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Favelas movimentam R$300 bilhões por ano; Manaus tem duas das cinco maiores do Brasil

Favelas da capital amazonense ganham destaque naciaonal por potência econômica e de consumo, diz estudo da Central Única das Favelas no Amazonas em parceria com o Data Favela e o IBGE.

O Brasil possui atualmente 12.348 favelas mapeadas, onde vivem cerca de 17,2 milhões de pessoas distribuídas em 6,6 milhões de domicílios. Esses números revelam que quase 1 em cada 10 brasileiros vive em uma favela, o que representa 8,1% da população nacional e 8% dos lares brasileiros.

Entre as maiores favelas do Brasil, o Amazonas marca presença no ranking com duas grandes comunidades: Cidade de Deus/Alfredo Nascimento, com 55.821 habitantes, e Comunidade São Lucas, com 53.674 – ambas ficam na Zona Leste de Manaus. O estado fica atrás da Rocinha (RJ) com 72.021 moradores, Sol Nascente (DF) com 70.908, e Paraisópolis (SP) com 58.527.

Se a população das favelas de Manaus formasse um estado, esse “Estado Favela” seria o 4º mais populoso do país, superando inclusive a Bahia. Ficaria atrás apenas de São Paulo (45,9 milhões), Minas Gerais (21,3 milhões) e Rio de Janeiro (17,2 milhões), com a mesma população que esse último.

Os dados são da Central Única das Favelas no Amazonas em parceria com o Data Favela e o IBGE, participou da maior escuta já realizada nas favelas brasileiras, mobilizando cerca de 1.000 voluntários em todo o país.

O levantamento rompe com estigmas e revela um novo retrato das periferias, as favelas são territórios de consumo, geração de renda e protagonismo econômico.

Os moradores das favelas movimentam, juntos, R$ 300 bilhões em renda própria por ano, valor maior que o consumo do Paraguai ou da Bolívia, e superior ao Produto Interno Bruto de 22 dos 27 estados brasileiros.

Nos últimos três meses, os dados apontam que 55% dos moradores de favelas compraram produtos de beleza e 41% adquiriram vestuário. Para os próximos seis meses, as intenções de compra seguem em alta, com destaque para a Região Norte, que apresenta percentuais acima da média nacional em diversas categorias.

Favela nortista

Na Região Norte, 77% dos moradores pretendem comprar roupas, superando a média nacional de 70%, o que representa cerca de 8,6 milhões de pessoas. Quando o assunto é beleza, 67% planejam adquirir perfumes e cosméticos, também acima da média nacional, estimada em 60% (ou 7,4 milhões de consumidores).

O setor da construção civil também se destaca, 59% dos moradores pretendem comprar materiais de construção, enquanto a média brasileira está em 51%, o que representa 6,3 milhões de pessoas.

Ainda na Região Norte, 61% dos moradores pretendem comprar eletrodomésticos, o maior índice entre todas as regiões do país. No segmento de eletrônicos, 47% manifestam intenção de compra, alinhados à média nacional, que representa cerca de 5,3 milhões de brasileiros.

A educação também aparece como prioridade, 54% dos moradores da região planejam investir em cursos diversos, e 39% desejam adquirir cursos de idiomas.

Outro dado relevante é o uso crescente do e-commerce. Atualmente, 6 em cada 10 moradores de favelas realizam compras online em marketplaces, sendo a Shopee o principal canal, seguida pelo Mercado Livre.

Economia na Favela

No entanto, a ausência de acesso também carrega consequências emocionais: 62% dos moradores das favelas afirmam já ter se sentido excluídos por não conseguirem consumir um produto da moda, e 50% relatam constrangimento por não terem determinada marca ou item desejado.

“A gente não quer mais ser estatística de tragédia. A gente quer ser estatística de consumo, de sonho, de investimento. E estamos prontos pra isso,” afirma Marcus Vinícius Athayde, fundador do Data Favela.

A aparência, por exemplo, é um tema sensível nas favelas e mobiliza tanto a autoestima quanto o desejo de ascensão social.

Cerca de 77% dos moradores se importam muito com a própria aparência, e para 57%, cosméticos são itens de primeira necessidade. Além disso, 37% acreditam que pessoas com boa aparência têm mais chances de se dar bem profissionalmente.

Quando se trata de consumo inteligente, os moradores valorizam não apenas o preço, mas principalmente a qualidade e o custo-benefício. O erro custa caro, e por isso, as marcas funcionam como um selo de confiança. 83% afirmam que gostam de encontrar produtos mais baratos que entregam a mesma qualidade de marcas mais caras.

“Quem vive nesses territórios sabe o valor de cada real gasto. Valoriza qualidade, praticidade e durabilidade. Consumir bem não é apenas economizar, é tomar uma decisão segura e inteligente,” disse Renato Meirelles, também fundado da Data Favela.

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