
O governo federal está preocupado com o risco de a seca na Amazônia reduzir o nível dos rios a ponto de isolar Manaus do ponto de vista logístico. Isso poderia impossibilitar o transporte de mercadorias por via fluvial para a capital do Amazonas, que conta com 2,3 milhões de habitantes.
A situação foi discutida ontem por técnicos no Palácio do Planalto. De acordo com informações do Broadcast Político, serviço de notícias online do Grupo Estado, foi apresentada uma projeção de que o nível crítico dos rios pode ser atingido em até 22 dias.
Por outro lado, a preocupação Federal esbarra na incompetência de licitar as dragagens nos rios amazonenses. No começo do mês de agosto, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) reabriu o prazo para a apresentação das propostas para a licitação das obras de dragagem em trechos do Rio Solimões, entre Coari e Codajás, no Amazonas.
O órgão do Ministério do Transporte não informou contudo a nova data limite para apresentação das propostas. A licitação havia sido suspensa temporariamente na semana passada devido a procedimentos corriqueiros dos órgãos de controle. A nova data, segundo o DNIT, permite que o processo continue conforme o cronograma estabelecido e assegura a seleção adequada de empresas para o trecho.
A principal preocupação é com o armazenamento de combustíveis. Outros itens essenciais, como medicamentos, poderiam ser transportados por avião em situações de emergência.
Uma solução considerada seria transportar combustíveis até Itacoatiara (AM), que está mais próxima da foz do Amazonas do que Manaus e tem acesso à capital do estado por via terrestre. Este trajeto pelo rio tem menos probabilidade de ser comprometido do que o caminho direto até Manaus.
Seca Manaus e região: preocupações
O governo ainda se preocupa com a atividade de piratas na região. Um aumento no movimento de cargas no local poderia ser um chamariz para os criminosos. Esse foi um dos motivos de a Polícia Federal estar representada na reunião técnica desta segunda-feira, na Casa Civil, que também teve a participação do Ibama e outros órgãos.
Além disso, foi discutida a situação de navegabilidade de outros rios amazônicos, como o Madeira. O nível da água em alguns locais está tão baixo que, na avaliação de fontes ouvidas pela reportagem, nem dragagens seriam suficientes para normalizar o tráfego.
O Rio Solimões, por exemplo, chegou na sexta-feira, 30, ao menor nível da história no trecho que passa pela cidade de Tabatinga, no Amazonas, de acordo com relatório divulgado pelo Serviço Geológico Brasileiro (SGB). O órgão nunca havia registrado uma cota tão baixa neste mês. O relatório do SGB também aponta situação preocupante nos Rios Amazonas e Negro.
Atualmente, o problema ambiental que mais mobiliza as principais autoridades do Palácio do Planalto são os incêndios na Amazônia, no Pantanal, em São Paulo e outros lugares. Havia a expectativa de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reunir governadores na semana passada para discutir o assunto.
Mas não havia sido fechada uma proposta federal para apresentar aos chefes de governo estadual. Há a expectativa de o tempo ficar mais seco nas próximas semanas, deixando o cenário ainda mais favorável para queimadas.
Seca no Brasil
A seca se intensificou em 15 estados brasileiros entre junho e julho de 2024, de acordo com o Monitor de Secas, divulgado nesta segunda-feira (2).
Além disso, o fenômeno voltou a ser registrado em quatro estados do Nordeste — Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe — que não apresentavam seca anteriormente. Apenas Rio Grande do Sul e Santa Catarina ficaram livres da seca em julho, enquanto em outros quatro estados e no Distrito Federal a situação permaneceu estável.
Os estados onde a seca se agravou são Acre, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Piauí, Rio de Janeiro, Rondônia, São Paulo e Tocantins. O monitoramento apontou que a região Norte enfrenta as condições mais severas, com seca extrema, enquanto o fenômeno se expandiu por todas as regiões do país.
Oito estados e o Distrito Federal registraram seca em 100% de seus territórios em julho: Acre, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rondônia e Tocantins. No Amazonas, que lidera a área total afetada, o governador Wilson Lima declarou situação de emergência e emergência em saúde pública em todos os 62 municípios devido à estiagem.
Entre junho e julho, a área total afetada pela seca aumentou de 5,96 milhões para 7,04 milhões de km², o que representa 83% do território brasileiro. O Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden) classificou a seca atual, que se estende desde 2023, como “a mais intensa da história recente” do Brasil.


