De acordo com o professor e médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, fundador e ex-presidente da Anvisa, a quantidade necessária de mortes para a imunidade coletiva no Brasil seria muito maior que os 411 mil óbitos que o Brasil já atingiu.
Para o médico, no momento atual da pandemia, é preciso investir no combo vacina, máscara e distanciamento social. Nem quando a imunização dos grupos prioritários e dos adultos estiver concluída, o país estará livre da doença.
“Terminar a vacinação não é o mesmo que terminar a pandemia”, pontua. “Primeiro, tem de vacinar a população com menos de 18 anos – que são 50 a 60 milhões de pessoas. E tem também a questão das variantes: se começarem a surgir variantes muito diferentes, podemos ter uma ‘enésima’ onda.”
Na quinta-feira passada (29), chegou ao país a primeira remessa de doses da vacina produzida pela Pfizer em parceria com a BioNTech. São 1 milhão de unidades que fazem parte do acordo assinado pelo Ministério da Saúde com a fabricante. Outras 99 milhões de doses devem chegar até o fim do ano.
O produto será enviado às 27 capitais do país. Diferentemente dos outros imunizantes em uso no Brasil, que podem ser mantidos entre 2°C e 8°C, a fórmula da Pfizer exige armazenamento a temperaturas entre -65°C e -80°C. Para dar conta da demanda, as autoridades da saúde têm recorrido a empréstimos de freezers de hospitais e universidades.
Vecina prevê problemas justamente em relação à estocagem da substância. “Essa vacina deve ser conservada em gelo seco. Fabricar gelo seco não é como fazer gelo. Não sei dizer se todas as capitais têm fábrica de gelo seco. E aí, como vamos fazer? Importar? Trazer de avião? Do Alasca?”, questiona. Ele até aposta em quais serão as próximas manchetes de jornal: “Escassez de gelo seco piora crise sanitária no Brasil”.