Levantamento do Greenpeace Brasil revela que o garimpo já destriu 4.149 hectares na Terra Indígena Yanomami e ouro ilegal passando pela capital amazonense.

Entre 2019 e 2024, a Terra Indígena Yanomami, localizada entre Amazonas e Roraima, perdeu 4.149 hectares de floresta devido ao garimpo ilegal de ouro.
A atividade, além de causar destruição ambiental, contaminou 84% da população indígena com mercúrio, segundo levantamento do Greenpeace Brasil, no relatório Ouro Tóxico, divulgado nesta terça-feira (08).
A análise, baseada em imagens de satélite e dados de campo, revela que, mesmo após operações federais de combate, a atividade persiste.
Em 2023, foram desmatados 239 hectares; em 2024, outros 223. O garimpo atua principalmente às margens dos rios Mucajaí, Uraricoera, Catrimani e Apiaú, em áreas de difícil acesso.
A crise humanitária na região levou o governo federal a decretar estado de emergência em janeiro de 2023, após a confirmação de 570 mortes de crianças Yanomami por causas evitáveis, entre 2019 e 2022.
A Polícia Federal identificou e destruiu minas subterrâneas ilegais no interior do Amazonas em fevereiro de 2025, ampliando a resposta à presença de estruturas sofisticadas de garimpo na região.
As operações fazem parte de mais de 3 mil ações realizadas pelo governo federal em Terras Indígenas, com prejuízo estimado de R$ 267 milhões ao garimpo ilegal.
Ouro ilegal passa por Manaus antes de chegar à Suíça
O relatório detalha a cadeia de circulação do ouro extraído ilegalmente na Amazônia. Parte considerável é levada a Boa Vista (RR), onde é vendido em joalherias sem registro, e depois transportado para Manaus (AM), Itaituba (PA) e outros polos comerciais da região.
Nessas cidades, o ouro passa por corretores, postos de compra e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (DTVMs), entrando no mercado formal.
Em 2024, 4,5 toneladas de ouro da Amazônia foram exportadas diretamente para a Suíça, país que afirma não aceitar ouro ilegal. O volume representa 23% do total exportado para o país europeu.
Segundo o Greenpeace Brasil, é praticamente impossível rastrear a origem do metal após sua entrada no mercado formal brasileiro.
O Amazonas é um dos estados classificados como de alto risco para exportações de ouro, junto com Pará e Mato Grosso, justamente pelo volume de extração ilegal e pela fragilidade da fiscalização em áreas remotas.
Contaminação por mercúrio atinge população e peixes na região
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) identificou níveis elevados de mercúrio na maioria das aldeias Yanomami: 84% dos moradores apresentavam contaminação.
O metal é utilizado no processo de separação do ouro, e seu despejo nos rios provoca danos permanentes ao meio ambiente.
Um estudo de 2023 revelou que em 17 cidades da Amazônia, 1 em cada 5 peixes vendidos nos mercados populares, incluindo os de Manaus, estavam contaminados com níveis de mercúrio acima do limite de segurança estabelecido pela OMS.
Impacto socioambiental e perspectiva de colapso ecológico
Além dos danos à saúde, o garimpo ilegal provoca destruição acelerada da floresta. Máquinas pesadas, como escavadeiras hidráulicas, substituíram a extração manual e multiplicaram o poder de devastação ambiental. Em 24 horas, uma escavadeira faz o trabalho de 40 dias de três homens.
O Greenpeace alerta que a Amazônia pode atingir o ponto de não-retorno até 2050, quando perderá sua capacidade de regeneração.
A exploração de ouro ilegal contribui diretamente para essa aceleração, somando-se ao desmatamento, às queimadas e à perda de biodiversidade.
Combate ao garimpo no Amazonas
Nos dois anos de intervenção federal na TI Yanomami, o número de garimpos ativos caiu mais de 90%, segundo o governo. No entanto, o garimpo segue migrando para outras áreas da Amazônia, inclusive para novas regiões do Amazonas.
O Greenpeace recomenda uma série de medidas urgentes, como proibição do uso de mercúrio, auditoria nas permissões de lavra garimpeira (PLGs) e reutilização do ouro confiscado para recuperação ambiental.
Também sugere presença permanente do Estado em áreas indígenas e uma cadeia de custódia mais rigorosa para o ouro comercializado no Brasil.