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Guarda Municipal inclui curso antirracista na formação de novos agentes

Pioneira no país, a iniciativa busca preparar guardas municipais de Manaus para atuar com mais empatia, consciência social e respeito aos direitos humanos nas ruas.

Diante de um cenário em que episódios de racismo, violência e preconceito contra a população negra, periférica e de baixa renda expõem feridas profundas na atuação das forças de segurança, a Guarda Municipal de Manaus (GMM) incluiu, pela primeira vez no Brasil, o curso “Movimentos Sociais na Sociedade” na formação de novos agentes.

O curso é uma iniciativa da Secretaria Municipal de Segurança Pública e Defesa Social (Semseg) e Secretaria Municipal de Relações Institucionais e de Promoção da Igualdade Racial (Semuripir), e trazem disciplinas que buscam preparar os guardas para lidar com a diversidade social das ruas com mais empatia, consciência e respeito aos direitos humanos.

O instrutor Christian Rocha ministra o componente curricular “Perfilamento Social e Racismo Estrutural”. Ele reconhece que a presença do curso na formação da Guarda Municipal é um passo inédito rumo à construção de uma segurança pública mais cidadã e inclusiva.

“Sabemos que existe preconceito, discriminação e racismo. O perfilamento racial vem dentro de um racismo presente na sociedade, onde a comunidade negra é a que mais sofre. A Segurança Pública precisa de uma orientação e Manaus sai na frente com a implementação de um curso de suma importância, com o objetivo de diminuir esses índices”, destacou o instrutor.

Rocha explica que a matriz curricular e a metodologia utilizada abordam, no escopo do curso, o processo político, histórico e social da construção do preconceito e racismo na sociedade, como forma de instruir os agentes de segurança acerca da problemática do perfilamento racial e racismo.

“O agente de segurança naturalizou o preconceito e o racismo, de forma que o perfilamento racial vem acompanhado de uma ideia já formada na sociedade. O curso aborda de maneira histórica como se chegou a esses indicativos apontados pelos altos índices de violência praticados contra a comunidade negra”, explicou o instrutor.

Mudanças

Sendo um ativista social que atua há décadas com a comunidade negra, o instrutor percebe a mudança de postura e de pensamento dos guardas municipais que cursaram, ou que estão cursando, a disciplina e o curso, em sua atuação no dia a dia.

Episódios na Guarda Municipal de Manaus

veiculou noticiou ação da Guarda Municipal de Manaus ao submeter 20 skatistas ao constrangimento público, por meio de revista de forma indiscriminada e sob a mira de armas de fogo. Vídeos mostraram os jovens perfilados com as mãos na cabeça, enquanto eram revistados diante do público.

A Semseg, na época, informou que a revista aconteceu após denúncias de que os jovens usavam entorpecentes na pista de skate. Nada de ilegal foi encontrado com os skatistas e ninguém foi preso. A pasta negou qualquer ação abusiva por parte da Guarda Municipal.

O curso representa um avanço na formação da Guarda Municipal. A proposta busca ampliar a compreensão dos agentes sobre as dinâmicas sociais e promover uma atuação mais empática e livre de estereótipos, contribuindo para coibir práticas discriminatórias e situações de violência institucional, como as que atingem, historicamente, jovens negros e moradores das periferias.

“A expectativa é que comecemos a ter guardas municipais que te olhem de uma forma respeitosa, não te vendo como um suspeito”, reconheceu o instrutor.

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