”. E, acredite se quiser, a mãe, a estudante de educação física Cristiana Garcia, não precisa fazer esforço nenhum para que o João tenha uma alimentação saudável.
“O máximo que ele chega de comer doce é dar uma ou três lambidinhas em um pirulito e depois joga fora”, conta ela, que é uma “formigona” assumida. “Das frutas ele gosta de suco de melão, maracujá e laranja. Ele também adora um ensopadinho, ou cozidão de carne, batata, cenoura, cará e macaxeira, mas com um detalhe, tem que ter farinha em tudo”, afirma.
Vamos combinar que o João Miguel é um ponto fora da curva e nem todos os pais têm a mesma “sorte” que a Cristiana tem de não ter essa dor de cabeça em convencer o filho a comer legumes e frutas. Digo mais da espontaneidade alimentar dele.
Até porque, na maioria das vezes, tudo que os familiares consomem nas refeições reflete no desenvolvimento do hábito alimentar de uma criança. Em tese, uma alimentação equilibrada e saudável deve começar pelos pais e familiares. Ao menos ajuda muito.
Hábitos saudáveis
A nutricionista Rafaelli Cordeiro, que é mãe da Isabelli, de 4 anos, sabe bem disso. Entre altos e baixos ela está tentando criar na filha um hábito alimentar saudável. Pra comer verduras, por exemplo, é uma perseverança constante com a menina. “Às vezes ela enjoa. Mas não posso desistir. Sempre fico oferecendo pra ela”, conta ela, que tem um trunfo nessa empreitada: o peixe.
“Meu pai veio do interior do Amazonas. Ele sempre teve o hábito de trazer de lá alimentos da região. A paixão da minha filha é comer peixe com farinha. Eu até chamo ela de ‘caboquinha’, diz, frisando que devemos aproveitar bem o fato da região amazônica ser rica em frutas e peixes. “Digo e repito: o que vem da terra e o que for natural faz bem pra saúde. Tudo que é industrializado jogue fora. Ou controle na vida do seu filho”, aproveita pra orientar.
De toda a gama de opções da dieta amazonense praticamente, de acordo com Rafaelli, não há nenhuma contraindicação para o prato de uma criança abaixo dos cinco anos. “A pupunha, o tucumã, o açaí, o buriti, a banana e o taperebá são frutas bem conhecidas e consumidas no Amazonas que têm a chamada gordura poli e monoinsaturada, que são boas para a saúde”, explica.
“Além do mais, alimentos como pães, arroz e farinha de mandioca devem, sim, fazer parte do prato do seu filho. O importante é respeitar algumas regras que farão com que seja ofertado para a criança o melhor dos carboidratos. Afinal, esses alimentos, se não forem bem administrados, engordam (e muito)”, alerta.
Raio-X de crianças brasileiras
O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani) possibilitará obter informações detalhadas sobre hábitos alimentares, peso e altura de crianças de até cinco anos. A novidade é a coleta de sangue em participantes com mais de seis meses de vida, que possibilitará dados sobre o crescimento e desenvolvimento, além do mapeamento sanguíneo de 14 micronutrientes, como os minerais zinco e selênio e vitaminas do complexo B.
Também trará informações sobre amamentação, doação de leite humano, consumo de suplementos de vitaminas e minerais, habilidades culinárias, ambiente alimentar e condições sociais da família.
População pode tirar dúvidas
Assim que chegar ao local, os pesquisadores vão explicar os procedimentos às famílias e entregar um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, com detalhes da pesquisa e orientações de como entrar em contato com a coordenação para tirar dúvidas, incluindo a opção gratuita de ligar para o número 0800-808-0990.
Municípios dos 26 estados e DF participam de levantamento
Sessenta pesquisadores são parceiros do levantamento sobre alimentação dos brasileiros menores de 5 anos para o Enani que teve início, em março, no Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul. Este mês de abril e maio é a vez do Distrito Federal, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. Em maio e junho, serão os estados de Mato Grosso e Paraná. Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima e Tocantins em junho e julho; Goiás e São Paulo em agosto e setembro; Ceará, Maranhão e Piauí de agosto a outubro; Amapá e Pará em setembro e outubro; Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe de setembro a novembro.
A pesquisa sobre alimentação das crianças tem a parceria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), mas também conta com pesquisadores de todas as universidades brasileiras, empresas e institutos de pesquisas.
Os pesquisadores estarão devidamente identificados com camisas e crachás com o nome e a fotografia, além do logotipo do Ministério da Saúde.